Dez álbuns da MPB que completam 50 anos em 2024; confira aqui

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Novabrasil apresenta grandes discos da música brasileira que celebram cinco décadas neste ano. ‘Elis & Tom’ é um desses trabalhos; confira aqui

Lívia Nolla 

Neste ano de 2024, muitos discos antológicos da nossa MPB estão completando 50 anos de seu lançamento.

Nós já falamos especificamente de Canta, Canta, Minha Gente, de Martinho da Vila, e Tábua da Esmeralda, de Jorge Ben Jor, que também completa 50 anos neste ano, nestas matérias especiais por Lucas Nóbile.

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E, hoje, nós trouxemos para vocês uma lista com mais 10 grandes álbuns da Música Popular Brasileira que estão se tornando cinquentões em 2024, portanto, foram todos lançados no produtivo ano de 1974.

Aproveitem!

1 – Elis & Tom – Elis Regina e Tom Jobim

Elis & Tom é um álbum colaborativo entre dois dos maiores artistas da música brasileira de todos os tempos: Elis Regina Antonio Carlos Jobim, lançado em agosto de 1974 pela gravadora Polygram

As gravações foram realizadas entre fevereiro e março do mesmo ano, no MGM Studios de Los Angeles, na Califórnia – onde Tom morava – e o disco conta com arranjos de César Camargo Mariano, pianista e então marido de Elis, que inovou utilizando instrumentos elétricos (piano e guitarra) na Bossa Nova. 

A cantora, que estava celebrando seus 10 anos de contrato com a gravadora, interpreta diversos clássicos da Bossa Nova – movimento que Tom Jobim ajudou a criar – às vezes em dueto com Tom, que em outros momentos apenas a acompanha no violão ou no piano.

Entre os sucessos do álbum, está o antológico dueto de Águas de Março, além de Corcovado – ambas composições de Tom Jobim – Só Tinha de Ser com Você (de Tom e Aloísio Oliveira), Retrato em Branco e Preto (de Tom e Chico Buarque) e Modinha (Tom e Vinicius de Moraes, única canção do disco a ser totalmente arranjada por Tom Jobim).

Elis & Tom foi um sucesso de vendas (tornou-se um dos álbuns brasileiros mais vendidos de todos os tempos) e de crítica, e continua sendo aclamado até os dias de hoje por músicos e críticos no mundo inteiro, considerado um dos melhores discos da história da MPB. Águas de Março também é considerada uma das mais importantes músicas brasileiras de todos os tempos.

Além disso, outro grande legado do disco foi a aproximação entre a geração de Tom, que modernizou a canção brasileira com a bossa nova nos anos 50, com a geração de Elis, que surgiu da popularidade dos programas de televisão e festivais da canção popular dos anos 60.

2 – Lóki? – Arnaldo Baptista

Lóki? é o primeiro álbum solo de Arnaldo Baptista, depois da sua saída da banda Os Mutantes, da qual fazia parte desde 1966, ao lado de seu irmão Sérgio Dias e de Rita Lee, que saiu da banda em 1972, expulsa por Arnaldo.

Produzido por Roberto Menescal e Marco Mazzola e com arranjos de orquestra de Rogério Duprat, o álbum

Apesar de sua importância musical ter sido reconhecida pela crítica especializada – Lóki? é considerado um dos discos mais importantes do rock brasileiro por alguns críticos – na época do lançamento, em 1974, teve pouco sucesso de público e baixa vendagem. 

Arnaldo vivia um recesso depressivo em um sítio em São Paulo e conseguiu fazer o disco a partir de uma iniciativa da gravadora Polygram que, apesar de considerar incerto o sucesso da obra, apostou em lançá-la por considerar Baptista um artista criativo.

A enorme gama de estruturas melódicas e harmônicas explorada ao longo das faixas mostra influências da Bossa Nova (em Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?); do Rock (em Será que Eu Vou Virar Bolor?); e do Jazz (em Honky Tonky).

A obra passou a ser tida como relevante na história da música brasileira a partir dos anos 90, na esteira do reconhecimento de Os Mutantes por figuras da música pop internacional, como Kurt Cobain e Sean Lennon, filho de John Lennon.

Este disco inspirou o título do principal documentário biográfico do autor, Loki – Arnaldo Baptista, lançado em 2008, que conta a história do cantor, multi-instrumentista, compositor, escritor e artista visual paulistano.

3 – Cartola – Cartola

Cartola é o álbum de estreia de Angenor de Oliveira – o grande e incomparável Cartola – lançado pela gravadora Marcus Pereira, quando o cantor, compositor e instrumentista carioca tinha 66 anos, apenas seis anos antes de seu falecimento. 

Entre as 12 canções do disco – todas de sua autoria e algumas com parceiros – estão alguns dos maiores clássicos de Cartola e da história da música popular brasileira, como: Alvorada (parceria com Carlos Cachaça Hermínio B. de Carvalho), O Sol Nascerá (A Sorrir) (parceria com Elton Medeiros),  Tive Sim e Alegria.

Cartola, de 1974, é o primeiro dos quatro discos da carreira de Cartola, um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, que foi um dos fundadores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, em 1928, e é considerado – por diversos músicos e críticos – como o maior sambista da história.

Antes deste álbum solo – além de sambas-enredo para a Mangueira – suas composições se popularizaram na década de 1930 nas vozes ilustres de: Aracy de Almeida; Carmen Miranda; Francisco Alves; Mário Reis; e Sílvio Caldas.

4 – Cantar – Gal Costa

Cantar é o quinto álbum de estúdio da carreira solo da cantora baiana Gal Costa, lançado em agosto de 1974, ao mesmo tempo em que Gal estreava um show de mesmo nome, dirigido por Caetano Veloso.

Produzido por Caetano Perinho Albuquerque, o disco traz canções inesquecíveis na voz divinal de Gal Costa, como Lágrimas Negras (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina), Barato Total (de Gilberto Gil), A Rã (de Caetano Veloso João Donato).

Gal Costa vinha de uma fase de trabalhos muito fortes e significativos, como o antológico ao vivo Fa-Tal – Gal a Todo Vapor e o disco anterior de estúdio, Índia, que foram grandes sucessos de público e crítica.

Como não tinha o mesmo perfil desses trabalhos anteriores – pelo contrário, era um trabalho mais suave, com bastante influência da Bossa Nova, retornando as raízes da cantora baiana – Cantar não fez tanto sucesso com o público fiel de Gal, acostumado com a sua fase mais explosiva de “Musa da Tropicália”. 

No entanto, o álbum foi muito bem recebido pela crítica especializada, e é considerado um dos clássicos da música popular brasileira.

5 – Gita – Raul Seixas

Gita é o terceiro álbum solo do cantor, compositor, instrumentista e produtor musical baiano Raul Seixas.

Gravado na Philips e lançado em 1974, é o álbum de maior sucesso da carreira de Raul, com 600 mil cópias vendidas, rendendo ao roqueiro baiano o seu primeiro disco de ouro.

A capa do disco traz Raul Seixas – recém-chegado do exílio forçado nos Estados Unidos por conta da perseguição da ditadura militar – vestido de guerrilheiro, com uma guitarra vermelha.

Gita traz alguns dos maiores sucessos da carreira de Raul – e também da história da música brasileira – como os clássicos: Gita (inspirado num livro sagrado hindu com mais de 6.000 anos, o Bhagavad Gita)Sociedade Alternativa (inspirada na obra de Aleister Crowley) e Medo da Chuva, todas elas em parceria com Paulo Coelho, parceiro constante do nosso eterno Maluco Beleza na época. 

Além de canções que contam apenas a sua autoria de Raul Seixas, como O Trem das 7 e S.O.S.

6 – Secos & Molhados – Secos & Molhados

Secos & Molhados, também conhecido como Secos & Molhados II, é o segundo disco de estúdio do grupo Secos & Molhados, formado por João Ricardo (vocais, violão e harmônica), Ney Matogrosso (vocais) e Gérson Conrad (vocais e violão).

O álbum continua na mesma linha do antológico disco antecessor, o álbum de estreia da banda, de 1973, mesclando diversos gêneros musicais, como o rock em suas vertentes progressivas e psicodélicas, e elementos da música popular brasileira. 

Os dois foram os únicos álbuns lançados pelos Secos & Molhados em sua formação original: a separação do grupo faria com que os integrantes se dedicassem à carreira solo no ano seguinte.

Com adaptações a partir de poemas de Julio Cortázar (Tercer Mundo), João Apolinário (Flores Astrais, Voo Angústia), Oswald de Andrade (O Hierofante) e Fernando Pessoa (Não: Não Digas Nada), todas as composições do álbum são assinadas por João Ricardo, sozinho ou com parceiros, com exceção de Delírio, de Gérson Conrad e Paulinho Mendonça.

7 – Adoniran Barbosa – Adoniran Barbosa

O álbum que leva o seu nome, em 1974, é o disco de estreia do grande Adoniran Barbosa, outro dos maiores nomes da história da música popular brasileira de todos os tempos.

Antes disso, o cantor e compositor paulistano havia gravado alguns compactos e sido ator e locutor de rádio, interpretando diversos personagens, além de sua composição Trem das Onze ter feito um sucesso retumbante quando gravada pelo grupo Demônios da Garoa.

No álbum de 1974, estão muitos dos maiores clássicos de Adoniran, e da história da MPB, muitos deles em que o sambista retrata o cotidiano das camadas pobres da população urbana e as mudanças causadas pelo progresso. Para isso, Adoniran Barbosa faz uso da maneira de falar dos moradores de origem italiana de alguns bairros paulistanos, como Barra Funda e Brás.

Entre esses clássicos: Trem das OnzeSaudosa Maloca (que o artista já havia lançado em compacto em 1955, junto com Samba do Arnesto, sua parceria com Alocin); IracemaBom dia, Tristeza (parceria com Vinicius de Moraes); As Mariposas; e Prova de Carinho (parceria com Hervé Cordovil).

Este foi o primeiro dos três LPs lançados por Adoniran Barbosa em vida. Os outros dois álbuns também levaram o seu nome e foram lançados em 1975 e 1980, este último, dois anos antes do artista falecer, trouxe convidados especiais dividindo os vocais com Adoniran, como: Elis Regina, Djavan, Clara Nunes e Clementina de Jesus.

8 – Atrás do Porto Tem Uma Cidade – Rita Lee & Tutti-Frutti

Atrás do Porto Tem uma Cidade é o terceiro álbum de estúdio de outro dos maiores nomes da nossa música: a cantora, compositora e escritora paulistana Rita Lee e o primeiro dela com a banda Tutti Frutti, que a acompanhou por mais três álbuns de estúdio e um ao vivo, até 1978.

Lançado em junho de 1974, o álbum veio na sequência de Build Up (1970), primeiro álbum solo de Rita, gravado quando ela ainda estava nos Mutantes, e Hoje É o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida (1972), que foi creditado apenas à Rita, mas é na verdade da banda toda, gravado pouco antes de Arnaldo Baptista expulsar a Mãe do Rock dos Mutantes, como ela mesma conta em sua Autobiografia.

Acompanhada pela banda Tutti Frutti, na época formada por Lucinha Turnbull (no vocal de apoio, guitarra e violão de 12 cordas); Luis Sérgio Carlini (guitarras) e Lee Marcucci (baixo), Rita é compositora de todas as faixas do álbum, algumas solo e outras em parceria com os membros da banda.

Com influências do rock e do hard rock, entre os maiores sucessos deste álbum, estão as clássicas Mamãe Natureza e Menino Bonito, ambas composições solo de Rita Lee.

9 – Molhado de Suor – Alceu Valença

Molhado de Suor é o primeiro álbum solo de Alceu Valença, misturando a tradição do frevo, maracatu e outras raízes musicais pernambucanas com o rock psicodélico. 

Alceu já havia trabalhado com seu conterrâneo Geraldo Azevedo em um disco em dupla chamado Quadrafônico, no ano de 1972, mas Molhado de Suor foi sua estreia em carreira solo, em um álbum onde apresenta letras mais contestadoras e repletas de metáforas. 

O disco traz arranjos de cordas e metais do grande maestro Waltel Branco, além da participação de nomes como Geraldo Azevedo, Lula Côrtes e outras figuras importantes da cena lisérgica nordestina. 

A versão original do álbum conta com a música Chutando Pedras. Com o sucesso do Festival Abertura, de 1975, no qual Alceu apresentou Vou Danado pra Catende, ao lado de Zé Ramalho, Lula Côrtes, Zé da Flauta e parte da banda Ave Sangria, foi feita uma segunda prensagem onde a gravadora trocou uma música pela outra. 

Outros sucessos do álbum, que conta com 10 composições solo do pernambucano, são: Dia Branco, Borboleta e Papagaio do Futuro.

10 – Alvorecer – Clara Nunes

O disco Alvorecer, de Clara Nunes e pela gravadora Odeon em 1974, é uma verdadeira obra-prima do samba. Ele consagrou de uma vez por todas a cantora mineira como uma estrela da música brasileira, sendo um marco na carreira de Clara, e um divisor de águas no mercado fonográfico brasileiro. 

Em uma época dominada por artistas masculinos nas paradas de sucesso, Clara Nunes rompeu barreiras e conquistou o topo das vendas com mais de 300 mil cópias, um feito nunca antes registrado no Brasil.

O disco reúne um repertório com canções de grandes nomes como Candeia, Dona Ivone Lara, Luiz Gonzaga, João Nogueira, Toquinho e Vinicius, e muitos outros, e é nesse álbum que Clara eterniza um dos seus maiores sucessos: Conto de Areia, samba de Romildo Bastos e Toninho Nascimento, que se tornou um hino atemporal brasileiro.

Outros grandes sucessos do álbum são as canções: Menino Deus (de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro); Meu Sapato Já Furou (de Mauro Duarte Elton Medeiros); e a faixa título (de Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara).

por Lívia Nolla

Dez álbuns da MPB que completam 50 anos em 2024; confira aqui – Novabrasil (novabrasilfm.com.br)