CENTRO DE CONSERVAÇÃO DA ARARINHA-AZUL É INAUGURADO NO ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO

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Ave, que só existe no Brasil e cujo habitat natural é a caatinga baiana, já foi declarada extinta oficialmente no Brasil em 2020; agora, o Zoológico de São Paulo inaugurou um Centro de Conservação, que não será aberto ao público

 Quem não se lembra de Blue, o personagem principal da animação “Rio”, da Pixar, que em 2011 fez o mundo inteiro conhecer a ararinha-azul, uma ave linda, toda azul, e que só existe no Brasil? Na história, um macho da espécie, que vivia nos Estados Unidos e não sabia voar, encontra uma parceira, e juntos ele conseguem enfrentar traficantes de animais silvestres e iniciar uma família em seu verdadeiro lar, o nosso país.

Esse é o futuro que se sonha para a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), que ela possa voar novamente sobre o céu da caatinga baiana, seu habitat original. Em 2020, a espécie foi declarada oficialmente extinta no Brasil. Vítima do tráfico ilegal e da perda de habitat, ela desapareceu da natureza.

Agora, um novo centro de conservação, inaugurado nesta sexta-feira (03/05), no Zoológico de São Paulo.

O espaço foi construído a partir de um pedido do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE), órgão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que procurou a instituição paulista para receber, temporariamente, 27 ararinhas-azuis, provenientes de um criadouro conservacionista, em Minas Gerais, que deixou de trabalhar com a espécie.

A administração do zoológico então não apenas aceitou o pedido, mas decidiu criar uma área permanente para a aves ali. 

O centro tem 900 m2 e conta com salas de incubação de ovos, “maternidade” com controle de temperatura e iluminação, sala para atendimento veterinário, assim como ambientes com espaços cobertos e ao livre com capacidade para abrigar até 44 ararinhas.

Dos 27 indivíduos que chegaram ao zoológico paulista, seis são casais, dos quais um é recém-formado. Os outros 15 são jovens e ainda vão alcançar a maturidade sexual.

O objetivo do centro é promover a reprodução em cativeiro e se possível, no futuro, introduzir as ararinhas na vida selvagem.

Segundo o ICMBio, a população atual de ararinhas-azuis mantidas sob cuidados humanos no mundo todo, ou seja, em cativeiro, é de aproximadamente 334 indivíduos. Desse total, 85 estão em instituições no Brasil. Com isso, o zoológico ficará responsável a partir de agora pela proteção de 30% da população existente.

O novo centro de conservação não será aberto para visitação pública.

CENTRO DE REINTRODUÇÃO DA ARARINHA-AZUL NA BAHIA

Em Curaçá, na Bahia, área da distribuição original da espécie, existe um refúgio de vida silvestre, mantido pelo governo brasileiro, em parceria com a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), um criadouro de aves da Alemanha, onde está sendo realizado um programa também de reprodução e soltura na natureza.

Em março, inclusive, nasceram lá três ararinhas, filhotes de aves introduzidas na Caatinga. Ainda de acordo com o instituto, o centro baiano abriga atualmente 40 ararinhas, metade delas em vida livre.

O Conexão Planeta enviou um questionamento para a assessoria de imprensa do ICMBio para entender por qual razão as aves enviadas para o Zoológico de São Paulo não foram para Curaçá, ambiente natural da espécie.

No ano passado, houve um mal-estar entre o governo brasileiro e a ACTP. Uma denúncia feita pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) revelou que o criatório alemão tinha enviado 26 ararinhas nascidas em Berlim ao maior zoológico do mundo, na Índia, sem a autorização do ICMBio/Ministério do Meio Ambiente, responsáveis pela coordenação do programa de reintrodução (entenda melhor o caso nesta outra reportagem).

Como a ararinha-azul é uma espécie endêmica do Brasil, ou seja, só existe em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo, e foi extinta na natureza, a transferência de indivíduos só pode ser feita entre instituições que façam parte do Programa de Manejo Populacional da Ararinha-azul.

Além disso, durante a reunião com representantes da Convenção para o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) que aconteceu no final de 2023 em Genebra, na Suíça, o Brasil repudiou a recomendação apresentada para a liberação do comércio internacional da ararinha-azul e da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).

A justificativa para a proposta era de que o dinheiro obtido com a venda de tais aves seria uma “forma de financiar o trabalho de conservação e garantir populações de reserva” fora de seu habitat natural, no caso, o Brasil.

O governo brasileiro deixou bem clara a sua posição, contrária a qualquer tipo de comercialização dessas aves, como o Conexão Planeta já tinha antecipado: “Ibama e ICMBio são terminantemente contrários ao comércio de ararinhas-azuis e araras-azul-de-lear, mesmo sob argumento de custear ações para programas de conservação, e não aprovam sua venda sob qualquer justificativa” (saiba mais aqui).

(Fonte: conexaoplaneta.com.br/Monica Nunes/3 de maio de 2024/Foto: Zoológico de S. Paulo)