RITA LEE DEIXA LEGADO DE AMOR À NATUREZA E AOS ANIMAIS

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 Cantora que quebrou regras e sempre esteve à frente de seu tempo ocupa um espaço no coração e memória de muita gente, de todas as idades. E em sua trajetória, revelou um amor enorme por todos os animais – inclusive uma ursa, Rowena.

Rita Lee se foi ontem, aos 75 anos, depois de lutar, por dois anos, contra um câncer no pulmão. Fez tudo o que queria fazer e enfrentou cada adversidade de cabeça erguida e com bom humor.

Uma das maiores figuras da cultura brasileira, Rita quebrou regras, sempre esteve à frente de seu tempo, e ocupa um espaço lindo no coração e na memória de muita gente de todas as idades, não só devido à irreverência e à alegria que pautaram sua vida e ao vasto repertório musical que produziu (foram 40 álbuns, sendo seis com os Mutantes), mas, também, aos livros que escreveu.

Foram duas autobiografias: uma de 2016 (Rita Lee: uma Autobiografia), na qual contou diversos aspectos da vida da artista, ao longo de anos (o abuso sexual que sofreu quando menina e a expulsão dos Mutantes, estão entre os destaques) e Rita Lee: outra autobiografia, na qual relata seus últimos três anos em meio à pandemia da covid-19 e o diagnóstico de câncer), que será lançada em 22 de maio, sem Rita. 

GENTE DO FUTURO

Ela também escreveu uma coleção dedicada às crianças, com quatro livrinhos cujo protagonista é um ratinho ambientalista e pacifista, Dr. Alex, que luta pela natureza, pelos animais e pela igualdade.

O personagem foi inspirado em seu animal de estimação, que já era herói de histórias que ela contava para os filhos. “Na hora de ir para a cama, eu inventava historinhas sobre as aventuras de Alex. Isso foi nos anos 1980. Foi daí que pensei em escrever livrinhos para outras crianças também curtirem o mundo do ratinho”.  

O primeiro foi publicado em 1986 e ela o apresenta assim: “Uma vez, adotei um ratinho lindo. Papo vai, papo vem, ele me contou toda a sua história. E me disse que já havia sido gente! E mais: que se transformou em um rato para defender os bichos e a natureza. Gostei tanto que vou contar para vocês as aventuras de Alex”. 

Em seguida, vieram Dr. Alex e os Reis de Angra (1988), que conta a história de malvados que querem acabar com a natureza, construindo usinas nucleares; Dr. Alex e a Amazônia (1990), no qual o ratinho combate os malvados que querem destruir a Amazônia e os bichos e os indígenas que nela vivem; e Dr. Alex e o Oráculo de Quartz (1992), que, na versão de 2020 ganhou outro título – Dr. Alex e o Phantom – e conta a aventura do ratinho em busca de um cristal mágico e que apresenta um novo personagem, a Vovó Ritinha (ela mesmo!).

“Escrever para crianças me dá o prazer de conversar com gente do futuro, gente que vai herdar nossa Nave Mãe Terra. Passo informações sobre os perigos pelos quais nosso planeta, especialmente no Brasil, está passando em relação à destruição e o desrespeito à natureza”, contou ao jornal Extra em 2020. 

A reedição certamente se deveu à atualidade dos temas, reforçada pela pandemia que assolava o mundo. Para o relançamento, Rita contou que “revisitou” os textos, que ganharam novas ilustrações. E revelou, na ocasião, que recebia “vídeos, cartinhas e desenhos de crianças que leram e adoram as histórias de Alex”.

O AMOR POR UMA URSA

Ainda para as crianças, Rita falou de um tema bem espinhoso – o tráfico de animais –, ao contar a história comovente (e verídica) da ursa Rowena (2019), que foi tirada de sua mãe ainda filhote e viveu 30 anos de maus-tratos em circos, também no Brasil, até ser transferida para um santuário, onde morreu um ano depois. 

Rita Lee visitou-a no santuário e, apesar de a ursa ter sido agredida a vida toda, não se incomodou com sua presença. “Eu entrei no espaço dela e fiquei com vontade de beijá-la, abraçá-la”, relatou (assista ao vídeo desse encontro pelo link https://youtu.be/CPxO00lvrPI  

CANNABIS MEDICINAL, A ÚLTIMA BANDEIRA

Em 2017, a Abrace Esperança (Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança), com sede em João Pessoa, Paraíba, obteve liminar do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) para cultivar, manipular, produzir e vender óleos terapêuticos de Cannabis medicinal, que atendem milhares de pacientes em todo o Brasil. 

Mas, em fevereiro de 2021, a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária entrou com uma ação na Justiça para suspensão da liminar, alegando que a associação estava produzindo em escala industrial e, portanto, descumprindo o que determinava a liminar.  

Caso esse pedido fosse atendido – não foi! -, cerca de 14 mil famílias que se beneficiavam da produção da Abrace seriam impactadas. Entre essas pessoas estava Rita Lee, que lutava contra o câncer e tratava de escoliose com esse remédio natural, defendendo essa causa abertamente. 

Diante de tal ameaça, apoiou a campanha realizada pela associação da qual era filiada: ‘Abrace não pode parar!’. E declarou, na ocasião:

“A Cannabis é uma planta sagrada, cujos benefícios em forma de óleo são mundialmente comprovados em ajudar e até curar vários tipos de doenças como a epilepsia, efeitos da quimioterapia, artrites, artroses e problemas de coluna entre outros sofrimentos pelos quais incalculáveis pessoas passam, sem que existam medicamentos alopáticos, farmacêuticos capazes de solucionar”. 

“Depois que passar a usar o óleo, minha escoliose galopante, cessou e voltei a andar normalmente sem qualquer dor. O óleo de cannabis não tem nada a haver com fins recreativos. É um remédio natural, que ajuda milhões de pessoas, a levarem uma vida com mais esperança”.

 

Hoje, a Abrace lamentou o falecimento de Rita, em seu Instagram, dizendo que seu apoio à campanha #abracenaopodeparar foi fundamental. “Reiteramos nosso infinito agradecimento pelo apoio ao nosso trabalho em um dos momentos mais difíceis na história da associação”. 

(Fontes: Conexão Planeta, Extra, 9 de maio de 2023, texto de   Mônica Nunes. Fotos: Reprodução do Instagram/Divulgação)

 

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