ARTIVISTAS “RAONIZAM” 50 CIDADES NO BRASIL, SUIÇA E ITÁLIA

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Para comemorar os 50 anos do Dia Mundial do Meio Ambiente, estão sendo aplicados “lambes” de 6 metros de altura com a imagem do cacique Raoni

Artivistas (artista que faz da arte a sua forma de ativismo) de um grupo de 20 organizações da sociedade civil brasileira estão homenageando o cacique Raoni Metuktire, líder do povo Mbêngôkre (Kayapó), nesta semana em que são celebrados  os 50 anos da criação do Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho.

Para tanto, 50 cidades – 48 brasileiras (incluindo todas as capitais), uma suíça e uma italiana – exibirão lambes de seis metros de altura com a imagem de Raoni. A mobilização artística ainda inclui projeções em São Paulo, Recife, Tefé (AM) e Belo Horizonte, e um mural gigante em Manaus (foto acima), concebido por Raiz Campos, grafiteiro e muralista criado na floresta amazônica, cujo trabalho se notabiliza por retratar a cultura da região.

Vamos ‘raonizar’ as cidades nesta semana porque Raoni é um exemplo vivo de paz e uma inspiração para todos que defendem a natureza”, explica Jonaya de Castro, do Megafone, uma das organizadoras da ação. 

Megaron Txucarramãe, sobrinho de Raoni que o acompanhou na campanha da demarcação da Terra Indígena Mēbēngokre-Kayapó e da criação do Instituto Raoni, também elogia o cacique: 

Além de ser um guardião da vida e um dos principais defensores dos direitos indígenas, Raoni Metuktire destaca-se pela forma como fez isso: sempre por meio do diálogo”.

Raoni é um dos líderes indígenas mais respeitados no mundo, e o primeiro e único indicado ao Prêmio Nobel da Paz. E em duas edições: a de 2019 e a de 2020. 

E Jonaya completa: “Esta ação é uma forma de fazer com que as novas gerações conheçam este símbolo vivo da paz e do diálogo. Em tempos de tanta intolerância e radicalismo, a lembrança de Raoni é sopro de esperança para todos nós”.

CRIAÇÃO COLETIVA

A imagem dos lambe que estão enfeitando as cidades é resultado de um processo coletivo que se iniciou durante uma residência artivista no Condô Cultural, em março deste ano. 

Os artivistas Matsi Wauja Metuktire (neto de Raoni) e Raul Zito produziram algumas obras e uma delas foi escolhida para esta homenagem. A arte apresenta um retrato do cacique de autoria do documentarista Todd Southgate – superamigo de Raoni – acompanhado da frase O futuro é indígena

Essa frase curta e certeira, diagramada no lambe como se saísse de um megafone usado por Raoni, alerta para a urgência de preservarmos a natureza se quisermos solucionar as crises do clima e da biodiversidade, que colocam nossa sobrevivência em risco. E tem marcado todas as manifestações dos povos indígenas pelo Brasil.

O cartaz também exibe um texto na língua falada pelos Mbêngôkre, que tem a seguinte tradução: “Em 1954, quando o povo Mbêngôkre estabeleceu contato definitivo com os brancos, o cacique Raoni tinha aproximadamente 24 anos e teve um papel fundamental no processo de pacificação e união das diversas aldeias dos povos indígenas. Nesta época, conheceu os irmãos Villas Boas, com quem aprendeu a falar a língua portuguesa e a tomar consciência do mundo não-indígena”.

E o lambe ainda destaca: “A partir de então, Raoni passou a ser o principal interlocutor entre os Mēbêngôkre e a sociedade brasileira”.

Recentemente, ao ser solicitado a deixar uma mensagem para todos os brasileiros, Raoni respondeu:

“Todos nós devemos nos preocupar com a floresta. Nos comprometermos com a demarcação de todas as terras indígenas do Brasil e com o fortalecimento da Funai. E que esse compromisso se transforme em amizade e em tempos de paz”. 

CIDADES ESCOLHIDAS

As cidades escolhidas pelos artivistas, além de Longarone (Itália) e Zurich (Suíça), são as seguintes, todas no Brasil:  Altamira, Alter do Chão, Ananindeua, Belém e Santarém (PA), Aracaju (SE), Batatais, Bertioga, Bragança Paulista, Piracaia, Santos, São Paulo, São Sebastião e Ubatuba (SP),Belo Horizonte, Conceição do Mato Dentro, São Bartolomeu (MG), Boa Vista (RR), Brasília e Ceilândia (DF), Campo Grande (MS), Cuiabá e Peixoto de Azevedo (MT), Curitiba e Londrina (PR), Florianópolis e Porto da Lagoa (SC), Fortaleza (CE), Goiânia e Hidrolândia (GO), Ilhéus e Salvador (BA), João Pessoa (PB), Macapá e Manaus (AM), Maceió (AL),Natal (RN), Niterói e Rio de Janeiro (RJ), Palmas (TO), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO),Recife (PE), Rio Brando (AC), São Luís (MA), São Sebastião da Boa Vista (Marajó/PA), Teresina (PI) e Vitória (ES). 

Crédito: Conexão Planeta – 1 de junho de 2022 –  Mônica Nunes

Lambe na Fundação Julita, em São Paulo