ANIVERSÁRIO DE COTIA – 4 O SÍTIO DO PADRE INÁCIO: SÍTIO HISTÓRICO PRESERVADO
Antonio Melo, para Cotiatododia
Melhor recorrermos direto ao historiador João Barcellos, que em sua obra Cotia – Uma História Brasileira – descreve perfeitamente as origens e a situação atual do casarão chamado “Sítio do Padre Inácio”:
“Capella e Moinho
Do outro lado do Rio Cotia está o sertão itapecericano, onde se situa a Reserva Florestal de Morro Grande. Nesse território existiu já um sítio que Fernão Dias Paes – o Moço já chamava de “Capella, lugar de índios”, e não constava, por isso mesmo, da sua carta de doação de terras de M´Boy à Sociedade de Jesus [SJ].
Em torno da “Capella, lugar de índios” desenvolveu-se uma aldeia que viria a se chamar de “Santa Cruz” e onde um padre jesuíta desenvolveu grande atividade sócio-religiosa com nativos.
É aí que nasce o Sítio Capella e Moinho, também designado como Sítio do Pe Ignácio por nele ter vivido o religioso “Ignácio Francisco do Amaral, que era sobrinho de Dona Luzia Leme, nora do sargento-mor Roque Soares de Medella, juiz ordinário da Câmara de São Paulo, que aí construiu fazenda no Séc. XVIII”.
Ainda nos registros de João Barcellos, citando outros estudiosos, “[…] a arquitetura obedece à ´planta regular rigidamente dividida em três faixas sucessivas de cômodos com funções próprias. A faixa fronteira compreende o alpendre, ladeado à esquerda pelo quarto de hóspedes e à direita pela capela […]. A faixa intermediária é centrada pelo salão, de uso quase que privativo da família, cujo acesso se dá pelo alpendre. Abrindo para o salão, os quartos ou aposentos íntimos completam esta faixa de residência, podendo também agregar a faixa posterior, ladeando um segundo alpendre de serviços” .
O casarão do Morro Grande é o mais sofisticado arquitetonicamente, até no acabamento das peças.
“A rusticidade do casarão do Caiapiá (Sítio do Mandú – NR) fica longe da sofisticação da aparelhagem colocada no casarão do Morro Grande: percebe-se neste um gosto por elegância de moradia de gente do Poder, de visão mundana, enquanto que naquele ressalta o tradicional ´coronelismo de resultados imediatos em torno da sobrevivência´, que é, aliás, o perfil socioeconômico, ou coronelístico, do Poder público-privado de Cotia e região”.
E continua: “Vivi e brinquei em alguns casarões rurais, incluindo os dos meus bisavós, em Areias de S. Vicente [Barcelos/Portugal], cujo sótão era aproveitado para secar objetos de cerâmica recém saída dos fornos, guardar mercadorias, e não bugigangas. O sótão do casarão Capella e Moinho foi construído com essa intenção e, para isso, deve ter servido…”
Os Medella
A família Medella é oriunda de Vila do Conde, cidade litorânea do norte de Portugal. Embora outros membros da família tenham estado ou fixado residência no Brasil, foi Roque Soares de Medella [Vila do Conde, Portugal, 16.8.1671 – Cotia, Brasil, 28.1.1742] quem originou o tronco luso-paulista: no início do Séc. XVIII, estabeleceu residência em Cotia, vila a oeste de São Paulo.
Na antiga capela de Nª Sª do Monteserrat, fundada por Dias Paes [o Moço] na região do Caiapiá (no sertão carapocuybano, depois trasladada para o sertão itapecericano), casou-see cerca de 1700 com Ana de Barros, cotiana de nascimento e batizada na mesma capela, em 1684.
O capitão Roque veio a requerer cerca de 1800 alqueires de terra em sesmaria, alegando que vivia “escassamente por não ter largueza, e terras bastantes para a sua posse, e cultivar, e lavrar para sustentação de sua família e escravos, como também de pastos para gado e mais criações”.
As terras situavam-se em Cotia, no lugar conhecido por “Caraguatativa”, ficando para dentro delas dois ribeirões, o Cotia e o Capivari; a sesmaria foi concedida a 13 de Novembro de 1721 e confirmada a 05 de Junho de 1725 pelo Rei João V de Portugal.”
Na mesma obra, João Barcellos fala novamente do Sítio do Padre Inácio, com nuances um pouco diferenciadas do texto acima. Pela curiosidade e informações novas, vale a pena transcrever:
“Sítio do Pe Ignácio ´Capella, lugar de índios´ / ´Capella e Moínho´ / ´Fazenda de Nª Sª do Rozário´
Ao tempo do ´velho´ Fernão Dias Paes, o fundador de M´Boy [hoje, Embu], e tio do outro e ´moço´ Fernão Dias Paes – este, o ´governador das esmeraldas´ ao tempo do Vaz-Guassu –, a região da Floresta de Morro Grande situava-se no certam d´itapecerica, onde o ´velho´ tinha também sítio de lavoura ao qual chamava “Capella, lugar de índios”, e não constava, por isso mesmo, da sua carta de doação de terras de M´Boy à Sociedade de Jesus [SJ].
Em torno da Capella, lugar de índios desenvolveu-se uma aldeia que viria a se chamar de Santa Cruz e onde um padre jesuíta desenvolveu grande atividade sócio-religiosa. É assim que nasce o Sítio Capella e Moinho, também designado como Sítio do Pe Ignácio por nele ter vivido o religioso Ignácio Francisco do Amaral, sobrinho de Luzia Leme, nora do sargento-mor Roque Soares de Medella, juiz ordinário da Câmara de São Paulo, construtor da casa grande com Oratório familiar e enorme escravaria, nativa e africana.
“O sargento-mor Roque Soares de Medella, natural de Vila do Conde, importante porto marítimo no norte de Portugal, filho de Luiz Soares de Anvers e Benta de Medella, chegou ao Brasil cerca de 1700 e lavrou ouro no Carmo [hoje, Mariana] para depois tornar-se figura importante em São Paulo, onde casou com a não menos importante Anna de Barros, da abastada Família Veiros, em Cotia. Ao enviuvar, tornou-se leigo jesuíta, e morreu em 1741” [J. C. Macedo – in “Casas Rurais Coloniais no Piabiyu”, palestra, Sorocaba/SP, Br., 1991; e LEME, Silva in “Genealogia Paulistana”, Vol VIII].
“Um dos seus filhos, Rafael de Barros, seguiu o conceito “filho de família deve santificá-la servindo a Igreja”, e ordenou-se padre em 1756. Uma observação para os anais cotianos: o sargento-mor Roque Medella é bisavô do maçom, presbítero e regente imperial Diogo Feijó. Muito tempo depois, outro membro da família tornou-se padre – é Ignácio, que passa a rezar missa também nos oratórios familiares, depois da autorização por Breve Apostólico direcionado à “Fazenda de Nª Sª do Rozário”, que ficou na família até final do Séc. XIX.
A ação do Pe Ignácio foi religiosa e social até à sua morte em 1846. Recolhia crianças perdidas e dava-lhes abrigo e educação.”
A DESCRIÇÃO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ColImg7_CasasPatrimonio_m.pdf (iphan.gov.br) faz a descrição oficial do Sítio do Padre Inácio, também valendo transcrevê-la:
“Sítio do Padre Inácio
Casa Histórica em Cotia
Localização: Área rural, Morro Grande.
Tombamento: Federal, Proc. 355-T-45, Inscrição 401, Livro das Belas Artes, fl. 77, e Livro Histórico, Inscrição 289, fl. 49, 08/10/1951.
Características construtivas: Casa de taipa de pilão com planta quadrada e salão central de pé-direito duplo, sótão sobre os dormitórios, alpendre ladeado por oratório e quarto de hóspedes. O telhado de madeira em quatro águas apresenta espigões com curvatura fletida, o que lhe atribui beleza e singularidade. Os trabalhos de entalhe na madeira dos pilares do alpendre, dos cachorros do beiral e das almofadas das folhas das portas e janelas são únicos nas casas bandeiristas.
Histórico: Até 1883, essa casa setecentista permaneceu como propriedade dos herdeiros da família do guarda-mor das Minas, Roque Soares Medella, que a mandou construir entre 1717/1723. Nos meados do mesmo século, seu filho padre Rafael de Barros, realizou adaptações que permitiram a realização de missas no oratório. Por ter sido, até 1846, local de morada temporária do Padre Inácio Francisco do Amaral, sobrinho-neto de Roque Medella e local de realização de missas e ofícios religiosos, a casa foi associada ao nome do referido padre.
Já em 1915, o valor histórico e arquitetônico da edificação foi destacado ao ter a sua planta levantada pelo arquiteto Victor Dubugras, quando da visita do então prefeito de São Paulo, Washington Luís.
Posteriormente, Mário de Andrade, como responsável pelo Serviço do Patrimônio determina a sua estabilização. Em 1941, a comunidade de Cotia, solicita ao SPHAN o tombamento do imóvel por ter sido o local de nascimento do regente do Império Diogo Antonio Feijó. Em1944, o imóvel foi incorporado ao patrimônio do Iphan por doação do advogado Rivadávia Mendonça. A partir de junho de 2009, o Sítio do Padre Inácio e o Sítio do Mandu passaram a receber visitas monitoradas, do Circuito Turístico Paulista Taypa de Pilão. Programa conjunto do Iphan com o governo do Estado de São Paulo e as prefeituras municipais, foi inserido no Programa de Regionalização, do Ministério do Turismo. O Circuito envolve os municípios de Barueri, Carapicuíba, Cotia, Embu das Artes, Santana de Parnaíba e São Roque, que reúnem o patrimônio histórico bandeirista”.
Planta da Casa do Sítio do Padre Inácio
Imagem divulgação [Andrea Petini, Bianca Y. W. C. Rodrigues e Elisabeth P. Berlato, 2016]
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