UNESCO RECOMENDA PROIBIÇÃO GLOBAL DE SMARTPHONES NAS ESCOLAS
Em relatório, agência da ONU destaca preocupações com uso excessivo de telefones e alerta para impacto negativo no aprendizado; documento recomenda “visão centrada no ser humano” ao utilizar tecnologia na educação e ressalta lacunas no acesso.
Um relatório da ONU, publicado nesta quarta-feira, 26 de julho, ressalta preocupações sobre o uso excessivo de smartphones, pedindo que eles sejam banidos das escolas em todo o mundo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura Unesco, o uso excessivo de telefones celulares impacta o aprendizado.
Especialistas defenderam que haja fronteiras permeáveis entre educação formal e informal. O benefício seria a possibilidade de transitar entre as diversas trajetórias educacionais e laborais. Outra recomendação é que seja promovida a entrada no mercado de trabalho de jovens excluídos do ensino formal investindo numa educação que proteja a biodiversidade
Tecnologia na educação
O levantamento sobre tecnologia na educação pede aos países a considerar, cuidadosamente, seu uso nas escolas.
No “Relatório de monitoramento global da educação, resumo, 2023: a tecnologia na educação: uma ferramenta a serviço de quem?”, a Unesco enfatiza a necessidade de uma “visão centrada no ser humano”.
Para a agência da ONU, a tecnologia digital deve ser utilizada como uma ferramenta e não para substituir a interação humana.
O diretor de Monitoramento da Unesco, Manos Antoninis, também alertou sobre o perigo de vazamentos de dados em tecnologia educacional, já que apenas 16% dos países garantem a privacidade dos dados na educação por lei.
Ele explica que a grande quantidade de dados está sendo usada sem a regulamentação adequada, o que pode servir para fins não educacionais, violando direitos.
Brasil
O relatório lista resultados de países como Brasil, Camboja, Malauí e México sugerindo que as crianças perderam pelo menos um ano de aprendizagem. Quanto mais tempo as escolas permaneceram fechadas, mais forte foi o impacto sobre as perdas de aprendizagem.
A Unesco sugere padrões para conectar as escolas à internet entre agora e 2030 e que o foco permaneça nos mais marginalizados.
O órgão da ONU também recomenda que os países estabeleçam suas próprias diretrizes para o uso da tecnologia para garantir que ela complemente o ensino presencial, que continua sendo crucial para o aprendizado.
Segundo o levantamento, havia no máximo 10 computadores para cada 100 estudantes no Brasil e no Marrocos. Já em Luxemburgo, eram 160 computadores para cada 100 estudantes.
Regulamentação
No Brasil, 31% dos adultos tinham pelo menos habilidades básicas, mas o nível era duas vezes maior nas áreas urbanas do que nas rurais, três vezes maior entre os que estavam na força de trabalho do que entre os que não estavam, e nove vezes maior no grupo socioeconômico superior do que nos dois grupos inferiores.
Além das desigualdades, a Unesco também alerta para os riscos de aquisição de tecnologia educacional, que precisam ser considerados na regulamentação. As compras públicas são vulneráveis a conluio e corrupção.
De acordo com o relatório, em 2019, a Controladoria Geral da União do Brasil encontrou irregularidades no processo de licitação eletrônica para a compra de 1,3 milhão de computadores, laptops e notebooks para escolas públicas estaduais e municipais.
A Unesco recomenda a descentralização das compras públicas para os governos locais para buscar equilibrar alguns dos riscos
Lacunas tecnológicas
O relatório também destaca as disparidades criadas pela aprendizagem digital. Durante o Covid-19, 500 milhões de estudantes em todo o mundo foram negligenciados devido à mudança para o aprendizado online, afetando principalmente os mais pobres e os que vivem em áreas rurais.
Geograficamente, o documento observou um desequilíbrio significativo nos recursos on-line, favorecendo a Europa e a América do Norte.
Avaliando a capacidade de inclusão com o uso da tecnologia, o estudo aponta que nos 27 países da União Europeia, 54% dos adultos tinham pelo menos habilidades digitais básicas em 2021.
(Fonte: ONU/Unesco/Imagem © Unicef/Joshua Estey)