GLORIA MARIA, INSPIRAÇÃO PARA MUITAS GERAÇÕES DE PROFISSIONAIS, MORRE AOS 73

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 Jornalista Gloria Maria faleceu nesta quinta-feira, 2 de fevereiro, de câncer. A profissional era um rosto conhecido dos brasileiros, que a respeitavam e estavam acostumados a ver sempre o seu sorriso, sua risada contagiante e espontaneidade.

O Brasil deu adeus nesta quinta-feira (02/02) à Gloria Maria, um ícone do jornalismo. Mulher e negra, em seu trabalho num país que, no passado e ainda hoje, continua discriminando mulheres e negros, ela nunca se deixou intimidar.

Determinada e com uma presença marcante, nas últimas décadas a profissional era um rosto conhecido dos brasileiros, que a respeitavam e estavam acostumados em ver sempre o seu sorriso enorme, sua risada contagiante e sua espontaneidade.

Mais do que isso, Gloria Maria foi inspiração para uma centenas de jovens que, assim como ela, abraçaram a carreira de contar histórias e levar até o público mais informações e a verdade.

“Gloria Maria descontraía sem perder o senso da notícia. Viveu, amou e trabalhou plenamente, enquanto escrevia linhas importantes da história do jornalismo brasileiro”, declarou o Grupo Globo esta manhã.

Diagnosticada com um câncer de pulmão em 2019, ela fez tratamento e melhorou, mas algum tempo depois apareceu uma metástase no cérebro. Voltou a enfrentar a doença, passou por uma cirurgia, todavia, nos últimos dias, seu estado piorou.

Filha de um alfaiate e de uma dona de casa, Glória Maria Matta da Silva estudou em escolas públicas. O início da carreira foi na década de 70, como rádio-escuta, na casa onde trabalharia por mais de 50 anos, a Rede Globo de Televisão. 

Foi a primeira repórter a fazer uma entrada ao vivo no jornal mais importante da emissora, o Nacional. Viajou o mundo produzindo reportagens para o Fantástico e o Globo Repórter.

“Sou movida pela curiosidade e pelo susto. Tenho que perder a racionalidade, deixar a curiosidade e o medo me levarem. Aí faço qualquer coisa”, dizia Glória Maria.

Durante dois anos sabáticos, fez trabalho voluntário na Índia e na Nigéria. Em 2009, adotou na Bahia duas filhas, Maria e Laura, que hoje têm 15 e 14 anos.

Após a notícia de sua morte, as redes sociais foram tomadas de manifestações e homenagens ao seu importante papel para o jornalismo e para a luta contra a discriminação racial no Brasil. A nova ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi uma das que deixou sua mensagem.

“Acabamos de receber a notícia de que Glória Maria faleceu. Meus sentimentos à família. Quem é mulher negra sabe da importância de tê-la visto na televisão. Glória é considerada a primeira repórter negra da televisão e sempre será lembrada como sinônimo de competência”.

“Difícil encontrar palavras pra me despedir…mas me brotam palavras pra dizer o que Glória representa: poder, inteligência, caráter, personalidade, identidade, possibilidades, viagens, vigor, bom humor, gargalhadas, dança, musica, champanhe, passaporte, mundo! É isso, Glória mudou meu mundo, mudou o nosso mundo! E todos os passos dados por ela são seguidos por mim e por todas nós. Obrigada, Glória, muito obrigada! Te amo, minha amiga”, escreveu a atriz Taís Araújo.

Já a cantora Zezé Motta, lembrou do ativismo durante os anos da ditadura militar.

“Estávamos no início dos anos 70, o período da ditadura do presidente Médici. Glória era atrevida, teve vários problemas com os militares. Enfrentou dificuldades por ser mulher, por ser negra e por ter vindo de uma família pobre. Mas com muito trabalho, mostrou muita dignidade e conseguiu respeito, sua história sempre foi de superação. Foi desbravadora. Foi a primeira mulher e primeira negra a apresentar um jornal na televisão brasileira. Desde sempre derrubando gigantes! Ela, devota de Iemanjá, partiu no dia que é comemorado o dia da Rainha do Mar. Descanse em paz amada”.

“Uma precursora, que abriu caminhos para gerações de mulheres negras, não só no jornalismo, mas em diversas áreas”, afirmou a deputada Erika Hilton.

A colega de profissão e de Rede Globo, Ana Paula Santos também usou seu perfil nas redes sociais para se despedir. “Glória Maria inspirou muitas garotas da minha geração. Eu tive a oportunidade de conversar com ela e dizer que o sonho de ser jornalista se realizou pra mim porque ela começou uma carreira linda com muita coragem. Toda conversa no camarim eu repetia: “Glória, te amo”.

“A Glória Maria abriu para mim um portal, um portal do que eu chamo do mundo do que é possível. Era possível, era meu direito. Era preciso que pessoas como eu ocupassem lugares de destaque. E foi vendo Glória que eu tive essa visão mesmo, essa abertura, porque se passou primeiro pelo mundo do sonho, porque é só o sonho, gente, é só o sonho que nos leva a concretizar as coisas e a Glória teve esse papel para mim, de despertar o sonho de poder estar diante do vídeo é na maior emissora do país e para muita gente, muita gente tem Glória Maria como referência”, destacou Maju Coutinho.

O jornalista Marcos Uchôa redigiu um longo texto, carinhoso e preciso.

“A Glória Maria foi durante décadas uma coisa rara no jornalismo da Globo e do Brasil: o sucesso de uma pessoa negra num mundo branco. E só isso já era uma imensa inspiração para o país pobre e negro que somos. E ela era mesmo um sucesso, carismática, forte, características infelizmente tão necessárias para se firmar num mundo racista. Ela aproveitou muito a vida, uma mulher que muito cedo quis gozar da liberdade de fazer o que quisesse, sem se preocupar com a opinião dos outros. E a decisão dela de ser mãe, corujíssima, já com quase 60 anos, foi um exemplo disso. Nova experiência, de amor e de generosidade”.

(Conexão Planeta – 2 de fevereiro de 2023 –  Suzana Camargo – Foto: divulgação Rede Globo de Televisão)