Grande parte das mulheres, em especial as mães, passam o dia, e às vezes até noites em caso de insônia, planejando, organizando, tomando decisões e se preocupando com assuntos relacionados aos cuidados dos filhos e da casa. Mesmo quando seus parceiros ou progenitores “ajudam” e dizem compartilhar o trabalho reprodutivo, eles aguardam as ordens e a coordenação das mulheres. São elas que se envolvem emocionalmente e psicologicamente para garantir o bem-estar de todos da família.
Um estudo da empresa americana Welch’s contabilizou que o trabalho de uma mãe equivale a 2,5 empregos em tempo integral. Com uma carga horária de 14 horas diárias, as mães estão exauridas. Sejam mulheres com emprego remunerado ou mulheres que trabalham em suas casas, elas têm algo em comum: suas cabeças não param. Isso é a carga mental, o esforço deliberado que mulheres realizam para administrar suas casas, suas famílias e o seu trabalho remunerado.
A carga mental tem algumas características. Primeiro, é invisível. Como ninguém vê, ninguém reconhece e nem valoriza. Segundo, não tem local. Em qualquer lugar, seja na casa, no trabalho, em uma viagem, as mulheres ocupam suas cabeças com as questões da casa e da família. E, finalmente, a carga mental é sem fim.
A carga mental não corresponde ao que se chama de dupla jornada. A dupla jornada corresponde ao trabalho doméstico que as mulheres fazem quando chegam do trabalho. A carga mental envolve emoções e ocorre antes, durante e depois do trabalho, mesmo quando deveríamos estar dormindo. Quando terminamos um dia de trabalho e colocamos as crianças para dormir, a cabeça no travesseiro não apaga as preocupações com a família.
A carga mental causa adoecimento. O esgotamento físico e psicológico extremo pode ser notado quando explosões de raiva e agressões verbais começam a ocorrer com certa frequência. Dores de cabeça, cansaço, pressão alta, dores musculares, insônia e distúrbios gastrointestinais são reclamações constantes de mulheres que estão exaustas.
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Por que nos submetemos a isso? As mulheres foram socializadas para cuidar. Os cuidados com os filhos, idosos, doentes, além das tarefas domésticas são entendidos como um trabalho essencialmente feminino. Mas a verdade é que homens e mulheres conseguem administrar os trabalhos da casa e executar os serviços de cuidado. Não há qualquer evidência científica que demonstre que as mulheres têm mais aptidão para esses trabalhos. Porém, interessa aos homens que as mulheres continuem oferecendo seus serviços de forma gratuita. Sem consciência de que a feminização dos serviços domésticos e de cuidado da família é uma construção social do patriarcado, mulheres acumulam suas obrigações profissionais com a sobrecarga mental da maternidade e da casa.
E as consequências são nefastas para a saúde da mulher e para o bem-estar das famílias. A carga mental deve ser considerada como emergência nacional e deve ser tratada com seriedade pelo poder público. Precisamos de uma oferta pública especializada de serviços de saúde mental para mulheres para prevenir a depressão pós-parto, crises de ansiedade, o burnout e outras doenças acometidas pela sobrecarga. Precisamos ainda ter ofertas de serviços públicos que aliviam a sobrecarga das mulheres como creches públicas, serviços de cuidado com idosos, e outros serviços públicos de apoio aos cuidados. Segundo o IBGE, 11,5 milhões de mulheres criam seus filhos sozinhas no nosso país. Uma rede de serviços de cuidados é essencial para a emancipação das mulheres.
Finalmente, precisamos quantificar o tempo que passamos nos ocupando com os cuidados da família para conscientemente nos libertar dessa carga. Precisamos conscientizar homens e mulheres da importância de compartilhar verdadeiramente os cuidados com filhos e casas. Se você é homem, pare de dizer que “ajuda” sua mulher. A obrigação com a casa é de todos que moram nela e a responsabilidade com os filhos é de todos que os geraram. Vamos compartilhar o planejamento, a organização e a execução dos cuidados? Liberar as mães da carga mental é urgente para a saúde das mulheres.
O dia 28 de maio foi o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher. Na passagem desse dia, precisamos discutir as causas sociais que adoecem as mulheres de nosso país. É urgente reconhecer que a divisão sexual do trabalho é um problema coletivo de todas as famílias, que causa adoecimento nas mulheres.
*Socióloga, Mestra e Doutora em Administração, atuou como Secretária-Adjunta de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal.
Publicado no site congressoemfoco.com.br
Crédito: simplesmentefeminino.com.br – Internet
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