BAIXA COBERTURA VACINAL TRAZ  RISCO DA VOLTA DA POLIOMIELITE

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Baixa cobertura vacinal pode trazer de volta o fantasma da doença que deixou milhares de pessoas incapacitadas no mundo todo. Doença foi erradicada das Américas nos anos 1990, mas negligência com a vacinação de pais e responsáveis podem trazer de volta a doença.

A cobertura vacinal contra poliomielite no Brasil fez o ministro da saúde se pronunciar, alertando sobre o risco de reintrodução da doença no País

Atualmente, a cobertura vacinal está em torno de 60%. Ao todo, 14,3 milhões de crianças devem receber a dose. 

A meta é atingir, com a vacina contra a poliomielite, pelo menos 95% do público-alvo, formado por crianças menores de 5 anos. O último caso de poliomielite no Brasil foi registrado em 1989 e a doença foi erradicada nas Américas nos anos 1990. No ano de 1994, o país recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) a certificação de área livre de circulação do PVS.

Segundo o ministro, “O Brasil está na região considerada de alto risco para reintrodução do vírus da poliomielite. Isso é decorrente da baixa cobertura vacinal”, alertou. 

O ministro destacou os dois casos, identificados recentemente em Israel e nos Estados Unidos. “Não permitiremos que isso aconteça em nosso país. Levem seus filhos às salas de vacinação.” 

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite começou no dia 8 de agosto e foi encerrada na última sexta-feira (30), depois de ser prorrogada uma vez por causa da baixa adesão.

A orientação da pasta é que crianças de 1 a 4 anos recebam uma dose da vacina oral poliomielite (VOP), desde que já tenham recebido as três doses da vacina inativada poliomielite (VIP) previstas no esquema básico.

“A falta de imunização de uma parcela importante de nossa população, possibilita a reintrodução de doenças evitáveis por meio da vacina, podendo provocar adoecimentos graves e até mesmo o óbito“, frisa a superintendente de Imunizações do Estado de Pernambuco, Ana Catarina de Melo. 

“A poliomielite é uma doença gravíssima e que ainda circula em dois países no mundo, como o Paquistão e o Afeganistão, onde são consideradas endêmicas. No ano passado, foram identificados dois casos do poliovírus selvagem (PVS), um no Malawi e outro em Moçambique, áreas que até então eram consideradas livres da circulação do vírus.”

Mães, pais, ou responsáveis precisam buscar os postos de saúde e pontos de vacinação nas cidades onde residente munidos da caderneta de vacinação das crianças e adolescentes para efetuar a proteção contra outras doenças imunopreveníveis, como: hepatites A e B, rotavírus humano, BCG, pneumocóccica, pentavalente, meningocócica, febre amarela, tríplice viral, varicela e DTP.

O VÍRUS DA POLIOMIELITE  

Em uma a cada 200 infecções, o vírus da poliomielite destrói partes do sistema nervoso e causa paralisia permanente nas pernas ou braços. Embora seja raro, o vírus pode atacar as partes do cérebro que ajudam a respirar, o que pode levar à morte.

A poliomielite pode causar paralisia irreversível (geralmente das pernas). Essa condição, por sinal, acomete uma em cada 200 infecções. Entre os que adoecem, 5% a 10% morrem por paralisia dos músculos respiratórios. 

QUAL A IDADE DA VACINA POLIOMIELITE?

Podem receber a vacina contra poliomielite as crianças de 1 a 4 anos. Para que adquiram imunidade contra o poliovírus, é necessário que recebam várias doses da vacina.

VACINA POLIOMIELITE

Dois tipos de vacinas contra a poliomielite são usadas na Região das Américas: a vacina oral atenuada (OPV, por sua sigla em inglês) e a vacina injetável inativada (IPV).

vacina OPV continha os três tipos de poliovírus. Após a declaração de erradicação do poliovírus selvagem tipo 2, em 2016, o sorotipo 2 foi retirado.

Apenas a vacina OPV com sorotipos 1 e 3, conhecida como bOPV, foi continuada. Os países estão substituindo gradualmente a vacina bOPV pela vacina IPV.

A HESITAÇÃO VACINAL, SEGUNDO A UNESP

De acordo com a UNESP – Universidade Estadual Paulista, “O caso da queda de cobertura da vacina contra a poliomielite, após o sucesso de sua erradicação, ilustra um dos principais desafios atuais do Programa Nacional de Imunizações (PNI): a hesitação vacinal. 

Para Paulo Almeida, diretor-executivo e coordenador do Observatório de Políticas Científicas do Instituto Questão de Ciência (IQC), o que explica em parte tal hesitação da população brasileira em levar os filhos para tomar vacina é, quase paradoxalmente, a falta de memória ou de convivência com a agressividade de doenças que foram prevenidas ao longo da história pela adesão em massa às imunizações, como é o caso da poliomielite paralítica. 

“Ao longo das últimas décadas, houve uma queda da cobertura vacinal no mundo todo, em parte porque as vacinas sofrem o efeito do próprio sucesso. Elas são muito efetivas em conter a proliferação de doenças que têm um impacto muito grande na sociedade e gerações mais novas não viram coisas muito agressivas. Não viram varíola ou não tem um parente com pólio”, exemplifica Paulo Almeida. “Então parte disso (hesitação vacinal) encontra respaldo simplesmente porque é uma geração que não tinha visto, até a covid, um problema muito sério que exigisse vacinação em massa porque a gente já tinha uma população suficientemente coberta”, afirma o diretor do IQC.

O coordenador do Observatório de Políticas Científicas do IQC também acredita que a questão da hesitação vacinal esteja ligada à disseminação de notícias falsas ou informações incompletas relacionadas ao fenômeno da desinformação, o que no Brasil ganhou força com a postura desarticulada do Ministério da Saúde após o surgimento da pandemia de covid-19 –o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, pôs em dúvida, mais de uma vez, a eficácia das vacinas. “Muita instância técnica de excelência no Brasil está sendo convertida em instância de conchavo político, que foi o que a gente viu acontecendo no Ministério da Saúde durante a pandemia”, diz Almeida.

VACINAÇÃO: ESQUEMA E DOSES

O esquema de vacinação contra a poliomielite é composto de cinco doses, sendo que duas delas são reforços. 

As três primeiras, aos 2, 4 e 6 meses, devem ser feitas obrigatoriamente com a vacina pólio inativada, a VIP. 

Já as duas últimas são feitas com a versão em gotinhas, aos 15 meses e aos 4 anos. Crianças que não estão com as três doses da vacina inativada (injeção) em dia não podem receber gotinhas. 

Ou seja: 

1ª dose (injeção): aos 2 meses 

2ª dose (injeção): aos 4 meses 

3ª dose (injeção): aos 6 meses 

1ª dose de reforço (gotinha): 15 meses 

2ª dose de reforço (gotinha): 4 anos

Foto: Ag. Brasil