DESFILE NO ATACAMA CHAMA ATENÇÃO PARA LIXÃO COM TONELADAS DE ROUPAS

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Peças vêm de outros países.O Chile é o terceiro maior importador de roupas usadas do mundo. Muitas são vendidas em brechós, mas uma quantidade enorme vai parar no Atacama.

 O Deserto do Atacama, ao norte do Chile, atrai turistas do mundo inteiro interessados em conhecer de perto gêiseres, desertos de sal, lagoas e um céu estrelado como poucos no planeta. 

Mas há algo mais na região e que pode ser visto do espaço: uma montanha de cerca de 59 mil toneladas de roupas e sapatos descartados, um lixão do mercado da moda, gigantesco e vergonhoso.

Estima-se que 30 mil toneladas desses resíduos – casacos, vestido, calças, jaquetas e o que mais um dia esteve em alguma prateleira de uma loja – sejam jogadas ali anualmente. E esse lixo todo não é chileno. Chega ao país vindo, sobretudo, da Europa e dos Estados Unidos.

Para chamar a atenção sobre esse absurdo e o estímulo ao consumo insustentável feito pelas empresas do setor da moda, várias organizações internacionais se juntaram para promover em abril o “Atacama Fashion Week”, um desfile em meio a esse aterro sanitário de roupas no meio do deserto.

A iniciativa foi idealizada pela ONG Desierto Vestido e contou com a parceria da agência de publicidade brasileira Artplan, da Fashion Revolution Brasil e do Instituto Febre. Mauricio Nahas, profissional renomado no mundo da moda, assinou o editorial fotográfico do projeto.

Todas as roupas que aparecem no desfile foram produzidas com restos encontrados no lixão.

“Estamos aqui todos os dias do ano, nesta luta difícil. E vemos o problema piorar a cada dia. Precisávamos fazer algo grande para chamar a atenção de todos os envolvidos no problema para que pudéssemos discutir uma solução . O Atacama não pode esperar mais”, diz Ángela Astudillo, cofundadora da Desierto Vestido, uma organização sem fins lucrativos dedicada à reciclagem têxtil.

Segundo ela, a indústria da moda se mantem calada sobre esse descaso ambiental.

“Mesmo que possamos ver isso do espaço, o cemitério de roupas ainda é uma crise silenciosa. É uma enorme pilha de roupas de baixa qualidade ou danificadas, herdadas do mercado de fast fashion dos Estados Unidos, Europa e Ásia, que levará 200 anos para se decompor. A emergência também está relacionada com o clima”, alerta Ángela.

O Chile é o terceiro maior importador de roupas usadas do mundo. Muitas são vendidas em brechós, mas uma quantidade enorme vai parar no Atacama.

“Uma mudança estrutural na indústria da moda é crítica e, como cidadãos, todos temos um papel a desempenhar. Das marcas, queremos responsabilidade e compromissos robustos. Dos governos, precisamos de exigir políticas públicas e supervisão. Com a sociedade civil, o nosso papel é para disseminar informações e impulsionar ações de mobilização”, afirma Fernanda Simon, diretora executiva da Fashion Revolution Brasil.

Assista vídeo sobre o evento clicando aqui: https://youtu.be/hJZVB00WhRA 

(Da redação, com conteúdo de conexaoplaneta.com.br/8/5/24 – Suzana Camargo – Foto: Empresas da moda “exportam” seu lixo para outros países e acham que assim resolvem o problema/  Mauricio Nahas / Atacama Fashion Week)