Devido às variantes sucessivas do coronavírus, é possível pegar covid-19 diversas vezes. Estudo baseado em dados de mais de 5 milhões de americanos indica que a reinfecção aumenta risco de hospitalização e morte. Solução: desenvolver vacinas mais fortes, que previnam a reinfecção – e prevenção, prevenção constante.
No começo da pandemia de covid-19, as vacinas costumavam ser vistas como as salvadoras que derrotariam a doença e permitiriam que a vida voltasse ao normal. Infelizmente a realidade foi outra.
“A estratégia da vacina foi extremamente eficaz em reduzir o risco de progressão para as formas graves, porém as vacinas atuais não impedem a transmissão do coronavírus”, observa Ziyad Al-Aly, epidemiologista da Universidade Washington de St. Louis.
Embora seja consenso científico que vacinados podem voltar a se contaminar com o coronavírus, não havia uma comparação entre as infecções sucessivas. Agora, um estudo publicado nesta quinta-feira (10/11) na revista Nature Medicine, do qual Al-Aly é o principal autor, mostra que as reinfecções trazem maior risco para a saúde.
Assim, contagiar-se por uma segunda vez com covid-19 está associado a um risco maior de complicações agudas nos primeiros 30 dias após a infecção. Maior é também o perigo de problemas pós-agudos durante a fase de covid longa.
“Não estamos defendendo medidas draconianas, mas, entrando na estação de inverno, tomadores de decisões e indivíduos podem empregar os meios a seu alcance para tentar reduzir o risco no nível populacional”, comenta o epidemiologista.
Também atuante como clínico, ele começou a ver pacientes que se infectaram com o vírus Sars-Cov-2 diversas vezes, apesar de vacinados. “Muitos pensaram que iam ter uma espécie de super imunidade contra o vírus, e um segundo contágio não importaria.” Na incerteza, contudo, os cientistas preferiram conferir na atual pesquisa.
ASPECTOS NÃO ESCLARECIDOS NO ESTUDO
Os autores usaram como base o banco de dados de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos. Com um total de 5,3 milhões de entradas, o arquivo inclui 40.947 cidadãos que já haviam tido dois ou mais surtos de covid-19.
A conclusão foi que uma reinfecção duplica o perigo de morte e triplica o de hospitalização. Além disso, a incidência de efeitos adversos aumenta com cada nova contaminação. Al-Aly ressalta: “É difícil determinar o que um aumento de risco de duas ou três vezes significa para um indivíduo. Mas a mensagem subjacente é que é necessário estar ciente de que a reinfecção traz riscos, não é algo trivial.”
Certos especialistas criticam os autores por deixarem de incluir fatores importantes: “Esse estudo não menciona o impacto das vacinas sobre os riscos de reinfecção”, aponta Beate Kampmann, professora de infecções e imunidade pediátricas da London School of Hygiene and Tropical Medicine. Ela considera a compreensão desse efeito um elemento crucial para monitorar os resultados na saúde.
“Dados de reinfecção podem também nos mostrar melhores formas de proteger a população contra o coronavírus. Por exemplo; se entendermos a resposta imunológica à reinfecção, poderemos deduzir o que uma vacina precisa alcançar. No entanto, isso pode mudar se virmos novas variantes ou uma queda dramática da imunidade. Necessitamos mais estudos longitudinais para examinar isso.”
“NÃO QUEREMOS TER QUE USAR MÁSCARA DAQUI A 100 ANOS”
Kampmann também observa que a pesquisa se ocupa principalmente de americanos brancos mais velhos (90%), portanto pode ser difícil extrapolar os dados para outros grupos demográficos. Os autores também reconheceram essa limitação, porém afirmam ter ajustado as taxas de risco de acordo com idade, sexo e raça.
“Pode haver gente com mais risco do que outros, mas o risco médio que medimos é independente das características subjacentes da população. Devido ao tamanho do estudo, é provável que a representação de diferentes grupos se aplique à população”, defendeu Al-Aly.
Há bastante tempo, especialistas vêm reivindicando uma nova estratégia de vacinação, a fim de prover proteção melhor e mais prolongada contra a covid-19. O epidemiologista da Universidade Washington é um dos que pedem uma estratégia 2.0, mencionando que o maior desafio é criar imunizantes que tanto impeçam a propagação do vírus quanto forneçam proteção por vários anos.
“É o que precisamos, para realmente nos adaptarmos ao vírus. Caso contrário, vamos estar usando máscaras nos próximos 100 anos.” A boa notícia é que a ciência e a tecnologia já estão aptas a cumprir essa exigência.
Vacinas nasais, que produzem imunidade das mucosas, bloqueando a transmissão por vários anos, estão sendo desenvolvidas no momento, com resultados promissores. “Agora precisamos que os governos financiem e desenvolvam a tecnologia, para levá-la até a população”, enfatiza Ziyad Al-Aly.
(Fonte e foto: DW)
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