Artigo publicado no Metrópoles aborda a falta de compromisso dos candidatos com relação ao tema “mudanças climáticas” e enfatiza que essa questão não é mais ameaça futura, porque já afeta o nosso dia a dia. E essa ameaça não é só nossa: é global, com mudanças significativas nos biomas – no Brasil, nossos rios e lagos estão mais secos, diminuindo os espelhos d´água.
Por Eduardo Fernandez, 23 de agosto – 2022
Há muito tempo a questão das mudanças climáticas já deixou de ser ameaça futura, pois já afeta nosso dia a dia
Ainda há aqueles que não acreditam no que diz a ciência: a mudança climática é real e seus custos, já altíssimos, aumentarão ainda mais. No Brasil, em véspera de eleições, os candidatos tocam no tema de forma genérica e superficial – alguns nem o mencionam! –, sem propor medidas concretas para mitigar o problema ou nos adaptarmos. Além de triste, trata-se de perder as oportunidades que conformarão as sociedades nas próximas décadas! Noutras palavras, trata-se de comprometer nosso futuro!
Há muito tempo a questão das mudanças climáticas já deixou de ser ameaça futura, pois já afeta nosso dia a dia.
Hoje, a China vive uma das maiores secas de sua história. O fluxo de água no rio Yangtsé, o terceiro maior do planeta, que fornece água para 400 milhões de pessoas, é a mais vital via navegável do país e abastece milhares de indústrias, está a menos da metade da média dos últimos cinco anos. Fábricas como a Toyota e a Tesla, entre outras milhares, fecharam. Enquanto a demanda por eletricidade aumentou em 25%, em razão do calor extremo, a geração de energia na província de Sichuan foi reduzida, já que depende em mais de 80% de hidroelétricas.
A China, todos sabemos, está longe de nós, brasileiros, mas – grande novidade! – fica no mesmíssimo planeta. E as secas, as enchentes, o calor e o frio extremos não se limitam àquele país. A Europa sofre neste ano um verão dos mais quentes, com secas e incêndios em amplas regiões. Lá, os rios Tâmisa, Reno e Loire estão com nível de água baixíssimo, e cerca de 600km de vias navegáveis francesas foram fechadas. Nos EUA, incêndios, ciclones, secas e enchentes ocasionaram, desde 1980, perto de dois trilhões de dólares em prejuízos, além de milhares de mortes. Na Nova Zelândia, a primeira ministra diz que o país não está preparado para as grandes enchentes que se tornaram o “normal”.
E no Brasil? Aqui, o Pantanal e outros biomas mínguam e os governos enrolam… A geração de energia limpa cresceu mas, embora necessária, trata-se de medida tímida, não articulada a outras com dimensão proporcional ao problema. Afinal, também aqui temos sofrido secas, enchentes, incêndios e outros, além do fato de que nossos rios e lagos estão mais secos. Desde 1985, a área dos seus espelhos d’água foi reduzida em cerca em 16%, e essa observação não motivou medidas na grandeza compatível com a dimensão do problema. Aliás, parece que sequer provocou preocupação em qualquer dos três Poderes e nem mesmo entre empresários dos mais variados setores. Como se qualquer deles possa continuar a existir com grande escassez de água!
Uma generalização – falsa, como todas – diz que o brasileiro deixa tudo para amanhã! Nem todos os brasileiros agem sempre assim, mas parece que nossos dirigentes preferem não enxergar quão diferente do passado o presente já se tornou, buscam soluções ultrapassadas para problemas novos e não preparam o país para o futuro. Com dirigentes de dimensão tão pequena, sofre a população!
Artigo cedido pelo autor, Eduardo Fernandes, e publicado originalmente no Metrópoles. Acesse o artigo no Metrópoles:
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