“CAÇADAS DE PEDRINHO”: STJ JULGARÁ RACISMO EM OBRA DE MONTEIRO LOBATO

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Após STF entender que não tinha competência para a matéria, autos foram enviados ao STJ.

A 1ª seção do STJ deve apreciar se há racismo na obra “Caçadas de Pedrinho”, do escritor Monteiro Lobato. Em 2020, o STF entendeu que não tinha competência para a matéria e acolheu embargos declaratórios para determinar a remessa dos autos ao STJ.

O caso está concluso para julgamento desde setembro de 2023 e, na última quinta-feira, 13, foi recebido na 1ª seção, ainda sem data de julgamento.

O CASO

Em 2010, o CNE – Conselho Nacional de Educação determinou que os livros não fossem mais distribuídos às escolas públicas. 

Para justificar a proibição, o conselho destacou trechos da obra. Um deles diz: “É guerra e das boas. Não vai escapar ninguém – nem Tia Anastácia, que tem carne preta”. Outro trecho da obra narra que “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão.”

Mesmo com a determinação, o ministério da Educação recomendou que o CNE reconsiderasse a decisão. Houve a anulação do veto, mas o Conselho indicou que as próximas edições do livro viessem acompanhadas de uma nota técnica que instruísse o professor a contextualizar a obra ao momento histórico em que ela foi escrita.

O caso chegou ao Supremo em 2011 por meio de um mandado de segurança de autoria do Iara – Instituto de Advocacia Racial e do técnico em gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto. Ambos afirmaram que a obra de Monteiro Lobato possui “elementos racistas”.

No STF, os autores disseram que “não há como se alegar liberdade de expressão em relação ao tema, quando da leitura da obra se faz referências ao ‘negro’ com estereótipos fortemente carregados de elementos racistas”.

AUDIÊNCIA E DECISÕES

Em setembro de 2012, foi realizada uma audiência de conciliação, convocada pelo ministro Fux, com representantes do ministério da Educação e do Iara. A audiência, no entanto, terminou sem acordo.

Em outubro do mesmo ano, o ministro Fux deferiu o ingresso, como assistentes, de Joyce Campos Kornbluh e Jerzi Mateusz Kornbluh, herdeiros do escritor Monteiro Lobato.  À época, Fux levou em conta a qualidade de herdeiros e de detentores dos direitos autorais da obra de Lobato.

Anos mais tarde, em 2014, Fux negou seguimento ao MS. Para ele, o STF não tem competência para apreciar mandado de segurança impetrado contra o ato do então ministro da Educação, que homologou parecer do Conselho Nacional de Educação pela liberação do livro, sem nota explicativa sobre racismo. Veja a decisão de Fux clicando em art20150203-03.pdf (migalhas.com.br)

Diante da decisão, foram interpostos agravos regimentais, que seriam julgados em 2017, se não tivessem sido retirados da pauta. Em maio, Toffoli determinou novamente a inclusão do processo na pauta. O Tribunal, por unanimidade, negou provimento.

Em 2020, em julgamento no plenário virtual sob relatoria do ministro Toffoli, a 1ª turma reconheceu que se omitiu ao não determinar a remessa do feito à Corte competente, no caso, o STJ.  Segundo voto do relator, a omissão colocaria “em risco o direito de ação dos embargantes”. Assim, para sanar a omissão, determinou a remessa imediata dos autos ao STJ.

Agora, o caso está pendente de julgamento na 1ª seção do Tribunal da Cidadania.

Processo: MS 27.818

A OBRA

“Caçadas de Pedrinho” é um livro infantil escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1933. A trama começa com a descoberta do Marquês de Rabicó: uma onça está rondando as redondezas do Sítio do Picapau Amarelo. 

Determinados a capturar a fera, Pedrinho e Narizinho organizam uma expedição, sem informar Dona Benta ou Tia Nastácia, que certamente se oporiam à aventura. Durante a caçada, eles encontram Quindim, um rinoceronte falante, e decidem levá-lo para viver no sítio. Nesta aventura, somos apresentados à menina Cléo, inspirada na filha de um amigo e sócio de Monteiro Lobato.

O livro “Caçadas de Pedrinho” teve origem em “A Caçada da Onça”, escrito por Monteiro Lobato em 1924. Posteriormente, o autor ampliou a história, resultando no título que conhecemos hoje. O capítulo “O assalto das onças” sugere que a história ocorre antes do conto “Cara de Coruja”, enquanto “Emília vende o rinoceronte” indica que se passa após o conto “Pó de Pirlimpimpim”, de “Reinações de Narizinho”.

(Da redação, com conteúdo e foto de https://www.migalhas.com.br/quentes/409516/cacadas-de-pedrinho–stj-julgara-racismo-em-obra-de-monteiro-lobato)