NO DIA MUNDIAL DA POESIA: BAPTISTA CEPELLOS, NOSSO POETA, É ESQUECIDO

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Cotiano, Baptista Cepellos ou Batista Cepelos raramente é notícia em sua cidade natal. Hoje, Dia Mundial da Poesia, cumpre lembrá-lo.

Cotia tem uma história bonita, mas pouco lembrada ou explorada.

Sede de duas Casas Bandeiristas que só são lembradas em época de política porque estão constantemente abandonadas, caminho de tropas, importante refúgio quando da briga entre os Camargos e os Pires na Capital, que resultou no abrigo de uma parte da família Camargo em Cotia (à época formada por  Barueri, Jandira, Embu das Artes, Vargem Grande Paulista), nosso município foi berço, também, da família do padre Diogo Feijó, que foi regente do Império.

Mas não só. Hoje, dia Mundial da Poesia, é dia de lembrar o esquecido Batista Cepelos, ou Manuel Baptista Cepellos, poeta, tradutor, romancista e teatrólogo brasileiro, nascido em Cotia no dia 10 de dezembro de 1872, e falecido no Rio de Janeiro em 8 de maio de 1915. Além de sua carreira literária, ele trabalhou como policial, advogado e promotor público.

Cepellos destacou-se principalmente por suas traduções de poetas como Stéphane Mallarmé, Francisco de Góngora e Paul Verlaine, sendo um dos primeiros a traduzir Mallarmé no Brasil2. Sua obra poética mescla criações próprias e traduções, com traços simbolistas e parnasianos.

Entre suas principais obras estão:

  • “A Derrubada” (1896) – poesia;
  • “O Cisne Encantado” (1902) – poesia;
  • “Os Bandeirantes” (1906) – poesia, com prefácio de Olavo Bilac;
  • “Vaidades” (1908) – poesia, com prefácio de Araripe Júnior;
  • “O Vil Metal” (1910) – romance realista.

Verdade que o poeta foi homenageado com um busto no Paço Municipal, uma biblioteca com seu nome, uma rua e uma escola estadual.

Mas sua obra permanece desconhecida dos cotianos –nunca as escolas municipais ou estaduais promovem eventos para marcar sua existência, seu nascimento ou morte.

VIDA CONTURBADA

O nosso poeta foi inicialmente miliciano da Força Pública paulista, tendo os estudos de Direito financiados pelo senador Peixoto Gomide, e a convivência levou o escritor a apaixonar-se pela filha do senador. 

O casamento foi marcado, mas o político repentinamente assassinou a filha e, em seguida, se suicidou, revelando antes que os noivos podiam ser irmãos. 

O escritor, chocado, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Em 1915, foi nomeado promotor público para Cantagalo, localidade do interior do estado do Rio de Janeiro.

Tentara, por três vezes sem êxito, ingressar na Academia Brasileira de Letras. No mês da inauguração do Teatro Trianon, a Companhia de Cristiano de Sousa levou à cena a peça Maria Madalena, tendo feito onze apresentações, incluindo um festival de homenagem ao poeta-dramaturgo agendado para o dia 10 de maio que acabou não ocorrendo.

Cepelos foi encontrado morto junto às pedras da praia que existia na rua Pedro Américo, no Catete. 

Não se sabe, até hoje, se teria se suicidado ou caído acidentalmente, pois era míope.

Uma curiosidade sobre o poeta, é que o espiritualista Francisco Xavier teria psicografado e publicado um poema de sua autoria, publicando-o em livro.

Está na hora da Secretaria de Cultura resgatar esse ícone da poesia brasileira e mostrar a sua importância para seus conterrâneos.

Leia a seguir algumas poesias de Cepellos:

 

RESIGNAÇÃO

Este Anjo do Infortúnio, que me guia
Desde o primeiro albor da tenra idade,
E os lírios roxos da melancolia
Desfolha sobre a minha mocidade…

Este, que me acompanha e me vigia,
Sorrindo-me um sorriso de bondade,
E, na dor, que é o meu pão de cada dia,
Me fortalece contra a iniqüidade…

Este, bendito seja, enquanto eu vivo,
A debater-me em trevas horrorosas,
Como um ansioso pássaro cativo!

E que, sobre o meu túmulo, tristonho,
Distenda as asas misericordiosas,
Quando eu sonhar aquele Grande Sonho…

NAS ONDAS DE UNS CABELOS

Soltas, ombros abaixo, os revoltos cabelos,
Que te envolvem num longo e veludoso abraço;
E, como um rio negro, os seus negros novelos
Rolam no vale em flor do teu brando regaço.

E, na louca embriaguez dos meus sentidos, pelos
Cinco oceanos do Sonho o meu roteiro faço,
A senti-los na mão, beijá-los e mordê-los,
Até morrer de amor, sucumbir de cansaço!

E, pousando a cabeça em teu seio, que estua,
Sinto um sono ligeiro, um sussurro de brisa,
Que me suspende ao céu e pelo céu flutua…

E, num sonho feliz, como num mar profundo,
A minha alma desliza, a minha alma desliza,
Como as Naus de Colombo, a procura de um Mundo

 

ECCE HOMO

Trazendo à Natureza uma pujança brava
A doirada sazão do viço e da alegria,
Dispersada por tudo, a Vida triunfava,
Enquanto o Sol, por toda a esfera, ria… ria…

Ria de flor em flor; no inseto que passava,
Ria; nas virações, no azul, na pedra fria,
No pássaro gentil, na furna esconsa e cava,
Ria; por toda parte, em suma, ria… ria…

E o Rei da Criação, o Homem, pausado e lento,
Cravou o olhar no céu, numa grande tristeza,
Que era a sombra talvez de um grande pensamento…

E, alto, na solidão, que lhe aumentava o porte,
Em meio às expansões joviais da Natureza,
Ele tinha na fronte a palidez da morte…
(Da redação – Antonio Melo – Imagem pública)