ESTUDO DEMONSTRA QUE GELO DO ÁRTICO PODE DERRETER ANTES DO ESPERADO

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Estudo publicado em publicação especializada traça cenário catastrófico para o próximo período de 9 a 20 anos; redução nas emissões de gás carbônico podem frear previsão. O estudo é da Nature Communications 

Os principais meios de comunicação do mundo ontem ficaram alvoroçados. E não é para menos: estudos feitos pela Nature Communications comprovam que o degelo do Ártico, que se falava que demoraria décadas ou no máximo um século, pode estar mais perto do que parece. As previsões são de especialistas da Universidade de Gotemburgo e da Universidade do Colorado.

A respeito do assunto, o fotógrafo sueco Christian Åslund tem um trabalho admirável que mostra como as mudanças climáticas estão afetando o Oceano Ártico. Em seu site oficial, ele recriou algumas imagens do início do século passado ao revisitar os locais entre 2022 e 2024. As informações são do site Olhar Digital (O gelo do Ártico pode derreter bem antes do que imaginávamos – Olhar Digital)

A transformação da paisagem é assustadora. O lugar onde as fotografias foram tiradas é Svalbard, um conjunto de ilhas que fica em um território ártico norueguês.

Os registros de Åslund comprovam na prática algo que os cientistas vêm alertando há um bom tempo: o aquecimento global está derretendo as nossas geleiras. Qualquer pesquisador sério afirma que, no atual cenário, a situação é quase irreversível.

Probabilidade e modelos de computação

  • O estudo apontou que o derretimento total do gelo marinho da região pode acontecer já no verão de 2027 – ou seja, dentro de 3 anos.
  • Essa é a previsão mais pessimista (mas ainda assim com possibilidade real de acontecer).
  • Na média, a maioria das simulações indicou que esse dia sem gelo pode ocorrer dentro de 9 a 20 anos após 2023.
  • A máquina entregou milhares de cenários e os pesquisadores selecionaram um total de 300, que eles afirmaram ser os mais realistas.
  • Eles explicam que o mundo já alcançou todos os eventos necessários para fazer o gelo derreter.
  • Isso só não teria acontecido ainda por que esses fatores não ocorreram em uma determinada ordem.
  • O aquecimento das correntes oceânicas vem afinando a camada de gelo ano a ano.
  • Mais frágil, ela está mais suscetível a quebrar, sobretudo com as recentes ondas de calor.
  • Para os cientistas, o dia sem gelo no Ártico não é mais um “se” e sim um “quando”.

Consequências do degelo e dá para reverter?

A mudança de um mar branco para um mar azul no Ártico pode trazer repercussões negativas não só para a região, mas para todo o planeta.

Os cientistas não cravam com certeza o que aconteceria, mas trabalham com projeções. Inicialmente, todo o ecossistema local, que depende do gelo marinho para sobreviver, vai sofrer.

Algas que crescem no fundo do mar podem morrer, assim como alguns peixes. Os ursos polares, por sua vez, perderão as plataformas de caça. As espécies precisariam, então, procurar um outro lugar para viver, provocando um desequilíbrio ambiental. O clima também seria afetado, com um aumento expressivo dos chamados eventos extremos.

O cenário, de fato, não é dos mais otimistas. O mesmo modelo de computação, porém, nos entregou um fio de esperança. A comunidade científica, no entanto, afirma que essa possibilidade é bem remota.

Para evitar esse dia sem gelo no Ártico, o mundo precisa limitar o aquecimento global.

 “Os modelos climáticos mostram que, a menos que consigamos ficar abaixo de 1,5 graus Celsius globalmente na média climatológica, o que está se tornando cada vez menos provável a cada mês, é garantido que veremos condições sem gelo neste século”, disse Alexandra Jahn, uma das autoras do estudo, ao jornal britânico The Independent.

O problema é que estamos cada vez mais distantes dessa meta. De acordo com a ONU, a Terra está caminhando para superar a marca de 3,1 graus acima dos níveis pré-industriais até o fim deste século. Se isso se confirmar, as consequências podem ser “catastróficas”.

As informações são do The Independent.

ALERTAS NÃO FALTAM

Além da ONU, que preocupa-se integralmente com o problema do aquecimento global, ativistas e organizações não governamentais também se dedicam ao estudo do problema, que afeta o futuro da humanidade.

Em entrevista concedida ao Jornal da USP, em setembro passado,  professor Paulo Artaxo, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP, alertou que o derretimento vai alterar a circulação do oceano, afetando a biodiversidade e afetando cadeiras alimentares e ecossistemas inteiros”.

Situado em uma das regiões mais frias do mundo, o Ártico possui cerca de 21 milhões de quilômetros quadrados, sendo que desse total 65% é composto pelo Oceano Glacial Ártico. Com as mudanças climáticas, no entanto, a região vem sofrendo alterações significativas – antes do esperado, o Ártico pode ter seu primeiro verão sem gelo. 

De acordo com um estudo publicado pela revista britânica Nature, o primeiro dia sem gelo na região pode acontecer até a década de 2030. 

O professor Paulo Artaxo alerta sobre os impactos que esse derretimento das geleiras pode causar no meio ambiente: “É importante perceber que o Ártico é uma das regiões que estão se aquecendo de maneira mais rápida em todo o planeta. E a previsão dos modelos climáticos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas indicam um aumento de temperatura de 7° a 8° para o Ártico ao longo dos próximos 30, 40 anos, a depender do cenário de emissões. Isso realmente está impactando o ecossistema Ártico de uma maneira muito forte, com o derretimento do gelo marinho e também com o derretimento de geleiras continentais, o derretimento dessas geleiras continentais ocasionam aumento do nível do mar”, afirma.

Os pesquisadores analisaram as mudanças de 1979 a 2019, comparando diferentes dados de satélite e modelos climáticos para avaliar como o gelo marinho do Ártico estava mudando, e eles perceberam que o declínio do gelo marinho foi, em grande parte, resultado da poluição causada pelo homem que aquece até hoje o planeta.

Consequências de um verão sem gelo

Com a alteração de seu habitat natural, os ecossistemas podem entrar em colapso. As geleiras são habitats importantes para várias espécies. O derretimento pode ameaçar a biodiversidade, afetando cadeias alimentares e ecossistemas inteiros. Não são apenas a fauna e a flora que sofrem com o aquecimento global, mas sim, também, a sociedade. Paulo Artaxo explica as consequências mundiais que o derretimento dessa região pode causar e acrescenta a dificuldade de previsão precisa dessas mudanças.

 “Esse derretimento vai alterar a circulação do oceano e isso é muito importante, porque a circulação oceânica redistribui fortemente o calor de regiões tropicais para regiões temperadas, como, por exemplo, a corrente do Golfo no Atlântico Norte. Isto vai trazer mudanças na distribuição de temperatura, mudanças na distribuição de precipitação e chuvas no mundo inteiro”, discorre.


permafrost, ou solo permanentemente congelado, desempenha um papel significativo nas discussões sobre o aquecimento global. Ele armazena grandes quantidades de carbono na forma de matéria orgânica que, ao longo de milhares de anos, ficou presa no gelo. Quando o permafrost começa a descongelar devido ao aumento das temperaturas globais, esse carbono é liberado na forma de dióxido de carbono e metano, dois potentes gases de efeito estufa.

Esse processo de liberação de gases pode acelerar o aquecimento global, criando um ciclo vicioso: o aquecimento provoca o descongelamento do permafrost, o que, por sua vez, libera mais gases de efeito estufa, aumentando ainda mais as temperaturas. 

O professor comenta sobre o impacto desse processo de aquecimento e a dificuldade de previsões precisas. “É uma mudança tão drástica, que hoje é difícil você fazer uma previsão com alta precisão de quais serão essas mudanças, onde e quando. Mas, dada a magnitude da influência do Ártico no clima global, nós temos certeza que esse impacto vai ser muito significativo. Então, nós temos grandes quantidades de metano não armazenadas no gelo sobre o Oceano Ártico, mas armazenadas no que a gente chama de permafrost, que são regiões continentais da Sibéria e do Canadá, principalmente onde bactérias e matéria orgânica que estão lá há milhões de anos, ao se decompor, emitem metano para a atmosfera”, reitera.

Ainda há tempo?

Apesar de os danos ao planeta já serem irreversíveis, ainda se faz necessário encontrar formas de tentar desacelerar o derretimento do Ártico. Para isso, Paulo Artaxo recomenda a mudança imediata de ações do ser humano. 

O aquecimento global, que já ultrapassou 1,5° Celsius, em média, em todo o planeta, está fazendo com que esse derretimento do gelo do Ártico e do gelo armazenado na Groenlândia, no Canadá e na Sibéria seja irreversível. Então, não há como hoje refrear o aquecimento que a gente provocou ao longo dos últimos 30, 40 anos. Entretanto, reduzir emissões de gás de efeito estufa hoje é a melhor maneira de prevenir futuros desastres climáticos como esse do derretimento do gelo do Ártico. Temos que reduzir as emissões de gás de efeito estufa, temos que terminar a exploração de combustíveis fósseis em todo o planeta e acabar com o desmatamento de florestas tropicais como a da Amazônia. Isso é uma tarefa urgente se quisermos diminuir os impactos das mudanças climáticas no clima global do nosso planeta”, conclui.

(Da redação. Fontes: Olhar Digital, The Independent e Jornal da USP – Imagens: (1) – O trabalho do fotógrafo Christian Åslund revela uma transformação absurda na paisagem do Ártico – Imagem: Reprodução/Christian Åslund; (2) O urso polar seria uma das espécies mais afetadas pelo degelo do Oceano Ártico – Imagem: MasonSu/Shutterstock)

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