Absorvente sustentável, criado por estudantes brasileiras, além de premiado já ganhou investidores interessados. Projeto foi escolhido entre milhares de ideias inovadores de jovens de quase 40 países. Ideia pode diminuir a chamada “pobreza menstrual”
Camily Pereira dos Santos e Laura Nedel Drebes acabaram de voltar ao Brasil. Na mala, as estudantes do ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) trouxeram o “Prêmio de Excelência” da competição internacional Stockholm Junior Water Prize, pelo projeto SustainPads, escolhido entre milhares de ideias inovadoras de jovens entre 15 e 20 anos de quase 40 países.
O que elas criaram? Um absorvente sustentável que também tem potencial para diminuir a chamada “pobreza menstrual”.
A ideia para o desenvolvimento do produto nasceu durante uma conversa entre Camily e a mãe. “Eu descobri que quando ela era mais jovem não tinha acesso à absorventes convencionais, nem mesmo sintéticos. Essa foi a primeira vez que me deparei com a questão da pobreza menstrual e não imaginava que ela estaria tão próxima de mim e da minha família”, conta a estudante.
Sob a orientação da professora Flávia Twardowski, Camily e Laura desenvolveram um absorvente a partir das fibras da palmeira juçara e do pseudocaule da bananeira (o tronco da árvore após dar o cacho de banana). No laboratório da escola, também elaboraram um biofilme com resíduos da indústria nutracêutica (que produz cápsulas de suplementos alimentares). Na prática, o produto lembra os absorventes de pano, mas tem outra mecânica.
“É um invólucro de tecido e no interior dele vai o nosso refil absorvente, composto pela camada plástica que substitui o plástico convencional, e no meio estão as fibras que nós extraímos do pseudocaule da bananeira. É um material similar ao algodão”, explica Laura.
O uso de materiais descartados pela indústria já seria um ganho para o meio ambiente. Mas o grande destaque do SustainPads tem a ver com o impacto na natureza após o descarte do absorvente. “A gente faz um descarte em lixos orgânicos, então eles vão para os aterros sanitários. Partimos do pressuposto que eles vão para a terra, aí observamos que em contato com o solo, seguindo os protocolos, em 16 dias 50% já está degradado”, diz a professora.
Para efeito de comparação, os absorventes tradicionais, vendidos atualmente em supermercados, demoram até 500 anos para se decompor. E segundo o levantamento Fluxo Sem Tabu, estima-se que, em média, as mulheres descartam 10 mil absorventes durante a vida.
As brasileiras receberam o prêmio durante uma cerimônia em Estocolmo:
SUSTAINPADS: GANHOS ECOLÓGICOS, SOCIAIS E O ECONÔMICOS
Além do menor impacto ambiental, o custo por unidade sai por R$ 0,02. No Brasil, segundo as Nações Unidas, 4 milhões de adolescentes não dispõem de algum meio para realizar a higiene adequada durante os dias de menstruação. As consequências são inúmeras como evasão escolar e problemas de saúde por substituições inadequadas como jornais e miolo de pão.
“O nosso protótipo contribui com vários aspectos para a sociedade. É importante termos alternativas sustentáveis que ao mesmo tempo sejam também acessíveis à população mais pobre”, afirma Camily.
As estudantes revelam que ficaram muito felizes e emocionadas por terem seu projeto escolhido entre tantos outros.
“Jamais imaginei que, uma simples ideia que eu tive através de uma conversa com a minha mãe poderia se tornar o projeto que representaria o meu país em um prêmio internacional. Foi uma comemoração conjunta, tanto em Estocolmo como no Brasil também, pois nada disso seria possível sem todo o apoio e carinho das pessoas que fizeram parte da nossa trajetória”, diz Camily. “Fico muito feliz de ter a oportunidade de ter mulheres tão inspiradoras ao meu lado como a Laura e a professora Flávia. E saber que estamos contribuindo na luta contra a pobreza menstrual e por uma sociedade mais sustentável através da ciência”.
O grande sonho do trio de viabilizar o acesso do SustainPads ao máximo de mulheres pode estar muito próximo. Além de terem ganho um prêmio no valor de U$ 3 mil, pouco mais de R$ 15 mil, após o reconhecimento na Suécia, as estudantes brasileiras receberam propostas de investimentos tanto nacionais quanto estrangeiras.
“Estamos analisando as propostas de algumas empresas porque queremos que esse seja um projeto social”, conta Flávia.
(Fonte – conexãoplaneta –6 de setembro de 2022 – Sabrina Pires )
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