EM ESTREIA NESTA QUINTA-FEIRA (20), NOVO FILME DA BARBIE PROVA QUE ROSA COMBINA COM TUDO

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Abusando de tons pastéis, imaginação e nostalgia, Greta Gerwig entrega o melhor filme da sua carreira; confira a crítica com alguns spoilers

O jornalista Carlos Soares, do site showmetech.com.br fez uma crítica a respeito do filme Barbie, que está estreando esta semana. Compensa reproduzir a crítica, pelas informações que traz ao público:

Esqueça tudo que você criou de expectativas para assistir ao filme Barbie. A produção da Warner Bros. vai te mostrar algo totalmente diferente. Dirigido pela cineasta Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres, 2019), este longa leva o espectador a experimentar uma série de visões e sentimentos dificilmente encontrados anteriormente ao assistir a um filme sobre um brinquedo. Na verdade, é porque a boneca mais famosa do mundo é muito mais do que isso. Pelo menos é o que conta a produção estrelada por Margot Robbie (Eu, Tonya, 2017).

Ah, a crítica terá alguns spoilers, então avisaremos na hora.

A trama

Vivendo na Barbilândia, Barbie e suas outras milhares de versões levam uma vida perfeita, regada a muito rosa, refeições de mentirinha, praia, festas e looks invejáveis. Definitivamente, possuem o melhor de tudo, enquanto dividem seu universo com os Kens, que são apenas os Kens mesmo.

No entanto, em certo momento tudo começa a mudar para a Barbie Estereotipada, interpretada por Margot Robbie. A personagem começa a se deparar com situações desagradáveis, como banho (sem água) gelado, tombos e o abominável fato de seus calcanhares tocarem o chão.

Aceitando que está com defeito, a boneca da Mattel parte em busca de soluções e se aventura no tão temido e desconfortável mundo real, ao lado do Ken de Ryan Gosling (Blade Runner 2049, 2017).

Atenção! Esta crítica possui alguns spoilers.

Barbielândia

No quarto filme de sua carreira, Greta Gerwig coloca em cena muito do que aprendeu com suas obras e personagens fora do padrão aceito socialmente e apresenta um mundo que leva o público para a sua juventude, onde tudo era fácil, ou pelo menos parecia ser. A criação da Barbielândia, por exemplo, é a clara representação das brincadeiras infantis, onde bonecos se alimentavam de pratos desprovidos de qualquer alimento e não precisavam de chão ou escadas para se locomoverem.

Por se tratar se um filme que fala, antes de tudo, sobre brinquedos, era de esperar os montantes de bom humor que tomam conta da sala de cinema e fazem com que as pessoas assistam à obra com um sorriso no rosto. Mas a grande chave desse ponto se encontra no equilíbrio entre as piadas leves, já que é o filme de uma boneca, e sátiras diretas ao sistema patriarcal na qual se encontram os seres humanos atualmente.

Aliás, críticas certeiras ao machismo junto a questões envolvendo o papel da mulher são figurinhas carimbadas nas obras de Greta Gerwig. Como é possível ver em Lady Bird – A Hora de Voar e Adoráveis Mulheres, a diretora não poupa o público quando a ideia é trazer luz à discriminação de gênero.

Sátira ao machismo e misoginia

Em Barbie, isso tudo fica muito evidente quando a personagem principal precisa sair de seu lar, em uma sociedade praticamente dominada por mulheres, e ir para o mundo real, onde os homens são os mandatários, mesmo que tentem disfarçar isso, como é dito no próprio filme. Para envolver questionamentos acerca do assunto no longa-metragem, a diretora utiliza o personagem de Ken, muito bem vivido por Ryan Gosling, que esbanja carisma e presença de tela.

Ken fica admirado ao chegar à Califórnia do mundo real e perceber que, neste universo, quem dá as ordens são os homens e seus cavalos. Este que, por sinal, se torna o grande plot da trama, quando o boneco retorna à Barbielândia com a intenção de instaurar uma revolução e dar aos homens o direito de controlar o que bem quiserem.

Arco principal

Retornando para o arco de Barbie, a boneca a princípio se vê perdida em um ambiente completamente agressivo e assustador para a sua personalidade inocente. Com a missão de encontrar a sua dona — a garota a qual pertence —, ela passa por situações que vão moldando não apenas a sua visão de mundo, mas também a visão sobre si mesma.

Iludida com a máxima de que as bonecas Barbies foram feitas para melhorar a vida de toda as meninas do mundo, a personagem principal começa a perceber que a sua criação, com a imagem de um ser perfeito esteticamente, com status de inalcançável para a realidade, se tornou ofensiva. Afinal, não são poucas as pessoas que já se culparam por não ter o corpo desenhado e o rosto delicado da boneca.

E é nesse ponto em que o longa-metragem acerta em cheio. Ao perceber que sua dona não é mais uma garotinha de cinco anos, mas sim uma mãe trabalhadora, cercada de problemas e crises existenciais, Barbie passa a questionar sua real função e entende que não há nada de errado em ser comum e enfrentar obstáculos do cotidiano. Muito pelo contrário, após encontrar com sua criadora, Ruth Handler, vivida por Rhea Perlman (Matilda, 1996), ela descobre que a vida que leva não é a mesma que deseja mais.

Depois de se juntar a suas novas amigas, Barbie, mais as milhares de outras versões da boneca, recuperam a Barbilândia da forma mais prática possível: se aproveitando do ego masculino e colocando os Kens, que possuem carência e necessidade de atenção, uns contra os outros.

Mas se engana quem pensa que o filme acaba neste momento. Pegando o público de surpresa, Greta Gerwig reserva os minutos finais do filme para colocar em tela uma conversa profunda da personagem principal com sua criadora, sobre a real função da boneca. Decerto, quem ainda não tinha chorado ao longo do filme, se encontrou com os olhos lacrimejando ao ver os flashbacks tomando conta da tela, reproduzindo as sensações que envolvem o emocional de Barbie.

Trilha sonora e participações especiais

Como se não bastasse, o longa-metragem ainda conta com participações especiais. Uma das mais marcantes, de fato, é a presença do ator John Cena (O Esquadrão Suicida, 2021) aparecendo como Ken sereio e arrancando sorrisos sinceros do público. O personagem até surge em certo momento como par romântico da Barbie sereia, interpreta pela cantora Dua Lipa.

Tocando no assunto da trilha sonora, aliás, essa anda em perfeita harmonia com o desenrolar da história. Utilizada como artifício técnico para enfatizar situações que ocorrem na trama, as músicas apresentadas em Barbie surgem como complemento para o espectador compreender a situação que se passa em tela. Diferente das antigas animações da boneca, onde a cantoria entrava em cena a todo o momento, aqui a dosagem de melodias aparece na medida ideal, liderada pela impactante “Dance The Night”, que levanta o astral do longa.

Pontos Negativos

Em uma escolha de palavras mais adequada, é melhor se referir a este assunto como situações que poderiam ser melhoradas, já que é difícil pontuar algo realmente ruim nesse filme. Uma coisa que pareceu um pouco estranha foi a rápida aceitação da personagem Sasha, garota que na qual Barbie acreditava que era sua dona. A princípio, a jovem possuía forte aversão à imagem da boneca, mas parece ter aceitado muito rápido a presença da personagem principal.

Outro ponto é o grande tempo de tela do personagem de Ryan Gosling. É inegável que o ator brilhou no papel e superou a crítica de muitos de duvidavam da sua escalação. No entanto, como o Ken se torna uma espécie de vilão do filme, ele talvez ter recebido maior atenção, quase que dividindo o tempo de história com Barbie, que é a real protagonista, pode ser um pouco problemático. No entanto, nada que trabalhe a experiência ou faça o espectador perder interesse na trama.

Conclusão

Com o fim do longa, pode-se considerar este como um dos melhores trabalhos da carreira de Greta Gerwig. A reproduzir uma versão nada convencional da boneca mais famosa do mundo, a diretora não só proporciona ao público a oportunidade de se ver em algumas das personagens, como acontece no excelente monólogo da atriz America Ferrera (Ugly Betty, 2006), que vive a personagem Glória, mãe de Sasha, onde a mesma expõe as dores e indignações diárias de ser mulher em um mundo completamente dominado por homens, mas também permite que a Barbie se enxergue como uma pessoa comum.

Em determinado momento do filme, quando a boneca da Mattel se vê sem saída diante de situações completamente conflituosas, é anunciada a criação da sua versão depressiva para vender ao público no mundo real. Ou seja, a boneca criada para ser perfeita, e que foi acusada de atrasar em cerca de 50 anos a luta feminista, finalmente consegue absorver o peso de ser quem ela é.

Dizer que tudo que existe no mundo serve para elevar a presença dos homens é chover no molhado. Portanto, quando uma produção de Hollywood utiliza diálogos, argumentos, elementos gráficos, cor rosa e piadas com brinquedos, para mostrar ao seu público que, sim, é possível questionar essa cultura machista, é sinal de que ele conseguiu cumprir o seu papel social, ao mesmo tempo em que entregou o devido entretenimento aos espectadores de todos os gostos e idades que estavam ansiosos para este grande lançamento.

(showmetech.com.br – Carlos Soares – 19 de julho de 2023)