Morre Francisco, o papa de hábitos simples que lutou para mudar a Igreja
Pontífice tinha 88 anos e morreu em casa, na Cidade do Vaticano. A causa da morte será divulgada à tarde. Francisco foi o primeiro papa latino-americano e deixa legado de tolerância e diálogo.
O papa Francisco, líder da Igreja Católica por quase 12 anos, morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, às 2h35 no horário de Brasília (7h35 no horário local). O Vaticano confirmou o falecimento, ocorrido na residência de Santa Marta, onde o pontífice vivia desde 2013. Ele se recuperava de uma pneumonia bilateral e estava sob cuidados médicos desde que teve alta hospitalar em março. A causa oficial da morte será divulgada ainda nesta tarde.
Nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, na Argentina, Francisco entrou para a história como o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta no cargo e o primeiro a adotar o nome em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo da humildade e da luta pelos pobres.
Legado de diálogo e transformação
Eleito em 2013 após a renúncia de Bento XVI, Francisco assumiu o papado em um momento delicado para a Igreja Católica. Desde então, sua atuação foi marcada por esforços de modernização, com foco na inclusão social, combate à pobreza e tolerância religiosa.
Francisco ficou conhecido por discursos corajosos e por quebrar protocolos – como quando recebeu pessoas trans no Vaticano ou autorizou bênçãos a casais do mesmo sexo. Reformou estruturas internas do Vaticano, enfrentou críticas de alas conservadoras e buscou dar maior espaço às mulheres na hierarquia eclesiástica, ainda que sem permitir a ordenação feminina.
Sua postura crítica frente à desigualdade, às guerras e à crise migratória também marcou sua liderança. Durante a pandemia da Covid-19, emocionou o mundo ao rezar sozinho na Praça São Pedro, em Roma, em uma das imagens mais simbólicas de seu papado.
Últimos dias e cerimônias fúnebres
Francisco enfrentava problemas respiratórios desde fevereiro e passou 38 dias internado com pneumonia. Após receber alta, seguia em recuperação domiciliar. A piora do quadro foi considerada “complexa”, e ele não voltou a aparecer publicamente até sua morte.
O sino da Basílica de São Pedro tocou ao amanhecer desta segunda, marcando oficialmente o falecimento. Peregrinos e turistas que estavam no Vaticano reagiram com comoção e orações.
O corpo do papa será velado a partir da manhã de quarta-feira (23), na Basílica de São Pedro. Seu enterro está previsto para ocorrer na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — rompendo uma tradição vigente desde 1903, quando o papa Leão XIII também foi enterrado fora da Basílica de São Pedro.
As cerimônias incluem missa de sufrágio, presidida pelo cardeal Baldo Reina, e ritos privados de deposição do corpo conduzidos pelo camerlengo Kevin Farrell. O período de “sede vacante” já foi iniciado, e o Colégio dos Cardeais se reunirá nas próximas semanas para eleger o novo pontífice.
Uma vida de simplicidade e fé
Filho de imigrantes italianos, Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936. Foi técnico químico antes de ingressar no seminário e, posteriormente, na Companhia de Jesus. Ordenado sacerdote em 1969, passou por diferentes cargos até se tornar arcebispo de Buenos Aires em 1997 e cardeal em 2001.
Conhecido por sua humildade, optou por viver de maneira simples mesmo como papa: recusou o luxuoso Palácio Apostólico, usava sapatos comuns e se deslocava em veículos modestos. Gostava de futebol, especialmente do clube argentino San Lorenzo, e apreciava o tango, herança de sua juventude em Buenos Aires.
Um papa que desafiou limites
Francisco será lembrado como um reformador com coragem para enfrentar os próprios limites da Igreja. Ainda que sem alterar a doutrina em pontos como aborto e sacerdócio feminino, promoveu uma nova forma de evangelização, mais voltada ao acolhimento e à escuta do outro.
Seu papado foi um marco para fiéis do mundo inteiro e para não-crentes, que viam nele uma figura de empatia, humanidade e coragem.
“Olhou-o com misericórdia e o escolheu” — lema de seu pontificado.
A Igreja Católica entra agora em um novo período de transição. Mas o legado de Francisco permanecerá como símbolo de uma tentativa firme de aproximação entre fé e mundo contemporâneo.
Com informações e imagens de G1 e Vatican News.
