DIA NACIONAL DE TEREZA DE BENGUELA E DA MULHER NEGRA É COMEMORADO ANTECIPADAMENTE
Tereza de Benguela foi líder de quilombo na região do Vale do Guaporé, no Mato Grosso; durante as comemorações, foi enfatizado o fato de que a mulher negra no Brasil ainda luta por respeito.
O Senado comemorou ontem, 11/7, antecipadamente, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra celebrado em 25 de julho. Tereza liderou por 40 anos, no século 18, um quilombo na região do Vale do Guaporé (MT). Para a mestra em psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Izete Santos, a mulher negra no Brasil ainda luta por respeito.
— Somos as mulheres que são mais vítimas de feminicídio. E as mulheres negras são as menos amadas, porque os homens preferem as mulheres brancas. Então até para sermos amadas nessa sociedade, é cruel, é difícil. Nossa luta é uma luta de resistência para sermos respeitadas como negras, ocuparmos espaços de poder, porque é uma selva muito cruel com as mulheres em geral, que dirá com as negras.
O pedido para a realização da sessão partiu da senadora Leila Barros (PDT-DF), para quem o Senado está “muito vigilante” às ameaças que tem sofrido a deputada estadual Andreia de Jesus [PT-MG], que sofre cotidianamente com o racismo estrutural em sua atuação política”.
— A Procuradoria da Mulher no Senado, à qual presido, está atenta a esse caso. Ex-empregada doméstica, em 2018 tornou-se uma das três primeiras deputadas negras da história da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Diante da seguida e continuada violência racial que vem sofrendo, muitas dessas ameaças dizem explicitamente que ela será a próxima Marielle Franco. Mas não será! Todos os nossos olhos estão postos em Minas Gerais — disse Leila.
A senadora ainda abordou outros aspectos do racismo estrutural que fere as mulheres negras no Brasil.
— A abolição da escravatura não foi coroada e seguida de políticas públicas a favor da causa negra. Muito ao contrário, o que se viu foi uma chuva de leis que prejudicaram a integração da população negra à sociedade brasileira.
A defensora-pública-geral do Distrito Federal, Maria de Nápolis, afirmou que o racismo estrutural se traduz em índices que mostram as dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras no Brasil.
— O Atlas da Violência 2021, do Ipea, mostra que 66% de todas as mulheres assassinadas em nosso país são negras. E 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha de pobreza, segundo o IBGE. As negras continuam na base da pirâmide da desigualdade de renda no Brasil, recebem menos da metade do salário de homens brancos e bem menos que as mulheres brancas. Elas são as principais vítimas do feminicídio, da violência doméstica e de mortalidade materna.
Izete Santos também ressaltou que a história oficial minimiza a participação negra na abolição oficial da escravatura.
— Na falsa abolição de 1888, aprendemos na escola até hoje que a princesa Isabel foi a heroína da libertação, o que não é verdade. O que ela fez foi nada mais que cumprir seu papel como uma pessoa que tinha que assinar aquele documento, o que poderia ter sido feito por qualquer pessoa. Foram os negros que lutaram por sua liberdade! E aí quando a princesa Isabel assinou o documento, o Estado não criou nenhuma política pública para os negros, que durante muitos anos tiveram que trabalhar forçadamente pro enriquecimento dos nobres, e nem para as negras, que tinham que criar os filhos de seus senhores e serem estupradas pelos senhores de engenho — disse.
Fonte: Agência Senado
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