ATAQUES EM ESCOLAS: ESPECIALISTAS COMENTAM SOBRE O ASSUNTO
No começo do mês de abril, aconteceram relatos e ameaças de ataques em escolas pelo país, se destacando entre eles o ataque que ocorreu no bairro Vila Sônia em São Paulo no qual houve uma vítima, uma professora de 71 anos. Duas semanas depois, ocorreu o caso de Blumenau no qual 4 crianças foram mortas dentro de uma creche.
Com esses recentes casos, houve uma forte repercussão sobre a popularização desse tipo de ataque, provocando uma discussão sobre o porquê de eles estarem se tornando comuns e sobre como preveni-los.
A RESPONSABILIDADE DA MÍDIA
A imprensa tem responsabilidade em noticiar os ataques de forma segura, transmitindo a informação de interesse público para a sociedade ao mesmo tempo que se preocupa em não incentivar novos atentados através do chamado ‘efeito contágio’.
A jornalista Carolina Thomeu da BandNews comenta: “A mídia influencia na forma que noticia o acontecimento pois ela representa a maior transmissão de um fato para as pessoas terem acesso ao ocorrido. Uma vez que ela informa é aquela a informação que chega ao receptor, e às vezes, a única.”.
Em relação a difusão desse tipo de atentado, ela opina que, para que não aconteça o ‘efeito contágio’, é necessário que se noticie da forma mais realista possível e que julgamentos e crenças sejam deixados de lado durante a transmissão. Também, segundo ela, é plausível chamar psicólogos para que constatem que os autores de ataques não têm a mente sadia.
ASCENSÃO DA EXTREMA DIREITA
Acredita-se que parte desses atentados se dê devido a organizações de extrema direita que incentivam a violência, segundo a pesquisadora e jornalista Letícia Oliveira, desde o começo da última década esses grupos vêm se organizando em comunidades no 4chan e no Twitter onde são compartilhados ‘memes’ de conteúdo ofensivo a minorias e que disseminam propaganda ultradireitista.
A recente compra do Twitter pelo Elon Musk mudou as diretrizes da plataforma e virou, segundo Letícia, um grande “parquinho da extrema direita”. Na semana do dia 13 de abril, houve um pico não orgânico de ameaças de atentado que foi monitorado pela agência Lupa e a FGV em conjunto.
Segundo a pesquisadora, os autores de ataque procuram ser vistos e que seus atos sejam divulgados pela mídia, para que haja propagação do medo e mais incentivo a esse tipo de agressão.
Além disso, a pandemia também pode ser um fator para o aumento das tentativas de ataque, pois antes da quarentena só haviam sido registrados dois grandes massacres: o de Realengo, em 2011, no qual houve 13 mortes e 22 feridos e o de Suzano, em 2018, que resultou em 10 mortes, incluindo os assassinos. Após o confinamento, foram registrados mais de 21 ataques país afora, sendo 10 deles no segundo semestre de 2022 até agora, confirmando a tendência de aumento dos massacres.
“Foi durante a pandemia que a gente só podia socializar pela internet, então esses adolescentes passaram a ter todo seu tempo livre e de aula online e aí que começou a acontecer o contato com esse tipo de ideologia de extrema direita, depois quando voltaram as aulas, se iniciaram esse tipo de ataques” comenta a jornalista.
De acordo com Letícia, eles (os autores) gostam de usar símbolos nazistas, o discurso que eles se apropriam é o de ódio, da LGBTfobia e misoginia. Eles se sentem isolados e com raiva da escola por serem excluídos no ambiente acadêmico por conta de suas ideologias.
A PSICOLOGIA POR TRÁS DE UM MASSACRE
A negligência da saúde mental é considerada um fator por trás do crescimento dos casos.
“A saúde mental dos jovens pede atenção; principalmente após a pandemia existe muito sofrimento dessa ordem sendo relatado pelas crianças e adolescentes. A sociedade precisa conhecer mais sobre saúde mental para apoiar os que apresentam transtornos. Professores e demais funcionários das escolas já são tão sobrecarregados com suas rotinas pesadas que pode ser difícil para eles se atentar a esse ponto. É preciso falar mais sobre saúde mental para que alguém que conviva com um jovem que está em sofrimento psíquico possa reconhecer esse quadro e orientá-lo ou orientar seus cuidadores a procurar ajuda, antes que recorra à violência contra si e contra os demais.” opina a psicóloga Sabrine Cabral sobre o tópico.
Em relação a possíveis quadros psicológicos comuns entre os jovens que buscam cometer um ato, ela diz que pode-se levantar diversas hipóteses, mas que eles variam muito de indivíduo para indivíduo: “Pelo que ouvimos falar, muitos jovens que comentem atentados em escola se dizem vítima de bullying, de exclusão. Porém, esses dois problemas existem e sempre existiram na escola, mas o porquê de alguns jovens não conseguirem resolver esses conflitos por outros meios que não a violência tem a ver com conteúdos próprios deles”.
Segundo ela, ainda, a relação familiar pode ter muita influência diante dessas ações, uma família estruturada em que os pais têm proximidade com os filhos pode evitar tais atos de extrema violência. “É superimportante que os pais conheçam seus filhos, conversem com eles para se saber como eles se sentem, o que se passa com eles e o que eles contam sobre os colegas, amigos. Nesse caso os pais podem estar perto e ajudar um filho que está em sofrimento, antes que ele recorra à atos extremos” cita ela. Para a psicóloga, é importante que o jovem tenha um espaço de escuta e elaboração de seus conflitos.
Deve se ressaltar que os eventos de violência afetam fortemente as vítimas, podendo gerar estresse pós-traumático, ansiedade e depressão nos presentes. A profissional também aponta que é indispensável dar voz aos que presenciaram ou souberam dos atentados para que falem sobre seus medos e pensar o que pode ser realizado para tirarem uma lição positiva desses eventos e evitar acontecimentos do tipo. “Nós elaboramos os traumas pela linguagem, então os pais e a escola não precisam ter medo de falar sobre esses acontecimentos com os filhos, esse pode ser um importante momento para escutá-los e apoiá-los” analisa a especialista.
Luiza Festa