ONU faz chamado à ação para combater “epidemia de calor extremo”
Unsplash/Timo Volz
As temperaturas atingiram níveis recordes em todo o mundo em 2024.
Secretário-geral afirma que situação induzida pela ação humana amplifica desigualdade, agrava insegurança alimentar e empurra as pessoas para a pobreza; mortes por calor chegam a quase meio milhão por ano; temperaturas acima de 40°C e até 50°C são cada vez mais frequentes.
O mundo enfrenta uma “epidemia de calor extremo” com novos recordes diários de temperatura registrados no domingo, segunda e terça-feira.
Em declaração realizada nesta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os líderes mundiais “precisam estar à altura do desafio do aumento das temperaturas”.
Alarmes e mortes ao redor do mundo
O chefe das Nações Unidas declarou que a “doença” que precisa ser combatida é “a loucura de incinerar o planeta, o vício em combustíveis fósseis e a falta de ação climática”. Segundo ele, todos os países, independente das divisões geopolíticas, estão sendo afetados pelos sintomas dessa doença, que incluem o aumento do calor.
Guterres mencionou que temperaturas superiores a 50°C estão sendo registradas em diversas partes do mundo e que as ondas de calor são cada vez mais mortais. Estima-se que o calor mate quase meio milhão de pessoas por ano, o que é cerca de 30 vezes mais do que ciclones tropicais.
Ele citou picos de hospitalizações e mortes no Sahel, alertas de calor para mais de 120 milhões de pessoas nos Estados Unidos, a morte de 1,3 mil peregrinos muçulmanos durante o Haj, o fechamento de atrações turísticas na Europa e de escolas na Ásia e África, impactando mais de 80 milhões de crianças.
ONU/Eskinder Debebe
Secretário-geral da ONU, António Guterres
Chamado à Ação
Para enfrentar o aumento da intensidade e frequência do calor extremo, o líder da ONU lançou um chamado à ação composto por quatro medidas. A primeira delas é a proteção dos mais vulneráveis, que incluem mulheres grávidas, idosos, pessoas com deficiência, doentes, deslocados e a população urbana mais empobrecida, sem acesso ao resfriamento.
Guterres ressaltou que as mortes relacionadas com o calor em pessoas com mais de 65 anos aumentaram 85% em 20 anos e que o número de pessoas vivendo em cidades em condições de extrema pobreza pode aumentar em 700% até 2050.
O segundo pilar apresentado pelo secretário-geral diz respeito à proteção dos trabalhadores. Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho, OIT, divulgado nesta quinta-feira, alerta que mais de 70% da força de trabalho global, o equivalente a 2,4 bilhões de pessoas, estão agora com alto risco de calor extremo.
Prejuízos para a economia
O documento aponta que na Ásia e no Pacífico, três em cada quatro trabalhadores estão agora expostos a temperaturas elevadas. Nos Estados Árabes a proporção é de oito em cada dez e na África de nove em cada dez.
Segundo a OIT, à medida que as temperaturas diárias sobem acima de 34°C, a produtividade do trabalho cai 50%. A agência prevê que o estresse térmico no ambiente laboral custará US$ 2,4 trilhões à economia global até 2030.
O terceiro eixo de ação defendido por Guterres é aumentar a resiliência das economias e das sociedades por meio de Planos de Ação para o Calor, com base na ciência e dados.
OIT/Bobot Go
Trabalhadores da construção civil caminham por uma estrada em Daan Hari, Filipinas
Aumento da exploração de petróleo e gás
Por último ele pediu aos governos, especialmente dos países do G20, que entreguem até o ano que vem planos nacionais de ação climática focados em limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
O líder da ONU citou dados da Agência Internacional de Energia que revelam a expansão da exploração de combustíveis fósseis e surgimento novas usinas a carvão. Ele classificou as iniciativas como “inconsistentes com o cumprimento desse limite”.
Segundo Guterres, ao assinar acordos de expansão da exploração de petróleo e gás, os países mais ricos do mundo eles estão “condenando o futuro”. O secretário-geral pediu que os países eliminem os combustíveis fósseis de forma rápida e justa, acabem com projetos de carvão e transfiram subsídios para energia renováveis.
O líder da ONU enfatizou que o calor extremo amplifica a desigualdade, agrava a insegurança alimentar e empurra as pessoas ainda para a pobreza. Estimativas modeladas mostram que entre 2000 e 2019, aproximadamente 489 mil mortes ocorriam todos os anos, com 45% destas na Ásia e 36% na Europa.
A Organização Meteorológica Mundial, OMM, afirma que “temperaturas insuportáveis acima de 40°C e até 50°C são cada vez mais frequentes em muitas partes do mundo.”
Calor nas Olimpíadas de 2024
A agência confirmou que em 22 de julho, a temperatura média global diária atingiu um novo recorde, a 17,15 °C. Isso supera os recordes anteriores de 17,09 ° C, estabelecidos apenas um dia antes, em 21 de julho.
Tendo em vista que o clima é um fator chave em grandes eventos esportivos, a OMM anunciou um projeto para avançar na pesquisa de previsão do tempo durante as Olímpiadas de Paris 2024.
Segundo a agência, previsões e avisos precisos e confiáveis de temperatura, umidade, visibilidade e extremos de vento afetam a programação de eventos, o desempenho atlético e as condições do campo. Eles também garantem a segurança de atletas, equipe de apoio, espectadores e operações de trânsito.
O projeto de pesquisa abrange todos os locais dos Jogos Olímpicos de Verão, tanto em torno de Paris quanto nas áreas costeiras da cidade de Marselha, a fim de avançar na pesquisa meteorológica sobre o tema dos “futuros sistemas de previsão do tempo com resolução de 100 metros, ou mais, para áreas urbanas”.
A iniciativa se concentrará especialmente em temas relativos a eventos extremos no verão nas cidades, como tempestades e fortes ilhas de calor urbanas e suas consequências.
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