CRISE CLIMÁTICA E CRISE HUMANITÁRIA: DESAFIOS E CAMINHOS PARA O FUTURO

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A crise climática é uma das maiores ameaças globais deste século, afetando ecossistemas, economias e sociedades. Sua conexão com crises humanitárias é cada vez mais evidente, exacerbando conflitos, deslocamentos e vulnerabilidades em todo o mundo. 

A crise climática traz consigo um aumento de doenças, como por exemplo malária, dengue, cólera, além da desnutrição; migração da população; agravamento dos problemas relacionados a água e saneamento; educação precária.

A Crise Climática: Um Acelerador de Desastres Humanitários

As mudanças climáticas intensificam desastres naturais, como furacões, secas, inundações e incêndios florestais. Esses eventos não apenas causam destruição imediata, mas também comprometem a segurança alimentar, o acesso à água potável e a saúde pública. Populações vulneráveis, especialmente em países em desenvolvimento, sofrem desproporcionalmente, muitas vezes forçadas a migrar para escapar das condições inóspitas.

Em 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que Madagascar estava à beira de enfrentar a primeira crise de fome causada pelas mudanças climáticas no mundo. Três anos consecutivos de seca devastaram as colheitas e reduziram drasticamente o acesso a alimentos nas regiões sul do país, a seca também agravou a “estação de escassez” anual, o período entre o plantio e a colheita, resultando em uma crise alimentar e nutricional severa (Médicos Sem Fronteiras, 2022). O problema foi tão sério que o chefe do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU informou em um artigo publicado (ONU, 2021) que as famílias comiam cactos ou mesmo gafanhotos para matar a fome e sobreviver, sendo que mais de meio milhão de crianças estavam sofrendo com desnutrição severa. 

A crise climática vai além das fronteiras e tem efeitos locais, regionais e globais, Madagascar é prova disso:

 “Isso está acontecendo em um país e uma região que menos contribuíram para as mudanças climáticas” (Issa Sanogo – Representante da ONU em Madagascar).

Na Somália, duas décadas de conflito, instabilidade política e condições climáticas extremas culminaram em uma das crises humanitárias mais duradouras do mundo. Enchentes intensas e frequentes, períodos de seca e enxames de gafanhotos têm destruído os meios de subsistência da população e comprometido a segurança alimentar, com as crianças sendo as mais atingidas (Médicos Sem Fronteiras, 2022).

A mudança nos padrões de chuva e o aumento da temperatura contribuem para aumento de insetos, mosquitos se reproduzem mais rápidos e sobrevivem em lugares onde antes não sobreviviam, além dos insetos há também a proliferação de carrapatos, piolhos e pulgas e com isso o aumento de doenças como alergias e doença de Lyme. 

O aumento de enchentes, inundações e ciclones podem além de causar a morte de pessoas contribuir para o aumento de cólera, hepatite E, gastroenterite e  leptospirose.

Deslocamento e Migração

A crise climática já deslocou milhões de pessoas. Os “refugiados climáticos” fogem de áreas que se tornaram inabitáveis devido à elevação do nível do mar, desertificação ou desastres climáticos extremos. Essas migrações em massa criam pressões adicionais em áreas urbanas e países vizinhos, muitas vezes levando a tensões sociais e econômicas.

 “Dos mais de 120 milhões de deslocados forçados no mundo, três quartos vivem em países fortemente impactados pelas mudanças climáticas. Metade está em locais afetados por conflitos e riscos climáticos, como Etiópia, Haiti, Mianmar, Somália, Sudão e Síria (ACNUR, 2024).

De acordo com o relatório Sem Escapatória: Na Linha de Frente das Mudanças Climáticas, Conflito e Deslocamento Forçado (2024), prevê-se que até 2040 o número de países enfrentando condições climáticas extremas aumente de três para 65, incluindo muitos que abrigam pessoas deslocadas. Além disso, estima-se que a maioria dos campos e abrigos de refugiados enfrentará o dobro de dias de calor extremo até 2050.

 Conflitos e Instabilidade

A competição por recursos naturais escassos, como água e terras aráveis, exacerba tensões e pode levar a conflitos violentos. Em regiões já instáveis, as mudanças climáticas podem atuar como um catalisador para guerras e violência, complicando ainda mais os esforços humanitários.

Segundo o relatório Sem Escapatória: Na Linha de Frente das Mudanças Climáticas, Conflito e Deslocamento Forçado (2024) os impactos das mudanças climáticas estão agravando os fatores que levam ao deslocamento, tanto dentro quanto além das fronteiras nacionais. Nos últimos dez anos, desastres relacionados ao clima resultaram em 220 milhões de deslocamentos internos, o que equivale a cerca de 60.000 deslocamentos por dia (IDMC, 2024). 

Em 2023, mais de um quarto desses deslocamentos ocorreu em cenários frágeis e afetados por conflitos. Esses deslocamentos podem ser temporários ou prolongados, com as pessoas frequentemente tentando permanecer o mais próximo possível de suas comunidades, na esperança de retornar a suas terras e casas assim que possível (Relatório Sem Escapatória: Na Linha de Frente das Mudanças Climáticas, Conflito e Deslocamento Forçado, 2024).

 Respostas Humanitárias e Políticas

A resposta à crise climática deve ser integrada com as estratégias de resposta humanitária. Isso inclui o desenvolvimento de infraestruturas resilientes, políticas de mitigação e adaptação, além de sistemas de alerta precoce. A cooperação internacional é essencial para abordar as causas profundas da vulnerabilidade climática e garantir que os recursos sejam adequadamente direcionados para as áreas mais necessitadas.

Soluções e Caminhos para o Futuro

  1. Adaptação e Mitigação: Investir em infraestrutura resiliente e em tecnologias de energia renovável para reduzir as emissões de carbono.
  2. Políticas de Migração: Desenvolver políticas que reconheçam e protejam os refugiados climáticos.
  3. Educação e Conscientização: Promover a educação sobre os impactos das mudanças climáticas e incentivar práticas sustentáveis.
  4. Cooperação Global: Fortalecer os acordos internacionais para combater as mudanças climáticas de maneira conjunta.

 A crise climática e a crise humanitária estão intrinsecamente ligadas, e suas soluções exigem uma abordagem integrada e global. Somente através de ações coordenadas e comprometidas poderemos mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger as populações mais vulneráveis.

Referências:

ACNUR, 2024

IDMC, GRID, (2024), Global Report on Internal Displacement, IDMC, GRID, Geneva, Switzerland, 2024.

Médicos Sem Fronteiras, 2022

Organização das Nações Unidas (ONU), 2021

Relatório Sem Escapatória: Na Linha de Frente das Mudanças Climáticas, Conflito e Deslocamento Forçado, 2024.

(Da redação. Fonte – Instituto Água Sustentável – Escrito por Bruna Soldera em 14 Janeiro 2025 Postado em Blog.)