A Johnson’s vai parar de fabricar e comercializar o talco que faz parte do imaginário popular e é vendido há 130 anos; milhares de processos levaram a fábrica a essa decisão e agora utilizará amido de milho ao invés do talco utilizado
A Johnson & Johnson (J&J) deixará de fabricar e comercializar pó de talco para bebês em todo o mundo a partir do próximo ano. O anúncio ocorre mais de dois anos depois que a gigante da saúde encerrou as vendas do produto nos EUA.
A J&J enfrenta dezenas de milhares de processos de mulheres que alegam que seu pó de talco continha amianto e as levou a desenvolver câncer de ovário. O talco para bebês é usado para prevenir assaduras e para usos cosméticos, inclusive como xampu seco.
O talco é extraído da terra e é encontrado em camadas próximas às do amianto, que é um material conhecido por causar câncer. Uma investigação de 2018 da agência de notícias Reuters afirmou que a J&J sabia há décadas que o amianto estava presente em seus produtos de talco.
A agência de notícias afirma que registros internos da empresa, depoimentos de julgamentos e outras evidências mostraram que, de pelo menos 1971 até o início dos anos 2000, o talco bruto e os produtos derivados da J&J deram positivo para pequenas quantidades de amianto em alguns testes.
Mas a empresa reiterou sua posição de que décadas de pesquisas independentes mostram que o produto é seguro. “Nossa posição sobre a segurança de nosso talco cosmético permanece inalterada.”
“Sustentamos firmemente décadas de análises científicas independentes de especialistas médicos de todo o mundo que confirmam que o talco Johnson’s à base de talco é seguro, não contém amianto e não causa câncer“, afirmou.
“Como parte de uma avaliação de portfólio mundial, tomamos a decisão comercial de fazer a transição para um portfólio de talco para bebês à base de amido de milho”, afirmou em comunicado.
A empresa acrescentou que talco para bebês à base de amido de milho já é vendido em países ao redor do mundo.
POR QUE O AMIANTO OFERECE RISCOS À SAÚDE
O amianto é um mineral que está presente na natureza. Uma variedade da substância, o amianto branco, é usada na indústria da construção civil nos países em desenvolvimento, mas é proibida na maioria dos países industrializados, devido aos riscos para a saúde.
O amianto é resistente ao calor e ao fogo. Além disso, o material é resistente e barato, por isso pode ser usado de diversas formas. Ele pode ser misturado ao cimento para fabricação de tetos e pisos. Também é utilizado em canos, tetos, freios de veículos, entre outros.
Fragmentos microscópicos de fibras de amianto são potencialmente perigosos quando inalados e podem provocar doenças respiratórias:
- Câncer de pulmão, que é o mais comum em pessoas expostas ao amianto;
- Mesotelioma, uma forma de câncer no peito que praticamente só ocorre em pessoas expostas ao amianto;
- Asbestose, uma doença que causa falta de ar e pode levar a problemas respiratórios mais graves.
O amianto branco, conhecido como crisótilo, é a única forma de amianto usada hoje. A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que a variação também é associada ao mesotelioma e outros tipos de câncer, mas seus produtores dizem que a substância é segura se manejada com cuidado.
Alguns especialistas afirmam que o amianto branco traz menos risco à saúde do que os amiantos azul e marrom, mas mesmo empresas que vendem a substância dizem que os trabalhadores devem evitar inalar o ar com o produto.
A substância é amplamente produzida e usada no Brasil, apesar de alguns esforços isolados para se bani-la. O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de amianto, que é vendido para países como Colômbia e México. O país também é o quinto maior consumidor do produto.
Mais sobre o caso
Em 2020, a J&J disse que deixaria de vender talco para bebês nos EUA e no Canadá porque a demanda havia caído após o que chamou de “desinformação” sobre a segurança do produto em meio a vários casos legais.
Na época, a empresa disse que continuaria a vender seu talco para bebês à base de talco no Reino Unido e no resto do mundo.
A empresa enfrenta ações judiciais de consumidores e seus sobreviventes que alegam que os produtos de talco da J&J causaram câncer devido à contaminação com amianto.
Em resposta a provas de contaminação por amianto apresentadas em tribunais, reportagens da mídia e legisladores dos EUA, a empresa negou repetidamente as alegações.
Em outubro, a J&J criou uma subsidiária, a LTL Management, cedendo seus direitos de talco a ela. Mais tarde, ae LTL entrou em falência, o que interrompeu os processos judiciais pendentes.
Em abril, uma proposta de acionistas pedindo o fim das vendas globais do produto falhou.
O talco para bebês da Johnson é vendido há quase 130 anos e se tornou um dos símbolos da empresa.
(Com conteúdo da BBC News)
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