PESQUISADORES BUSCAM ANTA DADA COMO EXTINTA NA CAATINGA

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Em busca da anta perdida: pesquisadores querem descobrir porque espécie sumiu da Caatinga

Liderados por uma das maiores especialistas em antas do mundo, a conservacionista Patrícia Médici, os pesquisadores da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), um dos projetos do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), se preparam para sua próxima expedição.

Ela será realizada no único bioma exclusivamente brasileiro (boa parte de seu patrimônio biológico não existe em nenhum outro lugar do planeta!) e talvez o mais frágil do país – apenas 9% do território está sob alguma forma de proteção legal -, a Caatinga, que guarda muitos mistérios sobre o desaparecimento da espécie ainda tão ameaçada no Cerrado, na Mata Atlântica e no Pantanal.

Nesse lugar onde a escassez está presente, mas também uma biodiversidade muito particular e bela, a anta-brasileira (Tapirus terrestris) viveu, mas foi extinta há, pelo menos, 30 anos, segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (última atualização em 2018), do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

Diversos são os fatores que podem levar à extinção e a pouquíssima informação sobre a anta na Caatinga é um desafio. “Existe um déficit de informações sobre a ocorrência histórica da anta brasileira no bioma, bem como sobre os fatores que levaram ao seu desaparecimento”, declara Patrícia Médici.

Apesar de aproximadamente metade do bioma ainda ser representado por habitat nativo, a maioria destes remanescentes estão potencialmente expostos a atividades humanas. “É provável que a anta ocorresse mais pelo interior da Caatinga há cerca de 30 anos, em baixíssimas densidades, e que tenha sido extinta por perda de habitat e caça”, explica.

Por outro lado, é também provável que a espécie tenha sempre ocorrido somente nas áreas mais úmidas nas bordas da Caatinga. 

Durante a expedição, os pesquisadores da INCAB-IPÊ buscarão indícios históricos da presença da espécie na região. “In loco, será possível compilar informações essenciais para os processos de avaliação da categoria de ameaça da espécie no bioma e no Brasil, bem como para o planejamento de ações conservacionistas, contribuindo com futuras ações de manejo, conservação e proteção “, completa a pesquisadora.   

Equipe multidisciplinar

Além de biólogos e veterinários, a equipe da expedição (6 a 8 pessoas) contará também com especialistas na temática da coexistência humano-fauna e profissionais de comunicação.

 

A compilação de dados se dará por entrevistas com membros das comunidades locais, particularmente anciões, líderes comunitários, pessoas que caçavam ou tratavam e/ou vendiam peles no passado, além de gestores/analistas de unidades de conservação.

O objetivo primordial é entender onde as antas viviam e identificar os motivos de seu desaparecimento.   

“Os relatos das comunidades locais são extremamente preciosos para a ciência. Vamos entrevistar pessoas que terão os relatos analisados sob duas perspectivas: codificação e narrativa. A codificação é um método que identifica quais temas aparecem mais nas falas das pessoas [são recorrentes], enquanto a narrativa revela o contexto no qual as declarações são articuladas durante a entrevista”, explica Patrícia.    

Roteiro

A equipe seguirá uma rota previamente estabelecida cruzando o norte de Minas Gerais, Bahia e Piauí.

A expedição passará por 16 Unidades de Conservação federais e estaduais localizadas em potenciais áreas de ocorrência histórica e/ou atual da anta brasileira.

“Nossa rota inclui áreas caracterizadas como de transição entre a Caatinga, o Cerrado e a Mata Atlântica, onde a ocorrência histórica das antas foi apontada por alguns gestores de Unidades de Conservação e pesquisadores que atuam na região.

No circuito também estão vilarejos como Queixo D’Anta (no Boqueirão da Onça) e Antas (nas proximidades do Raso da Catarina), na Bahia, cujos nomes são potenciais indícios da presença histórica da anta”, pontua Patrícia Medici.      

A jardineira das florestas

A anta brasileira é considerada a Jardineira das Florestas devido à sua capacidade de dispersar sementes e de otimizar a germinação das mesmas sob a ação de seu trato digestivo. Desta forma, favorece a renovação do próprio habitat. 

Como precisa de grandes áreas para viver, as ações voltadas para a conservação da espécie também beneficiam uma série de outros animais. 

Na lista vermelha da IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza – a anta brasileira é classificada como ‘vulnerável’ à ‘em risco de extinção’. O mesmo vale para a lista de espécies ameaçadas brasileiras do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (livro vermelho).   

 (Conexão planeta 0 3 de fevereiro de 2023 –  Mônica Nunes)

Anta: espécie foi extinta e o restante está em risco de extinção