HÁ 50 ANOS, MILTON NASCIMENTO LANÇAVA O “CLUBE DA ESQUINA”

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O álbum Clube da Esquina, gravado entre 1971 e 1972 na Emi-Odeon, é composto por dois discos, fato raro para a época, somando 63 minutos e 13 segundos de música. Ele contém 21 canções e, excentuando-se duastodas são compostas e interpretadas por um grupo de jovens músicos mineiros ainda desconhecidos. Eles dão origem ao movimento musical conhecido pelo título do álbum, em alusão ao ponto de encontro desses jovens na esquina das Ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Teresa, Belo Horizonte.

A iniciativa de produção do álbum é de Milton Nascimento (1942), naquele momento reconhecido como compositor, intérprete e autor de quatro LPs. Ele reúne amigos e parceiros mineiros para dar expressão a uma obra coletiva. Em uma casa alugada em Niterói, Rio de Janeiro, ensaiam canções compostas por Milton, os irmãos Márcio (1946) e Lô Borges (1952), Fernando Brant (1946-2015) e Ronaldo Bastos (1948). Vários instrumentistas participam dos ensaios e da gravação em estúdio, muitos deles da banda Som Imaginário, como Robertinho Silva (1941) na bateria, Wagner Tiso (1945) nos teclados, Luiz Alves (1944) no baixo, Tavito (1948) no violão, Laudir Oliveira (1940) na percussão, Toninho Horta (1948) na guitarra. Há, ainda, Beto Guedes (1951) no violão e na guitarra, Nelson Angelo (1949) no violão e Paulinho Braga nas percussões. Os arranjos são de Wagner Tiso e Eumir Deodato (1943). Grande parte das canções é interpretada por Milton Nascimento, mas cantam também Lô Borges e Beto Guedes. Alaíde Costa (1935) participa na regravação, em novo arranjo, do samba “Me Deixa em Paz” (1951), sucesso de Linda Batista (1919-1988) composto por Monsueto Menezes (1924-1973) e Airton Amorim (1921).

As canções acabam consagradas pela crítica e introduzidas no cancioneiro da moderna música popular, como “Tudo que Você Podia Ser”, “Cais”, “O Trem Azul”, “Cravo e Canela”, “Um Girassol da Cor de seu Cabelo”, “San Vicente”, “Um Gosto de Sol” e “Nada Será Como Antes”. A novidade musical que apresentam, confere ao álbum lugar de destaque na produção cultural do país.

Na época do lançamento do álbum, movimentos das década anteriores, como bossa nova, tropicalismo, MPB e jovem guarda, não apresentam mais a força original e alguns de seus protagonistas trilham novos caminhos. Além disso, o país vive sob ditadura militar, e a censura controla a ordem social e política do país. Embora o momento seja pouco favorável às novas experiências, o clima cultural internacional dos movimentos jovens aponta para a necessidade de experimentalismos. Nessas circunstâncias, o álbum Clube da Esquina surge como inovação, e Milton Nascimento consolida-se como intérprete e influente compositor. Com uma escuta aberta, as composições e arranjos transitam pela cultura regional mineira e pelos gêneros tradicionais da música brasileira. Sofrem influência do rock, do jazz, do jazz-rock, da bossa nova,  além de prenunciarem o diálogo com a música latino-americana. A riqueza da obra está nesse intercâmbio de gêneros, com criatividade nos arranjos, que deixam de ter papel coadjuvante ou introdutório das canções. Revela-se, também, no desempenho de jovens músicos que ousam em construções melódicas, progressões harmônicas e improvisos. E, por fim, aparece nas interpretações vocais – sobretudo a de Milton –, que alcançam a dimensão instrumental mais comum no jazz do que na música popular brasileira.

Várias canções foram regravadas por músicos nacionais – como Elis Regina (1945-1982), Nana Caymmi (1941), Simone (1949) e Joyce Moreno (1948) – e internacionais – como a argentina Mercedes Sosa (1935-2009), a portuguesa Eugénia Melo e Castro (1958) e os norte-americanos Wayne Shorter (1933), Herbie Hancock (1940) e Sarah Vaughan (1924-1990). A cantora brasileira Vânia Bastos (1956) reinterpreta parte do álbum em Vânia Bastos Canta Clube da Esquina (2002).

 

Faixas

Disco 1

  1. “Tudo que Você Podia Ser” (Lô Borges, Márcio Borges)
    2. “Cais” (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
    3. “O Trem Azul” (Lô Borges e Ronaldo Bastos)
    4. “Saídas e Bandeiras” (Milton Nascimento, Fernando Brant)
    5. “Nuvem Cigana” (Lô Borges e Ronaldo Bastos)
    6. “Cravo e Canela” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
    7. “Dos Cruces” (Carmelo Larrea)
    8. “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” (Lô Borges, Márcio Borges)
    9. “San Vicente” (Milton Nascimento, Fernando Brant)
    10. “Estrelas” (Lô Borges e Márcio Borges)
    11. “Clube da Esquina n. 2” (Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges)

Disco 2

  1. “Paisagem da Janela” (Lô Borges, Fernando Brant)
    2. “Me Deixa em Paz” (Monsueto, Ayrton Amorim)
    3. “Os Povos” (Milton Nascimento, Márcio Borges)
    4. “Saídas e Bandeiras” (Milton Nascimento, Fernando Brant)
    5. “Um Gosto de Sol” (Milton Nascimento, Fernando Brant)
    6. “Pelo Amor de Deus” (Milton Nascimento, Fernando Brant)
    7. “Lilia” (Milton Nascimento)
    8. “Trem de Doido” (Lô Borges, Márcio Borges)
    9. “Nada Será Como Antes” (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
    10. “Ao Que Vai Nascer” (Milton Nascimento, Fernando Brant)

(Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural)

FOTO DA CAPA É CONTROVERTIDA

Desde o lançamento, havia a crença que os meninos que ilustravam a capa do LP seriam Milton Nascimento e Lô Borges.

Em 2012, quando da comemoração dos 40 anos de lançamento do disco, José Antonio Rimes e Antonio Carlos Rosa de Oliveira, que eram crianças em 1972, processaram os músicos, a gravadora EMI e a editora Abril, pela foto, uma vez que apenas naquele ano tomaram conhecimento do uso da imagem, indevidamente, segundo consta.

A advogada dos dois autores da ação afirmou que há a possibilidade da Justiça determinar a retirada de todos os exemplares do disco que ainda estão à venda, além da condenação pelo pagamento da utilização indevida das imagens.