Atropelamentos em rodovias aumentam com fuga de animais dos incêndios

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Estima-se que 9 milhões de mamíferos morram atropelados, por ano, tentando atravessar nossas estradas; com os incêndios, só em agosto morreram 199 animais atropelados; tamanduás representam mais de 10% das ocorrências, por serem lentos e terem audição ruim

Com os incêndios que tomaram conta do país nas últimas semanas, aumenta ainda mais um problema já grave nas rodovias brasileiras: os atropelamentos de animais silvestres. Ao tentar fugir do fogo, muitos bichos correm desesperados e colidem com veículos. O Brasil possui a quarta maior rede rodoviária do mundo e estima-se que 9 milhões de mamíferos morram atropelados, por ano, tentando atravessar nossas estradas.

No Mato Grosso do Sul, um dos estados mais afetados pelos incêndios recentes, no período de 2020 a 2024, 1.001 animais silvestres foram vítimas de colisões com veículos. E só no mês passado, 199 deles atropelados, segundo um levantamento feito pela Proteção Animal Mundial, com base em dados da plataforma Estrada Viva. Entre as principais vítimas desses acidentes estão os tamanduás, que representam mais de 10% das ocorrências. Por terem audição ruim e movimentos lentos, eles são mais vulneráveis a atropelamentos.

Foi o caso, por exemplo, de uma filhote de tamanduá – na foto que abre este post-, que tem pouco mais de um ano de vida, resgatada ao lado da mãe morta, em março deste ano, numa estrada do Mato Grosso do Sul, e levada para o Projeto Órfãos do Fogo, do Instituto Tamanduá.

“A rodovia mais perigosa é a BR-362, que liga Campo Grande a Corumbá, mas a gente tem observado também o aumento de atropelamentos nas estradas de terra secundárias. Os animais, majoritariamente atingidos, estão fugindo de focos de incêndio intencionalmente provocados para a atividade agropecuária. Na tentativa de encontrar um novo lar, com oferta de água e comida, a fauna silvestre acaba sendo atingida”, diz Flavia Miranda, presidente-fundadora do Instituto Tamanduá.

A Proteção Animal Mundial ressalta, entretanto, que um projeto de lei que está em tramitação há quase dez anos em Brasília poderia reduzir os atropelamentos e as mortes de animais nas rodovias brasileiras.

PL 466/2015, de autoria dos deputados Ricardo Izar (São Paulo) e Célio Studart (Ceará), “dispõe sobre a adoção de medidas que assegurem a circulação segura de animais silvestres no território nacional, com a redução de acidentes envolvendo pessoas e animais nas estradas, rodovias e ferrovias brasileiras.” Todavia, a última vez que o projeto de lei esteve na pauta da Câmara dos Deputados foi em 2017, quando foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

“É essencial que o projeto de lei 466.2015 que dispõe sobre medidas que evitem esses acidentes, que colocam em risco até a vida das pessoas, volte a tramitar na Câmara dos Deputados e, posteriormente, no Senado, e seja aprovado o quanto antes. A matéria está pronta para votação em plenário e o maior desafio é que ele seja colocado em pauta”, afirma Natalia Figueiredo, gerente de políticas públicas na Proteção Animal Mundial.  

Entre as medidas sugeridas por especialistas que podem ser implementadas nas estradas para evitar atropelamentos estão o cercamento, impedindo o acesso dos animais à pista para que sigam por travessia segura, instalação de passagens de fauna para a travessia de fauna sobre ou sob a rodovia, faixas de travessia para a fauna, com sinalização para os motoristas e redutores de velocidade e desenvolvimento de aplicativos para smartphones com emissão de sinais sonoros para os motoristas redobrarem a atenção nas zonas de risco para colisões.

“É preciso garantir que rodovias sejam adaptadas e preparadas para incluir a proteção da biodiversidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, a gestão do desafio de atropelamento de fauna é descentralizada, cada estado é responsável por implementar medidas de mitigação, o que reduziu em até 90% o número de casos por meio de melhorias na infraestrutura. Isso inclui passagens superiores e subterrâneas especialmente projetadas para que os animais atravessem as estradas sem encontrar tráfego. Esses projetos também ajudaram a reconectar o habitat essencial para as migrações e movimentos anuais e sazonais da vida selvagem. É possível replicar modelos similares no Brasil”, reforça Natália.

Você pode votar na enquete no site da Câmara sobre o PL 466/2015 e ajudar a pressionar deputados a discutirem o projeto novamente.

(Da redação. Fonte: conexaoplaneta.com.br/Suzana Camarco/19-9-24/Foto: Divulgação Proteção Animal Mundial