Cotia tem um papel importante na imigração japonesa no Brasil; 109 jovens japoneses solteiros desembarcaram em Santos, em 1955, a maior parte vindo para Cotia, integrando o movimento batizado na comunidade como os Cotia-Seinen ou jovens de Cotia.
Sábado passado, 18 de junho, comemorou-se o Dia Nacional da Imigração Japonesa, instituído no Brasil através da Lei nº 11.142, de 25 de julho de 2005.
Para o Brasil, a imigração japonesa teve início com o Kasato Maru – visto como o “navio da esperança”, que chegou em 18 de junho de 1908, há 122 anos, em Santos, com os primeiros 781 imigrantes japoneses, de 165 famílias. Em 28 de junho de 1910, chegou a segunda leva de 906 imigrantes do Japão, vindos pelo vapor Royojun Maru, que seguiram para as fazendas da Alta Mogiana. E em 1918, mais 5.518 japoneses vindos para o Brasil.
De acordo com o site imigracaojaponesa.com.br ao longo dos anos e décadas seguintes cerca de 260 mil imigrantes chegaram ao Brasil, oriundos do Japão, graças a um contrato assinado entre o secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, e Ryu Misuno, diretor da Companhia Japonesa de Imigração Kokoku em 6 de novembro de 1907, autorizados pelo Tratado da Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão, assinado em 5 de novembro de 1895, abrindo as terras brasileiras para os japoneses.
Os imigrantes do Kasato Maru foram no mesmo dia para S. Paulo, sendo encaminhados para as fazendas de café da Alta Sorocabana.
Na época das primeiras imigrações, o Japão vivia séria crise econômica – por outro lado, o Brasil necessitava de mão de obra para a lavoura do café.
OS COTIA-SEINEN OU JOVENS DE COTIA
O texto a seguir foi transcrito, literalmente, do site Nippo no Campo – História (www.nippo.com.br).
Em 15 de setembro de 1955, desembarcou em Santos um grupo de 109 jovens solteiros do Japão, integrantes do movimento batizado na comunidade nipo-brasileira como os jovens de Cotia ou os Cotia-Seinen.
Esses 109 jovens, entre 18 e 25 anos, foram capitaneados no Japão após um trabalho de garimpo feito durante três meses em uma parceria do Instituto Nacional de Imigração (INIC) e a Zeenkoku Nokyo Chuokai (Associação Central Agrícola). O objetivo: vir ao Brasil para trabalhar na agricultura. Alguns dos imigrantes filiados da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC) tornaram-se responsáveis pela empregabilidade de muitos desses jovens.
Nesse processo histórico do Cotia Seinen, Kenkiti Shimomoto, então diretor-gerente da CAC, teve um papel fundamental. Foi ele, por exemplo, que, na companhia de Hiroshi Yamanaka, foi ao Japão selecionar os primeiros jovens nipônicos interessados em trabalhar na agricultura brasileira. Para trabalhar no País, aliás, a CAC criou para esses jovens a Seção de Imigração dentro da própria empresa.
Depois de desembarcar no Porto de Santos, os jovens integrantes do Cotia-Seinen passavam por um período de adaptação na Estação Experimental do Moinho Velho da CAC. Na prática, era um treinamento intensivo de, algo em torno, de dez dias. Lá estudavam a organização de uma cooperativa, suas atividades, os costumes brasileiros e conhecimentos gerais para iniciar uma nova vida. Passado esse período, eles eram encaminhados às propriedades contratantes.
Em média, os jovens do Cotia-Seinen ficavam por um período de quatro anos na propriedade. No princípio, foram encaminhados para sítios e fazendas nas proximidades de São Paulo. Com o número crescente de novos “alunos”, o trabalho acabou expandindo-se para o Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Depois de quatro anos de contrato, os jovens do Cotia-Seinen estavam liberados para se tornar produtores autônomos. Muitos deles, inclusive, hoje, são homens de sucesso nesse setor.
Desde a criação do projeto Cotia-Seinen, o objetivo dos seus organizadores era justamente criar agricultores capazes de substituir os imigrantes japoneses da CAC que desembarcaram no Brasil antes da guerra. Em tese, isso até que funcionou.
A vinda de imigrantes japoneses integrando o movimento dos Cotia-Seinen terminou em 1968, com a vinda dos últimos 11 membros. O número total foi de 2.058 jovens, mas entre eles havia casados e com famílias já formadas. Por isso, efetivamente, o número de solteiros foi de 2.296 pessoas.
COOPERATIVA AGRICOLA DE COTIA
A Wikipedia (wikipedia.com.br) relata que Saku Miura (proprietário do Diário Nippak), que defendia ardorosamente a criação das cooperativas, publicou em seu jornal, no mês de setembro de 1926, um artigo intitulado “Em louvor da batata” como parte de um projeto para a construção de uma cooperativa em Cotia.
Os produtores de batata, por não terem um armazém, não podiam transportar o seu produto livremente, sendo vítimas constantes dos comerciantes. Vendo a necessidade de se construir um armazém em regime comunitário, Miura passou a fomentar o movimento pela criação de uma cooperativa agrícola. Dois anos mais tarde, seria criado o embrião da Sul Brasil, a Cooperativa Agrícola do Juqueri
O movimento em si passou a ser controlado por Kenkishi Shimomoto, um jovem de 28 anos que retornara temporariamente ao Japão com o dinheiro obtido através da venda de batatas e observara, na província de Kōchi (sua terra natal), a organização das cooperativas.
Em 11 de dezembro de 1927, foi criada na vila Cotia, Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada dos Produtores de Batata em Cotia S/A. Além do plantio de batata, a cooperativa passou também a incentivar o cultivo de hortaliças, mudando seu nome para Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC).
A área de atuação da cooperativa, antes restrito a uma área bastante limitada, começou a se expandir pelos distritos vizinhos. Em seguida foram abertos novos escritórios em outras localidades, tendo início o recrutamento de cooperados.
Assim, a cooperativa, que no ano de sua fundação contava somente 83 membros, passou a contar 1.303 cooperados em 1937 (dez anos depois), tornando-se a maior cooperativa agrícola do Brasil.
Em outubro de 1934, os intermediários da cidade de São Paulo lançaram um boicote aos produtores da cooperativa, dando origem ao maior desafio enfrentado pelo grupo desde a sua fundação. A cooperativa, que contava com o apoio de outros produtores não-filiados e do governo do estado, interrompeu o fornecimento de produtos aos mercados de São Paulo, com o que obteve finalmente a vitória.
A partir de 1938, a cooperativa passou a abranger todo o estado. Como os produtores do interior estivessem interessados em atingir os mercados da capital, principal pólo consumidor do estado, a cooperativa continuou a crescer. A essa altura, a cooperativa já havia introduzido do Japão técnicas para a criação de aves e dedicava-se à sua difusão.
FIM DA COOPERATIVA
A Cooperativa Agrícola de Cotia sofreu tempos turbulentos. Com a II Guerra |Mundial e o fim das relações diplomáticas entre Brasil e Japão , a Cooperativa Agrícola de Cotia passou a se dedicar à produção de alimentos e, como fosse financiada inteiramente com capital nacional, conseguiu escapar às medidas para o congelamento de bens.
Mas as cooperativas agora estavam sob controle do governo e mesmo assim a CAC continuou, e, como o governo exigisse que todas cooperativas tivessem os cargos diretivos ocupados por brasileiros natos, a CAC elegeu seu consultor jurídico, Ferraz, para o cargo de chefe da diretoria.
Acompanhando o crescimento populacional da cidade de São Paulo durante os anos de guerra, a cooperativa também cresceu — os cooperados, que no início da guerra já somavam 2 mil, passaram a ser 3 mil no fim da guerra. A Cooperativa Agrícola de Cotia´ continuou crescendo no pós-guerra, ultrapassando a marca de 5 mil cooperados em 1952 e expandindo suas atividades para os estados vizinhos.
Em 1973, a Cooperativa Agrícola de Cotia já enviava cooperados ao cerrado nos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, estados onde predomina o clima da savana tropical. Na segunda metade dos anos 80, Cotia já tinha 14.470 cooperados (1986); em 1988, a Sul-Brasil contava, distribuídos em 40 sub-unidades, 10.704 cooperados. Entretanto, a cooperativa contraiu um grande volume de dívidas no final dos anos oitenta, em decorrência da crise na agricultura e do cenário econômico negativo.
Em 30 de setembro de 1994, a Cooperativa Agrícola de Cotia encerrou suas atividades, com grande choque na comunidade nipo-brasileira.
CIDADE-IRMÃ E PRAÇA JAPONESA
Cotia e a cidade de Ino-Cho, da Província japonesa de Kochi, foram declaradas “Cidades-Irmãs”, segundo a Embaixada do Japão no Brasil, em junho de 1966. As cidades-irmãs costumam trocar monumentos para simbolizar a co-irmandade.
O Brasil e o Japão possuem 11 províncias e 47 cidades coirmãs.
Em Cotia, a Praça Japonesa, também chamada Praça da Amizade, selou definitivamente a presença maciça e a importância dos imigrantes japoneses em Cotia.
A praça, que era um dos locais mais bonitos de Cotia, teve que ser remodelada em 2016, porque, quando da duplicação da Rodovia Raposo Tavares, parte do logradouro – justamente o local para estacionamento e área de lazer – foi destruído para dar passagem à estrada.
Com isso, acabou-se o acesso à praça, o que deu origem a procedimentos inclusive do Ministério Público, que cobrava da prefeitura acessibilidade ao local. A Raposo Tavares “abraçava” a praça, não dando condições de acesso e ninguém, a não ser sem-teto e drogados, que incendiaram os pagodes orientais e furtaram as peças de bronze, inclusive monumentos.
A solução encontrada foi retificar a marginal, deixando-a reta, sacrificando-se um pedaço da praça, que passou a ter acessibilidade, mas por outro lado descaracterizando a sua qualidade de monumento – em nome da segurança dos pedestres e motoristas, já que à época pelo menos um acidente por semana ocorria na curva formada pela marginal.
Os monumentos remanescentes e algumas peças de valor histórico foram retirados por descendentes de japoneses e levados para outro local, para preservação.
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