MORRE LADY, ELEFANTA QUE VIVEU 40 ANOS EM CIRCO

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Amor e dignidade lhe foram dados quando foi resgatadahá pouco mais de quatro anos, foi levada para o Santuário de Elefantes do Brasil, deixando 36 anos de vida em circos e zoológicos – mas sua saúde já era precária por doença nas articulações. 

“Planejamos colocá-la para descansar fora das cercas do habitat, porque Lady estava sempre olhando para ver o que havia além da próxima colina, vale ou clareira gramada. Queremos homenagear a parte dela que queria uma vida que não a contivesse. Agora, seu corpo e seu espírito sabem exatamente isso”. 

Foi dessa maneira linda e delicada que o Santuário de Elefantes Brasil (SEB) compartilhou a morte de Lady. A elefanta, que tinha aproximadamente 52 anos, partiu na noite de quarta-feira, 15/05.

Lady chegou ao santuário, localizado na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, em novembro de 2019. Praticamente durante sua vida inteira ele viveu em cativeiro. Foram 40 anos em circos e seis em um zoológico.

Em 2013, Lady foi resgatada do Circo Europeu Internacional pelo Ibama do Rio Grande do Norte e enviada para o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, mais conhecido como Bica, em João Pessoa (PB), onde era mantida em condições precárias.

Após uma longa negociação, há pouco mais de quatro anos, a justiça determinou que a elefanta asiática fosse transferida o SEB. Além da idade avançada, ela tinha uma doença nas articulações provocada provavelmente por sérios problemas nas patas.

Ao longo dos últimos anos, Lady foi cuidada com muito amor e dignidade e teve a companhia de outras moradoras do santuário. Todavia, há seis meses seu quadro de saúde começou a deteriorar até que esta semana, a elefanta não se levantava mais e decidiu-se pela eutanásia.

“Uma das coisas que dizemos a todos os nossos elefantes é: vocês lutam, nós lutamos. Trabalharemos sempre para ajudar um elefante que ainda se esforça para viver. Oferecemos água para Lady, água de coco e Gatorade, mas ela simplesmente colocava na tromba e cuspia. Ela não estava muito interessada em comida, e quando lhe dávamos alguma coisa para comer, na maioria das vezes ela apenas segurava na boca até adormecer, e então a comida simplesmente caía”, relatou a equipe do santuário, que continuou.

“Parte da autonomia consiste em dar a cada elefante a capacidade de decidir não continuar. As únicas razões para não respeitarmos o que Lady parecia nos dizer seriam egoístas. Por mais difícil que seja a constatação, todos sabíamos que esse problema não iria desaparecer. Mesmo que ela magicamente decidisse se levantar, estaríamos no mesmo lugar que ela em uma semana, um mês ou possivelmente em mais algumas horas. Consultamos especialistas de todo o mundo sobre seus cuidados e tratamentos, desde zoológicos a santuários e instalações humanas e equinas; tentamos medicina tradicional, terapias complementares como laserterapia, homeopatia, trabalho energético, qualquer coisa para encontrar um remédio não prejudicial que pudesse lhe proporcionar algum alívio, mas sempre com sucesso limitado. Ainda assim, foram essas coisas que lhe deram quatro anos no santuário, quando inicialmente pensamos que ela não duraria nem um”.

A morte de Lady deixa uma profunda tristeza entre os cuidadores que trabalharam ao lado dela nesses últimos anos, mas a certeza de que, pelo menos durante este período, ela recebeu respeito e consideração.

“Sua força e determinação e sua necessidade de conexão emocional com seus tratadores fizeram dela uma grande professora para todos nós. Ela sempre parecia saber o que queria e parecia a todos nós que ela estava pronta para se libertar da dor com a qual conviveu por tanto tempo. Ela era diferente de qualquer elefante que já encontramos e não esperamos ver outro como ela em nossa vida”, escreveram eles sobre Lady.

O Santuário de Elefantes Brasil é o sexto do mundo e primeiro da América Latina. É fruto da parceria de duas organizações internacionais – a Global Sanctuary for Elephants (GSE), do Tenessee, nos Estados Unidos, e a ElephantVoices – ambas dirigidas por renomados especialistas.

A iniciativa se deve também à paixão por elefantes de uma brasileira, Junia Machado. Ela representa a ElephantVoices no Brasil e para tocar o projeto se uniu à Scott Blaiss – que tem mais de 20 anos de experiência no manejo de elefantes africanos e asiáticos em zoos, circos e em santuários, e é o fundador da GSE.

O santuário não é aberto ao público, pois não é um zoológico. Ele tem como única missão proteger, resgatar e prover um ambiente natural e seguro para elefantes em cativeiro.

(Conexão Planeta – Suzana Camargo – 18/5/24 – Fotos: reprodução Facebook Santuário de Elefantes Brasil)