BUGIOS ESTÃO SENDO DEVOLVIDOS AO SEU HABITAT NATURAL

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Animais foram tratados e mantidos em cativeiro até que fosse seguro reintroduzi-los; ação havia sido suspensa pelo surto de febre amarela de 2017, que representava risco aos animais. Agora imunizados, os primatas voltam ao seu habitat natural

 A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) atuam em conjunto para realizar a reintrodução de um grupo de bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) imunizados contra o vírus da Febre Amarela. 

A ação teve início em fevereiro, em uma Unidade de Conservação (UC) estadual com extensa área de mata tropical. Por razões de segurança, o local exato está sendo preservado.

 A reintrodução dos bugios pelo Programa de Manejo Populacional (PMP) – que resgata e trata a espécie -, tinha sido paralisada em 2017 devido a um surto de febre amarela no Estado, o que representava um risco a esses animais. 

Os bugios, que não transmitem a doença para os seres humanos, são considerados sensíveis ao vírus, por isso muitos deles morrem quando infectados. 

Por esse motivo, os primatas foram tratados e mantidos em cativeiro até que fosse seguro reintroduzi-los. A ação de soltura, que conta com o apoio da Fundação Florestal (FF), acontece por iniciativa da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo (SVMA), que manteve e vacinou os animais desde o resgate.

Vale ressaltar que no estado, atualmente, essa população é considerada ameaçada de extinção nas Unidades de Conservação. 

Como exemplo, em 2022, um levantamento do Programa de Monitoramento da Biodiversidade (PMB), da FF, estimou que a densidade populacional da espécie no Parque Estadual da Cantareira, na época, era de apenas um grupo formado com três indivíduos avistados no Núcleo Cabuçu, em Guarulhos. Não há informações sobre avistamentos posteriores que confirmem a situação atual do grupo. Antes de 2017, porém, a espécie era vista em abundância.

 “As medidas de cooperação, preservação e reintrodução para que esses bugios voltem ao habitat natural com segurança é muito representativa”, explica a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Natália Resende. “O monitoramento deles, que, inclusive, conta com indivíduos em fase reprodutiva, auxilia na recomposição populacional da espécie em São Paulo e, com isso, na manutenção da floresta a longo prazo e dos serviços ecossistêmicos, acrescenta.

Desde o impedimento de soltura pelo surto da febre amarela, os animais foram mantidos no Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres (CeMaCAS), sob responsabilidade da Divisão de Fauna Silvestre (DFS), instituição pública vinculada à SVMA.

 Os primatas deram entrada no programa após serem resgatados por diferentes motivos, desde ferimentos por eletrocussão a ataques por cães, atropelamento e orfandade. Após isso, foram tratados e vacinados, o que possibilitou, inclusive, o nascimento de cinco filhotes de bugios-ruivos em cativeiro.

Para que esta ação de reintrodução seja bem-sucedida, as equipes utilizam diferentes protocolos metodológicos e sanitários, como os estabelecidos pelo Comitê do Programa de Manejo Populacional do Alouatta guariba, do ICMBio. O projeto também se baseia na experiência do trabalho realizado em conjunto pelo Centro de Primatologia do Rio de Janeiro com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado em 2020, que vacinou e reintroduziu animais no Parque Nacional da Tijuca.

Na reintrodução atual, composta por cinco indivíduos, foi ambientado em um recinto de aclimatação por nove dias, no meio da mata, desde o dia 19 de fevereiro. Após essa habituação, foi realizada a soltura no último dia 28, onde os bugios passaram a viver em liberdade. Os animais são monitorados por rádio colares com GPS, que fica na fêmea, e pelo acompanhamento visual constante realizado pela equipe técnica envolvida na ação.

SOBRE O BUGIO-RUIVO

Os bugios-ruivos (Alouatta guariba clamitans) são primatas nativos da Mata Atlântica e uma das 25 espécies mais ameaçadas do mundo (Primate in Peril, 2022-2023).

 O corpo do bugio mede entre 44 e 69 cm, porém, se for considerada a cauda, pode chegar a 79 cm. O seu peso pode atingir nove quilos, sendo que os machos são maiores do que as fêmeas. A pelagem possui a cor avermelhada-alaranjada, com tonalidade mais clara nos pés e nas mãos, mas que muda conforme a idade. 

Emitem vocalizações que podem alcançar longas distâncias como mecanismo de manutenção do espaçamento entre os grupos e sua organização. Possuem cauda preênsil (capaz de se agarrar aos galhos e outros apoios), com musculatura desenvolvida de grande sensibilidade que auxilia no equilíbrio e no hábito de se pendurar na copa das árvores. 

Apresentam ainda uma adaptação nos membros anteriores, chamada de esquizo dactilia (dedos médios afastados), que também facilita sua locomoção. São animais folívoros, ou seja, se alimentam principalmente de folhas e flores, embora também comam frutos, sementes e brotos.

(Foto: SEMIL)