Dia Mundial da Limpeza Urbana: resíduos urbanos são fonte de energia para a indústria do cimento

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O setor é um dos segmentos com maior potencial para operar com grandes volumes de lixo urbano não reciclável, por meio de tecnologias como o coprocessamento

 

Celebrado em 27 de agosto, o Dia Mundial da Limpeza Urbana reforça a conscientização da sociedade para o descarte correto do lixo. Em um país que só em 2022 produziu 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos e reciclou apenas 4%, a busca por soluções para reduzir o volume depositado nos aterros sanitários e os impactos causados ao meio ambiente é fundamental.

A indústria do cimento exerce papel importante em relação à destinação dos resíduos urbanos não passíveis de reciclagem e são utilizados como fonte de energia térmica para a produção do cimento. 

Esse processo, chamado de coprocessamento evita, que estes resíduos sejam dispostos em aterro, contribuindo com a redução das emissões de COda indústria, bem como do metano emitido no aterro, que é cerca de 25 vezes superior à do CO2,.

O setor cimenteiro pode contribuir no aumento da vida útil dos aterros sanitários e industriais e, principalmente, com as metas públicas de eliminação de lixões e aterros controlados, os quais ainda representam cerca de 40% da destinação dos resíduos gerados no país. “A indústria colabora com o progresso dos níveis de reciclagem, com a recuperação de áreas contaminadas, além da redução de emissão do gás metano. Com a tecnologia de coprocessamento, atuamos na redução das emissões de CO2, através do uso de diversas tipologias de resíduos, sendo a mais recente pela utilização do CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Urbanos) em substituição ao coque de petróleo – combustível fóssil utilizado no processo de fabricação de cimento” explica o presidente da Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP, Paulo Camillo Penna.
 De acordo com o dirigente, investimentos na ordem de R 3.5 bilhões estão previstos até 2030, compreendendo a implantação das unidades de preparo do Combustível Derivado de Resíduos Urbanos (CDRU) e adequação das fábricas de cimento. 

“Este montante será suficiente para atingir o patamar de aproximadamente 2.5 milhões de toneladas de CDRU anualmente. Para melhor compreensão do impacto ambiental, tal volume, que corresponde a cerca de 300 mil caminhões compactadores, que não serão mais descarregados em aterro”, ilustra o presidente.
 

Os principais exemplos de resíduos coprocessados pela indústria do cimento são os resíduos industriais; pneus usados; resíduos da agroindústria (como palha de arroz, casca de babaçu e caroço de açaí), e mais recentemente os Resíduos Sólidos Urbanos – fração não reciclável.

 

A atividade atende as mais altas exigências ambientais e é devidamente regulada pela nova Resolução CONAMA de Coprocessamento de Resíduos em Fornos de Cimento – Nº 499/2020. “Essa normativa substitui a primeira versão que estava em vigor há mais de 20 anos. Com isso, foram atualizadas as definições e parâmetros de emissão com base nas mais modernas Normas Europeias e Internacionais. Ao mesmo tempo, foi também inserido o conceito de Resíduo Sólido Urbano e formas de tratamento térmico destes resíduos, bem como de medicamentos vencidos ou fora de especificação, dentre inúmeros outros”, enfatiza Paulo Camillo.

Segundo ele, desde os anos 2000, as fábricas de cimento têm desempenhado papel importante na economia circular, já que mais de 20 milhões de toneladas de resíduos foram destinados adequadamente e utilizados como fonte energética renovável em substituição ao combustível fóssil, tradicionalmente utilizado na fabricação do cimento.
 

“Os resultados são expressivos ao se avaliar que o percentual de utilização de combustíveis alternativos dentro da matriz energética do setor saltou de 9% para 26%, nos últimos 20 anos. Em termos absolutos, de 300 mil toneladas em 2000 para 2.5 milhões de toneladas de resíduos em 2021”, ressalta o presidente.


Esforços como esses levaram o Brasil a se tornar uma referência mundial como um dos países que emite a menor quantidade de CO2 por tonelada de cimento produzida no mundo. “No entanto, para avançar ainda mais é necessário ampliar as discussões para que a destinação ambientalmente mais adequada ocorra na cadeia produtiva como um todo, com soluções integradas e disruptivas que atendam a economia circular”, finaliza o dirigente.

 

Acordo de cooperação no Paraná

A capital paranaense Curitiba está mais próxima de reduzir o problema ambiental dos aterros sanitários. Isso porque, parte do lixo produzido na cidade já é usado na produção do CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Urbanos).
 O material utilizado vem do rejeito da separação de recicláveis dos barracões das cooperativas de reciclagem – o que resta da triagem e que não tem viabilidade para ser reciclado e vendido. Com essa iniciativa, Curitiba aproveita 150 toneladas por mês de material que iria para aterros e que não tem serventia para os catadores, mas que pode ser usada pela indústria do cimento como combustível.
 O projeto faz parte do compromisso assumido pelas cimenteiras instaladas na Região Metropolitana de Curitiba com a Prefeitura do município e o Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (Conresol).
 O Consórcio é responsável pela implementação do projeto em sua região de atuação, composta por 24 municípios. Com investimentos privados que podem chegar a R 500 milhões, o projeto prevê a adequação das fábricas de cimento e a construção de unidades de preparo do CDRU. Além disso, a iniciativa tem potencial para gerar cerca de 400 novos postos de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento econômico da região.

As três fábricas de cimento instaladas na região possuem capacidade para consumir anualmente cerca de 200 mil a 300 mil toneladas de CDRU. Importante ainda ressaltar a parceria atual entre a indústria do cimento e as cooperativas de reciclagem e catadores da região.
 

Graças a essa colaboração, os rejeitos gerados pelas cooperativas de reciclagem e catadores, que antes eram simplesmente descartados em aterros sanitários, agora são destinados às fábricas de cimento, reduzindo os custos de descarte e promovendo a economia circular. Essa prática não apenas traz benefícios para a indústria, como também contribui para a inclusão social e a preservação do meio ambiente.