COMO UM JOGO IMPORTADO DA INGLATERRA TORNOU O BRASIL PAÍS DO FUTEBOL

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Um dos esportes mais populares do Brasil – conhecido pela qualidade de seus jogadores e times – nasceu na Inglaterra em 1863 e foi introduzido oficialmente no Brasil em 1894, por Charles Miller

Comemora-se hoje, 19 de julho, o Dia Nacional do Futebol, data escolhida e criada pela CBF em 1976, para homenagear um time do Rio Grande do Sul, o Sport Club Rio Grande, fundado em 19 de julho de1900 e primeiro time registrado como clube de futebol no Brasil e há mais tempo em atividade no país.

O Clube Mogiano (Por que o Brasil é o país do futebol? Conheça essa história! – Clube Mogiano – 13/7/2021) fez magnífica resenha da história do futebol. Vale a pena ler:

“Ainda que de origem britânica, o Brasil ganhou o título de “país do futebol”, isso devido à paixão que o esporte despertou no brasileiro e a facilidade com qual ele se tornou parte da cultura do nosso país. A identidade brasileira é marcada por diversas expressões, tanto na música, na culinária como o próprio carnaval, por exemplo. Justamente, o futebol entrou para essa lista, que se destacou tanto aqui, como no exterior. 

Hoje em dia, é raro encontrar alguém que não coloque o futebol como parte do nosso cotidiano e da nossa cultura. 

Mas afinal, porque o Brasil se consolidou como o país do futebol? 

Há quem diga que esse título foi dado ao Brasil em 1970, após o tri, mas existem aqueles que dizem que essa expressão já era usada bem antes disso, essa sempre será uma discussão sem fim, certo ou errado. 

Mas o fato é que, o futebol brasileiro começou a chamar atenção lá fora, quando os dribles e as técnicas dos jogadores passaram a ser notadas e, consequentemente, elogiadas no exterior, o que levou a uma grande rivalidade entre seleções, principalmente entre os países da América Latina. 

A história do futebol dentro do país é cheia de marcas, tanto positivas quanto negativas. A chegada da modalidade ao Brasil, que aconteceu em 1894, quando Charles Miller, considerado o pai do futebol brasileiro, chegou da Europa trazendo consigo algumas bolas e regras para serem aplicadas. 

O jovem inglês apresentou o futebol aos brasileiros, mas não todos; na época, somente pessoas de pele branca jogavam. A introdução de pessoas negras e imigrantes só ocorreu mais de 20 anos depois, em 1920. Quando essa aceitação ocorreu, o esporte se popularizou, ganhou ritmo e passou participar e conquistar campeonatos, o futebol brasileiro passou a ter mais visibilidade de investidores e olheiros. 

Durante essa mesma época, o futebol se tornou uma ferramenta para amenizar tensões, tanto políticas, como econômicas, não apenas no Brasil, como em outros países do mundo, o que deu ao esporte a bandeira de modalidade inclusiva e de oportunidades para muitas crianças e jovens, sobretudo as mais carentes, além de conectar pessoas por amor ao time do coração. 

O amor, a dedicação e a habilidade do brasileiro se tornaram referência para diversos países, sobretudo, com as jogadas e dribles, que deram ao Brasil o nome de “futebol mágico” e título de “Rei” ao então jovem, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, além de colocar em evidência a outras diversas estrelas do futebol brasileiro, como o Garrincha, Sócrates, Zico, Ronaldo, Marta e tantos outros que se tornaram grandes lendas, contribuindo para que o Brasil se tornasse destaque nesse esporte. 

E devido à grande habilidade desses atletas, a ideia de que o Brasil é o país do futebol deixou de ser apenas uma chamada comercial e passou a ser uma realidade dentro e fora dos campos. 

No Clube Mogiano também existem fenômenos do futebol como, a Thaisa S. Esperança, José Luiz Guerreiro (Zélo), Moacir Genuario (Moacir Goleiro), Luciano Bridi e o Mauro José Mestriner (Mauro Goleiro). São alguns dos grandes amantes e praticantes dessa modalidade que encanta e inspira a tantas pessoas mundo afora. Gostaríamos de homenagear estes associados, não apenas como atletas do nosso clube, mas também como parte dessa paixão e desse esporte tão importante para o desenvolvimento social do nosso país, da nossa cultura e do nosso cotidiano.” 

 

Projeto Revivendo Memórias usa a história do futebol no tratamento de pessoas diagnosticadas com a Doença de Alzheimer — Foto: Unsplash

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Produto importado, sim, mas de tal forma integrado à cultura nacional que virou lugar-comum dizer que o Brasil é o país do futebol – ou a “Pátria em Chuteiras de Ouro”, como já escreveu o jornalista e cronista esportivo Nelson Rodrigues.

Histórias para provar o argumento não faltam, a começar pelos craques brasileiros que se tornaram entidades no folclore futebolístico, sendo ainda hoje reverenciados em todo o mundo. As tantas superstições que habitam o cotidiano de qualquer torcedor, de qualquer time, reforçam a tese de que o esporte bretão fez do Brasil a sua casa. Aliás, tamanha é a paixão que não é difícil encontrar situações insólitas que revelam como torcer pelo time do coração significa muito mais do que vibrar com um placar favorável ou sofrer com um desfavorável. Assumindo um lugar de identidade nacional, não são raras as histórias de quase devoção pelos ídolos eternos do nosso futebol. Algumas dessas histórias estão no livro “A Pátria em Sandálias da Humildade” (ed. Realejo, 2016), do escritor Xico Sá. Na publicação, ele conta que chegou a ouvir um torcedor dizer que doaria ao “mestre Sócrates” o próprio fígado se, com o gesto, pudesse salvar a vida do ídolo corintiano. Escritor e anônimo terminaram abraçados, entre lágrimas, comovidos pela força que o esporte irradia para muito além dos gramados.

E agora, em mais uma prova definitiva de como a relação com o amor pela camisa ultrapassa os 45 minutos regulares de uma partida e se integra à vida dos torcedores, o esporte vem sendo um instrumento para o tratamento de pessoas diagnosticadas com a doença de Alzheimer – uma condição neurodegenerativa crônica, que corresponde à maioria dos casos de demência, chegando a um número entre 60% e 80% desses casos, e afeta memória, habilidades cognitivas e comportamento, chegando a prejudicar a capacidade de o indivíduo afetado desempenhar atividades básicas do dia a dia.

SEGUIR

Pioneiro no Brasil, o projeto Revivendo Memórias, do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFM/USP), em parceria com o Museu do Futebol, tem ações para estimular pacientes acometidos pela enfermidade a lembrarem momentos vividos na infância e na juventude, usando a história futebolística como gatilho.

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Vale lembrar, o Ministério da Saúde recomenda que o tratamento da doença de Alzheimer – que deve afetar mais de 140 milhões de pessoas até 2050, tendo sua maior prevalência a partir dos 65 anos – seja multidisciplinar. Nesse contexto, intervenções psicoterapêuticas possibilitam melhorar a qualidade de vida e bem-estar, assim como aspectos cognitivos como memória autobiográfica, atenção, habilidades de conversação e algumas condições neuropsiquiátricas como ansiedade e depressão.

História

“Resumidamente, este projeto se dá por meio de atendimentos personalizados realizados pelo Núcleo Educativo do Museu do Futebol de São Paulo em conjunto com profissionais do Hospital das Clínicas, estimulando os pacientes a ativarem suas memórias afetivas relacionadas aos acervos da exposição principal do museu, a fim de promover benefícios psicossociais, como uma melhora do bem-estar de indivíduos com Doença de Alzheimer, de seus familiares e cuidadores”, descreve Guilherme da Silva Antes em seu trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de psicologia da Universidade Federal de Santa Maria do Rio Grande do Sul (UFSM-RS), no qual se debruçou sobre a iniciativa.

O pesquisador cita que Carlos Chechetti, pesquisador e diretor do projeto, começou a gestar o “Revivendo Memórias” após perguntar para seus professores do Hospital das Clínicas o que a paixão poderia fazer por pessoas com comprometimento e declínio de memória. Interessado em investigar a questão, ele encontrou no Football Memories Scotland, do Scottish Football Museum, na Escócia, a sua inspiração.

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Richard McBrearty, diretor de projetos do Football Memories Scotland, conta que a iniciativa escocesa surge, como uma fagulha, em 2008. Foi quando houve uma reunião de historiadores de futebol no estádio Hampden Park, localizado em Glasgow. Na ocasião, um dos participantes relatou seu trabalho comunitário com encontros de idosos fãs de futebol – alguns deles com demência e que não se lembravam sequer como haviam chegado até o encontro ou o que haviam comido no café da manhã. “Ao confrontar esses idosos com imagens de jogadores e eventos de até 50 e 60 anos atrás, ele percebia uma ‘transformação incrível’ neles”, indica Silva Antes, sinalizando que, confiantes no potencial dessa ação, os historiadores conseguiram apoio do Scottish Football Museum e, em 2009, lançaram um projeto-piloto, que acabou resultando no surgimento do programa Football Memories Scotland, elevando o status comunitário da ação a algo de proporção nacional no país britânico.

“Em 2018, ao entrar em contato com os responsáveis pelo projeto escocês, Chechetti conta que foi convidado para conhecê-lo. Viajando àquele país e acompanhando pessoalmente o trabalho lá realizado, o pesquisador brasileiro firmou parceria no sentido de trazer a ideia do Football Memories Scotland até nosso país. Essa transposição se iniciou sob o nome de ‘Revivendo Memórias’ dentro do Hospital das Clínicas, e posteriormente encontrou no Museu do Futebol de São Paulo (principalmente seu núcleo educativo) um aliado, com o qual o projeto foi sendo adaptado ao contexto brasileiro”, prossegue o estudioso.

Dinâmica

Em entrevista ao psicólogo Guilherme Silva Antes, Tatiane Mendes, supervisora do núcleo educativo do Museu do Futebol, explicou que, além da variedade de temas, também é considerada a época em que ocorreram acontecimentos importantes para os participantes. Após o fim da visita, é proposta a atividade lúdica “Escale a Sua Seleção”, em que o idoso é estimulado à reflexão e à análise crítica, tendo a oportunidade de escolher 11 jogadores para compor o seu time ideal.

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“Nesse processo, várias memórias afetivas são revividas, além de ser possível retomar momentos da própria visita que antecedeu esta atividade. Sobre isso, Leonel Takada, neurologista do Hospital das Clínicas, pontua que as paixões (e memórias relacionadas) das pessoas atendidas pelo projeto são usadas para estimular suas habilidades cognitivas e diminuir o isolamento pelo qual passam. Takada ainda destaca que o objetivo do Revivendo Memórias é fazer com que as pessoas se lembrem de fatos da vida delas e, com isso, sintam algum prazer em poder recordar e conversar com outras pessoas a respeito dessas memórias, tudo isso facilitado pelos educadores do Museu do Futebol”, anota Silva Antes, lembrando que, especificamente sobre os pacientes com doença de Alzheimer, a neurologista Sonia Brucki alerta que, ao tratar este tipo de demência, é preciso ter o cuidado para não isolar o indivíduo, estimulá-lo o máximo possível com atividades sociais e prazerosas e cercá-lo de sua família e amigos.

Resultados

No artigo “O projeto Revivendo Memórias como alternativa de tratamento para a doença de Alzheimer”, Guilherme Silva Antes descreve alguns dos principais resultados destacados por pesquisadores que integram a iniciativa.

“Carlos Chechetti expõe que há uma melhora do bem-estar (reportada tanto por pacientes quanto por seus familiares) e um engajamento nas atividades, que infelizmente é ausente no cotidiano destas pessoas”, cita. Já Sonia Brucki explica que, por acontecer no Museu do Futebol, os atendimentos promovidos pelos profissionais da saúde ganharam um caráter mais social, diferentemente do que acontecia quando a ação ocorria em ambiente hospitalar. Por fim, “Leonel Takada observa que há uma melhora no humor dos participantes e uma recorrência da experiência vivida no museu na fala dos pacientes ao longo dos dias seguintes, além da promoção de interações, por vezes tão raras ao público idoso”.