O QUE ESPERAM OS JOVENS QUE NUNCA VOTARAM

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Enquete de jornal indica que os jovens esperam melhoria na educação, saúde e economia; percepção de piora geral traz o engajamento de jovens para tentar melhorar o país

Reportagem de O Globo, que promoveu enquete sobre o tema, mostra que o recorde de novos títulos de eleitor batido até o dia 4 de maio foi fruto de uma mobilização de jovens: de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais de dois milhões de brasileiros com 16, 17 e 18 anos se habilitaram para o primeiro pleito — número 47% superior ao de 2018, por exemplo.

Ouvidos pelo jornal, dez representantes desta faixa etária, de todas as regiões do país, explicaram o que impulsionou a busca pelo primeiro voto: a percepção de que educação e saúde pioraram, a preocupação com a alta de preços e a sensação de que é necessário se engajar na tentativa de ver as agendas prioritárias seguirem adiante — a massificação do uso de tecnologia, por exemplo.

Vivendo a quase dois mil quilômetros de distância um do outro, os estudantes Cassiano Aires, de Santa Cruz do Sul (RS), e Luan Silva, morador de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, traçam diagnósticos semelhantes, a partir das experiências de vida distintas. Os dois jovens de 17 anos identificam que a pandemia agravou o quadro dentro de sala de aula. Para Luan, aluno da rede estadual, a falta de professores é uma realidade — “gostaria que os próximos estudantes não passassem por isso”, pontua —, enquanto Cassiano defende uma atuação mais firme contra a evasão escolar.

— É preciso haver maior incentivo, inclusive financeiro, principalmente para quem deixou de ir à escola. Também é necessário levar o estudo para mais perto de quem não tem acesso à internet. Houve um retrocesso muito grande nessa área, assim como na saúde — avalia.

Por ser deficiente visual, o carioca Leandro Dias, também aos 17 anos, percebe a necessidade de maior inclusão no ensino brasileiro. Sua busca, com o voto, é por mais candidatos que tratem desse tema com atenção. Estudante da rede pública, ele relata que “teve sorte”, pois encontrou em seu colégio a assistência necessária, e deseja que essa rede de apoio cresça e seja efetiva também nos casos de outros tipos de deficiência.

No mesmo tema, mas com uma opinião diversa, a mineira Rayane Batista, 17 anos, acredita que um dos principais problemas da educação é a presença das pautas políticas na escola. Para ela, é preciso que a sala de aula seja um local livre de influências e que possa contemplar novas áreas de ensino.

É preciso proteger nossas crianças, sem influenciá-las em questões que não são necessárias para a idade delas. As escolas hoje não formam seres humanos que pensam, está muito ligada à política. Acredito que deveriam preparar os alunos para o mercado de trabalho e investir no empreendedorismo — afirma.

A recorrência do tema entre os relatos pode ser explicada, de acordo com a pesquisadora Larissa Dionisio, porque a educação diz respeito diretamente à juventude. Ela coordenou o estudo “Jovens no Poder”, do Instituto Update, que buscou entender e dar visibilidade aos jovens que já atuam na política institucional. Larissa diz que é preciso aproximar esse grupo da política, o que só pode ser feito com uma linguagem próxima àquela com a qual estão habituados.

Mobilização nas redes

Esse mecanismo foi usado nos últimos meses, durante a campanha nas redes sociais para que jovens tirassem o título de eleitor. Liderado pelo TSE, o movimento foi encampado por personalidades como a cantora Anitta, com a interação de atores de Hollywood, casos de Mark Hamill, Mark Ruffalo e Leonardo DiCaprio. A adesão ocorreu também entre quem ainda não completou 16 anos, mas alcançará a idade antes de 2 de outubro, data do primeiro turno, a exemplo da cearense Kaylane Monteiro Araújo e da paranaense Amanda Zegli.

— Um motivo para o grande número de novos títulos são as campanhas de mobilização com linguagem mais lúdica, divertida, das redes sociais. Com pautas e agendas importantes para os jovens, mas que não são faladas, normalmente, na linguagem dos jovens. A política é muito densa, cheia de termos jurídicos. Se a gente não tratar a política redesenhando isso, a gente vai afastar a juventude — analisa Larissa.

Um dos pontos abordados na campanha do TSE foi a necessidade de “fortalecimento da democracia”, fator lembrado pela estudante Mariani Venâncio, de 17 anos, moradora de Tambaú (SP).

A democracia é essencial, eu acredito no direito de escolher. Sou contra a ditadura, por ter sido um período sem direito de expressão e de muita tortura. Tenho estudado sobre isso na escola.

Moradora de Manaus, a indígena Sandy Yusuro, de 17 anos, acrescenta à discussão um ponto conectado diretamente com seu ambiente de convivência. Ela critica a permissividade do atual governo com o garimpo ilegal, questão que atinge o território onde vive povo Sateré-Mawé, do qual faz parte. Além dos impactos de saúde e ambientais, a deterioração do cenário econômico também é uma preocupação.

Comecei a ver que tinha algo errado quando percebi que, com o dinheiro que ganhava vendendo meu artesanato, não conseguia comprar mais quase nada — afirma, sobre os preços dos alimentos.

Fonte: TSE/O Globo