ENSINO DE HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA AINDA ENFRENTA OBSTÁCULOS
Desde janeiro de 2003 é obrigatório o ensino, em todas as escolas brasileiras, de história e cultura africanas. Mas pesquisadores relatam que tema ainda esbarra no preconceito e falta de regulamentação.
A lei, em vigor desde 9 de janeiro de 2003, determina que “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”.
O site noticioso DW Brasil ouviu pesquisadores sobre o assunto; estes reconhecem avanço, m entendem que ainda há que melhorar para que o ensino da história africana deixe de ser algo exótico e passe a ser visto como essencial.
“Existe uma necessidade de mudança para que não tenhamos [nas escolas] a repetição dessa história euro centrada, muito mais pautada pelos grandes feitos e pelos grandes heróis, que negligência, a história dos povos africanos e também dos povos indígenas”, salienta a historiadora Tatiana Raquel Reis Silva, professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
“É humanamente impossível estudar e entender a história do mundo sem passar pela história do continente africano desde a remota antiguidade”, defende o pesquisador e escritor Nei Lopes, autor de, entre outros, Dicionário de História da África, cujo volume 2 acaba de ser lançado agora. “E faço isso ao meu jeito, como autodidata, porque nunca vi nada disso nos currículos dos cursos elementar, secundário e superior, que incluíam história de todos os continentes, menos o africano.”
Professor de escola pública e pesquisador nas Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de Estrasburgo, na França, o historiador Philippe Arthur dos Reis ressalta que o tamanho da população negra do Brasil é o principal ponto para justificar que o ensino da história africana seja praticado nas escolas.
“[É preciso] tratar de questões de remetem ao passado de um continente que durante a modernidade foi saqueado não apenas em suas riquezas materiais mas também suas pessoas que viviam ali e foram tratadas como escravas por europeus e brancos brasileiros. Isso se reflete, hoje, pela dificuldade de absorção do negro no mercado de trabalho”, diz ele, lembrando que muitos aspectos da cultura nacional, das artes à gastronomia, são um legado africano.
Legislação
Apesar de já contar com 19 anos, a lei nunca foi regulamentada com carga horária mínima ou princípios para nortear os pontos de vista de tais aulas.
“Ao longo desses anos, temos buscado acompanhar o processo de implementação da lei, do conteúdo. De dez anos para cá, percebemos um maior conhecimento, uma efetivação mais palpável das diretrizes”, pontua Reis Silva. “Avançamos, mas ainda temos muito o que avançar. Muitos professores, sobretudo de cidades pequenas do interior, ainda não têm acesso aos cursos de formação e aos materiais.”
Para Arthur dos Reis, a lei trouxe a questão para o centro do debate. Mas há ainda muitas lacunas e o novo ensino médio, instituído a partir deste ano, falha porque dificulta que o assunto seja contemplado em seus percursos.
De forma geral, o historiador avalia como positiva a legislação mas sente falta de uma visão mais abrangente da história africana. “Não existe efetivamente uma historiografia conectada entre os povos [do continente, como há na Europa]. Parece que não se consegue depreender uma conexão, ainda é algo fragmentado”, comenta.
Co-autor do livro Dicionário de História de África e autor de, entre outros, O Pensamento Africano no Século 20 , o historiador José Rivair Macedo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros, Indígenas e Africanos (NEAB), recorda que é preciso retroceder 30 anos para contextualizar a política pública de ensino de história africana e afro-brasileira nas escolas.
“Até então as relações raciais existentes no Brasil eram entendidas pelo modelo da mestiçagem, pela democracia racial”, comenta ele. “Em 1995, em vitória dos movimentos negros e sociais, a política racial passou a ser entendida como política pública.” Para ele, a lei de 2003 é consequência desse episódio.
Mesmo duas décadas depois da obrigatoriedade,”ainda há resistência por parte de alguns professores. Alguns têm uma visão distorcida sobre a África, particularmente aqueles ligados a igrejas neopentecostais que argumentam terem o direito de não ministrar esse conteúdo ‘porque fala da religião do diabo’ [referindo-se assim pejorativamente a religiões de matriz africana]. A gente se depara ainda com situações como essas. São problemas de várias ordens, inclusive professores que não entendem a própria realidade”, salienta a historiadora Tatiana Raquel Reis Silva, professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Com conteúdo de dw.com
ETEC COTIA ESTÁ COM INSCRIÇÕES ABERTAS PARA PROCESSO SELETIVO
21 de novembro de 2024STF INVALIDA LEI QUE PROÍBE LINGUAGEM NEUTRA EM ESCOLAS DE VOTORANTIM
19 de novembro de 2024CONHEÇA O PROJETO ESTADUAL PARA RETIRADA DE CELULARES NAS ESCOLAS
18 de novembro de 2024
More News
-
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS FICA MAIS FÁCIL E SEGURA COM AUTORIZAÇÃO GRATUITA EM CARTÓRIO
12 de abril de 2024 -
10 FATOS DO AUTISMO NO BRASIL QUE MARCARAM O ANO EM 2023
16 de janeiro de 2024 -
“STREET SKATE”: RAYSSA LEAL E GIOVANNI VIANNA SÃO CAMPEÕES DO SLS
4 de dezembro de 2023