NASCIMENTO INÉDITO DE AVE CRITICAMENTE EM PERIGO DE EXTINÇÃO EMOCIONA

0
91

Primeiro filhote de uru-nordestino nasce no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, em um marco histórico para a preservação da ave ameaçada 

Em um momento inédito para a conservação da biodiversidade, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, celebra o nascimento do primeiro indivíduo de uru-nordestino (Odontophorus capueira plumbeicollis) nascido sob cuidados humanos no mundo. A pequena ave, que veio ao mundo com 12 gramas e  4,5 centímetros, ocorre na Mata Atlântica do Nordeste do Brasil e está classificada como Criticamente em Perigo de extinção na lista nacional de espécies ameaçadas.

O nascimento foi um marco na realização de um projeto meticulosamente estabelecido entre o Parque das Aves, a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), o Centro de Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE) e demais instituições dedicadas à conservação de espécies em risco de extinção. A história deste nascimento, que iniciou em 2020 com a realização de um workshop para estabelecer as primeiras ações de conservação para a espécie, ganhou novos capítulos em 2022 com a chegada dos seus pais ao Parque das Aves, e então ganhou novos aliados quando o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou o processo de estabelecer em 2024 um Programa de Manejo Populacional.

O uru-nordestino, exclusivo da Mata Atlântica (incluindo vestígios da Mata Atlântica dentro do bioma Caatinga) do Nordeste do Brasil, vem desaparecendo há vários anos. Considerada uma das aves mais raras do Brasil, o uru-nordestino, parente raro do uru-do-sudeste, enfrenta diversas ameaças em seu habitat natural, como a caça e o desmatamento. Além disso, a equipe da Aquasis suspeita que as aves sofram por ação de predadores nativos e invasores. Sem intervenções humanas bem planejadas para reverter o declínio populacional o uru-nordestino estava, então, fadada a desaparecer.

Um pequeno ovo repleto de esperança para uma ave ameaçada 

Desde a chegada dos pais ao Parque das Aves em 2022, cópulas e construções de ninhos já foram observados pela equipe técnica em diferentes ocasiões. 

Mas foi só na primeira quinzena de dezembro de 2024 que um único ovo foi descoberto pelo tratador logo no início da manhã. Em um ninho confeccionado pelo casal, em recinto fora da área de visitação, a fêmea seguiu sendo monitorada por câmeras para verificar possíveis novos ovos, já que os urus costumam ter posturas com até cinco ovos. Considerando o alto grau de ameaça, e uma possível inexperiência dos pais, após dois dias, a equipe técnica optou pela transferência do ovo para uma incubadora, na Sala de Neonatologia. Tal medida permitiu não só verificar se o ovo estaria fértil, bem como o monitoramento de todas as etapas de desenvolvimento do embrião que poderia vir a se desenvolver.

“Trazer esse ovo para os cuidados da equipe de Neonatologia foi uma decisão estratégica, e que já estava estabelecida inicialmente, pois além de aumentar as chances de nascimento do filhote, também nos permitiu criar um protocolo pioneiro para filhotes dessa ave tão ameaçada”, explica Bianca Fernandes, supervisora de manejo de neonatos do Parque das Aves.

A primeira etapa a ser vencida foi a constatação de que o ovo estava fértil, ou seja: o casal havia copulado e então uma nova vida começava a se desenvolver! Este momento singular foi amplamente comemorado pela equipe, mas ainda com cautela pois eles estavam cientes dos demais desafios que precisavam ser vencidos. Durante o desenvolvimento do embrião, parâmetros de peso e biometria eram periodicamente controlados pela equipe a fim de garantir o desenvolvimento mais saudável possível ao filhote.

Após 26 dias de incubação, o momento do nascimento se aproximou. O filhote, entretanto, encontrou dificuldades para sair do ovo sozinho, exigindo uma intervenção assistida pela equipe. Mesmo com o monitoramento por câmeras, Paloma não hesitou em comparecer ao local durante a noite, para acompanhar de perto cada etapa do delicado processo.

Com monitoramento constante para a aplicação de técnicas cuidadosamente planejadas, que incluíram ovoscopias e monitoramento da frequência cardíaca do filhote ainda dentro do ovo, a equipe proporcionou o melhor grau de bem-estar possível ao indivíduo durante todo esse processo, que levou cerca de 30 horas, desde o furo da casca até o nascimento.

Hoje, o pequeno uru-nordestino segue sob cuidados da equipe de neonatologia em ótimas condições de saúde e bem-estar. Ainda que ele seja alimentado periodicamente pela equipe e tenha um monitoramento constante dos seus comportamentos por câmeras, ele já vem se mostrando cada vez mais independente! Ele já recebe seus primeiros banhos de sol, em um processo de adaptação para, no futuro, ser levado ao recinto com os outros indivíduos que vivem no Parque.

Futuro do uru-nordestino

Estes esforços priorizam a criação da chamada população de segurança para o uru-nordestino, uma medida estratégica essencial para garantir sua sobrevivência diante das crescentes ameaças nos seus ambientes naturais, como a perda de habitat e a pressão humana.

Sobre o Parque das Aves

O Parque das Aves, um centro de resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica e o atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu depois das Cataratas, completou 30 anos de atuação em 2024. Como é uma instituição privada, os visitantes promovem a continuidade do trabalho do atrativo através da visita ao Parque, consumo nos restaurantes do Complexo Gastronômico e compras na Loja de souvenirs.

(Da redação. Fonte e foto: Parque das Aves)

O filhote de uru-nordestino acaba de nascer e passou pelos primeiros cuidados na incubadora, garantindo estabilidade térmica e monitoramento intensivo.