NO DIA DA AMAZÔNIA, 7% DA FLORESTA É DESTRUÍDA A CADA MÊS

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Ao contrário do que popularmente se supõe, a Amazônia não é o “pulmão do mundo”, mas sua importância é vital para a sobrevivência da própria espécie humana; a conservação da floresta amazônica realmente é imprescindível, sob pena de aumento da temperatura global e inviabilidade da raça humana

Em 2019, o cientista Antonio Nobre, ao ser perguntado se a Amazonia é o pulmão do mundo, respondeu Sim e Não! – na verdade, o cientista, um dos maiores especialistas em Amazônia, queria esclarecer e talvez ajudar a acalmar a polêmica em torno da expressão que muita gente usa, há muito tempo, para revelar sua preocupação com a Amazônia ou para dizer o quanto ela é importante para a humanidade. 

A Amazônia é especialidade de Nobre, portanto, ninguém mais interessante para esclarecer o assunto. Ele é autor do relatório O Futuro Climático da Amazônia sobre a importância da floresta e seu papel no contexto das mudanças climáticas, lançado em 2014.

Todos os dias, o cientista acompanha e comenta, no Facebook, as notícias mais relevantes sobre desenvolvimento sustentável, ciência, árvores, reflorestamento… Fica empolgado a cada notícia sobre mutirões de plantio pelo mundo. Agora, especialmente, ele acompanha notícias e comentários sobre a floresta amazônica, que ainda está em chamas.

Mas o fato é que a Amazônia não é o pulmão do mundo. Essa afirmação certamente é fruto de licença poética, uma maneira de dizer que a Amazônia é extremamente vital para a humanidade.

Os verdadeiros pulmões do mundo são os oceanos devido às algas marinhas. Elas produzem mais oxigênio pela fotossíntese do que precisam e o excesso é liberado para o ambiente. Já a floresta amazônica libera muito menos oxigênio para a atmosfera porque, a maior parte do gás que produz, é consumido por ela.

Esta é uma explicação bem resumida do que vai pelos livros de Ciência e pela internet. Mas o que quero mostrar, aqui, é o texto que Nobre publicou no Facebook pra responder à questão que lançou, e que intitula este post. Dizer “Sim e Não!” só aguçou a curiosidade de quem esperava uma resposta mais objetiva.

Assim, entre explicações científicas e reflexões generosas, ele conta o que acontece com o CO2 e com O2 na floresta, quase como numa aula de biologia daquele professor que a gente mais gosta.

No final do texto de Nobre, incluí um vídeo – que faz parte do especial Dança da Chuva, produzido pela Agência Fapesp, e tem pouco mais de seis minutos – no qual ele fala dos Rios Voadores, que abastecem o sudeste do país com chuvas e umidade. Um ótimo complemento para a leitura.

A seguir, o artigo de Antonio Nobre:

 

A Amazônia é o pulmão do mundo?

por Antonio Nobre

“Pulmão é o órgão do corpo animal que faz troca de gases. As folhas das plantas (todas plantas: no mar ou em terra) fazem troca de gases. E, não por coincidência, elas trocam os mesmos gases trocados pelos animais (CO2 e O2). O processo que nas plantas consome CO2 e produz O2 chama-se fotossíntese. O processo que nos animais (e plantas também) consome O2 e produz CO2, chama-se respiração. 

A floresta amazônica saudável – e, nos tempos atuais, de aumento da concentração de CO2 na atmosfera – sequestra CO2 (netamente). Mas, quando assim o faz, produz e libera a mesma quantidade estequiométrica de O2. A floresta doente, ou em regiões muito desmatadas e degradadas, já não compensa o excesso de CO2 emitido pelos processos destrutivos, e pode até emitir CO2 netamente. 

[Aqui, vale uma explicação: net ou neto é o peso líquido, ou seja, o saldo no caso do CO2 ou do O2, entre tudo que entrou e tudo que saiu da planta ou do animal; netamente, no texto, se refere a neto]

Então, a floresta funciona, sim, como um pulmão – entre suas múltiplas funções que emulam órgãos do corpo – porque troca gases. 

Pulmão saudável consome CO2 (limpando o ar deste gás, hoje em excesso) e emite uma “relativamente pequena” quantidade de O2. Num pulmão doente, os fluxos netos se invertem. 

O sequestro de CO2 é relativamente mais importante para o clima global – em termos de trocas de gases – do que a emissão de O2. Portanto, essa função de pulmão/filtro de CO2 precisa ser mantida (para a floresta continuar saudável) e recuperada com restauração florestal (para as regiões impactadas).

Agora, sobre a controvérsia e o senso comum. Novamente, o oxigênio vem de TODAS as plantas: aquáticas e terrestres. Como temos quase 21% de O2 na atmosfera e apenas 0,04% de CO2, a retirada e a produção de volumes equivalentes destes gases gera efeito proporcionalmente MUITO maior no estoque de CO2 do que no de O2. 

Essa polêmica sobre se a Amazônia é ou não o pulmão do mundo é enviezada e sofre de erros históricos.

Uma floresta em estado clímax, de fato, consome todo O2 que gera, tendo um fluxo neto de troca de CO2 com a atmosfera que se aproxima de zero. Mas tal floresta precisaria existir em uma atmosfera onde a concentração de CO2 (lembre-se: esse gás é um ADUBO para as plantas) estivesse estável, o que não é o caso. 

Com o aumento de CO2 no ar, as plantas fazem mais fotossíntese, retiram o excesso, e portanto, geram um neto de O2. Assim, deixam de estar no estado clímax.

Acho bom combater erros (inclusive daqueles que não estudaram o ciclo biogeoquimico global do carbono). Mas de todos os erros e imprecisões, esses sobre o pulmão do mundo para florestas é o mais irrelevante e periférico.

 

Conselho: parem de bater em quem fala que a Amazônia é o pulmão do mundo, porque “também” o foi no sentido biogeoquimico e simbólico, função que precisa ser recuperada. E mais: ela é, junto com os oceanos e outros ecossistemas, o coração, os rins, o fígado, o sistema endócrino…

Gaia vive e respira, precisa de todos os seus órgaos funcionais para continuar a oferecer um lar cósmico confortável para nós!”.

Agora, depois desta reflexões e do convite de Nobre para sermos mais maleáveis nos debates sobre as qualidades pulmonares da Amazônia, assista ao vídeo produzido pela Pesquisa Fapesp – que faz parte do especial Dança da Chuva, de janeiro de 2015 – no qual o cientista explica o maravilhoso sistema dos Rios Voadores, um mistério decifrado que valoriza ainda mais a floresta, que ainda continua em chamas.

O vídeo está disponível no link https://youtu.be/uxgRHmeGHMs

(28 de agosto de 2019 –  Mônica Nunes – Disponível em A Amazônia é o pulmão do mundo? – Conexão Planeta (conexaoplaneta.com.br)

OS “RIOS VOADORES” DA FLORESTA: MAIS PRÓXIMOS DO QUE SE IMAGINA

Qualquer pessoa que se depara com a expressão “rios voadores” logo se espanta. Será algum tipo de história ou conto? Será algum tipo de trote ou brincadeira? Não. Os rios voadores existem e estão mais próximos do que se imagina. Nesse momento, existem muitos deles sobre as nossas cabeças, invisíveis, transportando quantidades de água equivalentes às vazões dos maiores rios do mundo. Mas o que são os rios voadores?

A expressão “rios voadores da Amazônia” foi criada para designar a enorme quantidade de água liberada pela Floresta Amazônica em forma de vapor d’água para a atmosfera, sendo transportada pelas correntes de ar. De acordo com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), uma única árvore de 10 metros de altura emite uma média de 300 litros de água por dia, mais do que o dobro do total de água consumida por uma pessoa durante o dia para beber, cozer alimentos, tomar banho etc.

Como funciona?

A floresta funciona como uma “bomba d’água”, ou seja, ela capta água dos solos e emite para a atmosfera em forma de vapor, a partir de um processo denominado evapotranspiração. Parte desse volume de água transforma-se em chuvas que caem na própria floresta, outra parte é transportada pela atmosfera. Estima-se que a quantidade de água conduzida pelos rios voadores seja igual ou superior à vazão do Rio Amazonas – o maior do mundo –, que transporta mais de 200 mil metros cúbicos de água por segundo.

Primeiramente, os rios voadores direcionam-se para o oeste até chegarem à Cordilheira dos Andes. Lá, eles se deparam com esse verdadeiro paredão de mais de 4000 metros, o que faz com que parte dessa umidade precipite, ou seja, transforme-se em chuvas ou até mesmo em neve. Essa precipitação é a grande responsável pela formação de nascentes de grandes rios, dentre eles, os rios que dão origem ao próprio Amazonas. Outra parte dessa umidade é “rebatida” de volta para o interior do continente, abastecendo as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além de outras localidades, como a bacia do Rio da Prata.

Com isso, a partir desse entendimento, bem como de estudos empreendidos pelo projeto “Expedição Rios Voadores”, observa-se que a devastação da Floresta Amazônica poderá influenciar diretamente no clima de toda América do Sul e também de outras partes do mundo. Pois, sem floresta, não haverá rios voadores, a umidade cairá e as massas de ar ficarão mais aquecidas, contribuindo para o aumento intensivo das temperaturas. (PENA, Rodolfo F. Alves. “Rios voadores da Amazônia”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rios-voadores-amazonia.htm. Acesso em 05 de setembro de 2022.)

DESMATAMENTO AUMENTA 7% AO MÊS

Segundo dados do Imazon, área desmatada cresceu 7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No acumulado desde janeiro, aumento na destruição da floresta é de 48%.

Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelam que a área desmatada da Amazônia em agosto de 2021 é a maior para o mês em dez anos.

Segundo o sistema de monitoramento, somente em agosto de 2021 foram desmatados 1.606 quilômetros quadrados de floresta, 7% a mais do que no mesmo mês do ano anterior, e correspondente a cinco vezes a área de Belo Horizonte.

Desde o início do ano, o desmatamento atingiu 7.715 quilômetros quadrados da região amazônica, 48% a mais do que no mesmo período no ano passado, segundo o Imazon.

Os meses de março, abril, maio e julho também tiveram as maiores áreas de floresta desmatada nos últimos 10 anos.

Os dados são indicadores do fracasso de medidas do governo federal para combater e evitar o desmatamento.

PARÁ APRESENTA PIOR REGISTRO

Pará e Amazonas seguem como os estados que mais desmatam, responsáveis por 66% da área devastada em agosto.

Somente no território paraense, foram desmatados 638 quilômetros quadrados em agosto, o que corresponde a 40% de todo om desmate na Amazônia Legal.

No Amazonas, o desmatamento atingiu 412 quilômetros quadrados, ou 26% do total. Em terceiro lugar, pela primeira vez, aparece o Acre, com 236 quilômetros quadrados de área destruída. (DW)